Isabel foi beatificada neste sábado, 10Reprodução/Vatican News
Em sua homilia, Dom Raymundo Damasceno citou uma passagem evangélica da liturgia do dia em que Jesus diz a seus Apóstolos: "Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma", em referência a tortura de Isabel. Citando Santo Oscar Romero, Bispo e mártir salvadorenho, disse: "O martírio é uma graça de Deus, que eu não mereço. Com o sacrifício da minha vida, espero que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se tornará realidade".
Os familiares e o irmão de Isabel, Paulo Roberto Mrad Campos, estavam presentes à cerimônia que reuniu cerca de 10 mil fiéis no Parque de Exposições de Barbacena. "O martírio de Isabel Cristina nos leva também a pedir a Deus a graça de que as mulheres sejam respeitadas em sua dignidade; que cessem a exploração e os crimes sexuais contra as mulheres; que cesse o feminicídio! Não tenhamos medo de romper as cadeias da violência e da opressão", afirmou Dom Raymundo Damasceno, de acordo com a Arquidiocese de Mariana.
Isabel Cristina Mrad Campos nasceu em 29 de julho de 1962, em Barbacena. Mudou-se para Juiz de Fora em 1982, para se preparar em um curso pré-vestibular. Seu desejo era fazer medicina e tornar-se pediatra. Filha de uma família católica vicentina, levava uma vida normal e participava de atividades da igreja.
No dia 1º de setembro de 1982, um homem foi montar um guarda-roupa no apartamento para onde havia se mudado com o irmão, Paulo Roberto. O homem tentou violentá-la. Ela levou uma cadeirada na cabeça, foi amarrada, amordaçada e teve suas roupas rasgadas. Isabel resistiu o quanto pôde e foi morta com 15 facadas.
Pela forma violenta como morreu e por sua vida de fé, uma campanha por sua beatificação foi iniciada. A solicitação foi aceita pelo Vaticano e, no dia 26 de janeiro de 2001, em Barbacena, foi instalado o processo, quando Isabel Cristina recebeu do Vaticano o título de Serva de Deus. "Isabel Cristina afirmou: 'é preciso resistir ao mal, custe o que custar' E custou a vida dela. Por isso, nós agradecemos a Deus o testemunho de fé desta jovem", disse o coordenador geral da cerimônia, Monsenhor Danival Milagres Coelho, de acordo com a Arquidiocese de Mariana.
Beatificação no Crato
Em outubro, outra jovem brasileira morta de forma violenta foi beatificada. A cearense Benigna Cardoso da Silva foi beatificada no Crato, no sertão do Ceará, pelo cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, que representa o papa Francisco. Benigna foi brutalmente assassinada aos 13 anos, em 1941, por um rapaz que a assediava. Ela é venerada por fiéis como um mártir da pureza e da castidade.
Ainda com 12 anos de idade, Benigna começou a ser assediada por Raul Alves, quatro anos mais velho que ela. Os dois estudavam no mesmo colégio e o rapaz começou a persegui-la. Benigna recorreu ao então pároco da cidade, o padre Cristiano Coelho, para falar do assédio. Ele a aconselhou a ir estudar na sede do município e lhe presenteou com uma Bíblia que, segundo sua biografia, tornou-se o seu livro de cabeceira.
Em 24 de outubro de 1941, Benigna foi ao poço com seu pote para pegar água e Raul estava à espreita, perseguindo ela. O jovem tentou estuprá-la e, com a resistência de Benigna, a matou.
"Ela rejeitou por ver no ato uma ofensa a Deus e, em consequência, ele a golpeou várias vezes com facão, tirando a sua vida. Desde então, ela é invocada como mártir, heroína da castidade, mártir da pureza", disse Danilo Sobreira, coordenador de Pastoral da Paróquia Senhora Sant’Ana de Santana do Cariri, cidade natal de Benigna, à agência Vatican News.
Raul Alves foi preso, ficou numa casa para recuperação de menores em Fortaleza, até chegar à maioridade. Ele cumpriu pena e voltou ao local do crime 50 anos depois para pedir perdão à família de Benigna.
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