Flávio DinoValter Campanato/Agência Brasil
Durante o programa “Boa Tarde Brasil”, Luiz Antônio Beck atacou Flávio no momento em que comentaristas discutiam a possibilidade do seu irmão e subprocurador-geral da República, Nicolau Dino, substituir Augusto Aras no cargo de procurador-geral da República.
Na sequência, os participantes do programa entram em um debate sobre o número de pessoas que estão, atualmente, passando fome no Brasil. Uma das pessoas chega a relacionar o número de brasileiros que não têm garantido o que comer com a quantidade de pessoas que tiveram Covid-19.
“Soube que em uma rádio do RS se dedicaram a comentários agressivos, preconceituosos e criminosos contra mim. Espero retratação. De todo modo, adianto que não invejo a esqualidez de pessoas que precisam de Código Penal, Código de Ética e um espelho”, escreveu na sua conta oficial do Twitter.
Malu Jimenez, filósofa e professora pesquisadora doutora em Cultura Contemporânea que desenvolve estudos sobre o estigma da gordofobia, afirma que a fala do advogado fomenta o discurso de ódio gordofóbico na sociedade.
“Relacionar o tamanho de um corpo ao quanto ele come é extremamente gordofóbico, violento e isso deveria estar criminalizado para este advogado ser punido pelo o que ele falou. Isso é muito ruim porque acaba fomentando o discurso de ódio contra as pessoas gordas. Pessoas que seguem ele ou que estavam ouvindo o programa acabam normalizando esse tipo de violência”, pontuou.
Ela ressaltou que os outros comentaristas, ao não se posicionarem contra o discurso gordofóbico, também contribuíram com a fala preconceituosa.
Discurso nocivo para pessoas gordas
Autora do livro “Lute Como Uma Gorda”, ela também pontua que aspas como as proferidas por Luiz Antônio são extremamente nocivas para as pessoas gordas, que são maioria entre a população brasileira.
“Nós somos 57% da população no Brasil. Imagina todas essas pessoas gordas escutando o que esse senhor proferiu como ódio gordofóbico ao ministro. Então, todas as pessoas gordas, de alguma maneira, se sentem ofendidas e violentadas quando ele profere discurso de ódio”, disse.
De acordo com Malu, que estuda corporalidades gordas e gordofobia desde 2014, mesmo diante da ascensão deste debate, ainda há a necessidade de combate a esse preconceito em diversas esferas sociais.
Gordofobia é uma prática que ainda não é considerada crime no Brasil. Contudo, ofensas como as proferidas pelo advogado podem ser enquadradas como injúria e danos morais, que são da esfera criminal e cível, respectivamente.
“É importante e urgente criar políticas públicas para criminalizar a gordofobia, para que a gente pare de patologizar esses corpos, hierarquizando eles com inferiores, para que a gente avance nesse debate”, completou a docente.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.