Vítimas do avanço do garimpo ilegal, indígenas yanomami são vítimas de fome, destruição e morte. Quase cem crianas morreram Divulgação/ Ministério da Saúde

A Polícia Federal abriu uma investigação, nesta terça-feira (24), por "genocídio" contra indígenas Yanomami, após um relatório revelar a morte de uma centena de crianças por desnutrição e outras causas, uma situação que levou o governo Lula a dispensar 43 militares da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
"Determinei ontem a abertura de um novo inquérito policial para apurar se houve genocídio", informou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, à CNN Brasil. "Há indícios muito fortes de negativa de assistência nutricional e de saúde dessas populações indígenas. Há evidência de que houve intenção", completou.
O governo revelou no sábado, 21, que 99 crianças Yanomami menores de 5 anos morreram no ano passado na maior reserva indígena do Brasil por desnutrição, pneumonia e malária, entre outras causas.
Em uma visita na semana passada, as autoridades descobriram diversos casos de menores com desnutrição grave, malária, infecções respiratórias e outras complicações. O governo declarou emergência sanitária no território Yanomami.
A investigação, que aponta ações e omissões de servidores públicos e ex-funcionários da Saúde em terras Yanomami, também abrangerá supostos crimes ambientais e desvio de recursos públicos.
Lula, que iniciou seu terceiro mandato na Presidência em 1º de janeiro, descreveu um cenário "desumano" após uma visita a Roraima no sábado.
Entre os estados de Roraima e Amazonas estende-se a Terra Indígena Yanomami, de 96 mil km², onde vivem cerca de 30.400 indígenas.
A violência cresceu na região, palco constante de confrontos entre garimpeiros e indígenas, que denunciam a crescente contaminação e depredação do território nos últimos anos.
Associações e indígenas apontam como responsável Jair Bolsonaro, que defendeu o garimpo e a exploração agrícola em terras indígenas e questionou o alcance das terras protegidas no Brasil.
O governo recém-empossado decidiu, entretanto, dispensar 43 militares nomeados para a Funai durante o governo Bolsonaro. As dispensas alcançam militares que haviam sido nomeados por Marcelo Xavier, um delegado da polícia federal que presidiu a Funai entre julho de 2019 e dezembro de 2022.
As dispensas, publicadas na segunda-feira, 23, em uma edição extra do Diário Oficial da União, foram comemoradas por Sônia Guajajara, titular do recém-criado ministério dos Povos Indígenas.
Os funcionários tinham "uma orientação totalmente contrária" à proteção dos direitos indígenas, acusou Guajajara.
Durante a gestão de Xavier, indicado por Bolsonaro, a Funai tomou medidas que "atrasaram a demarcação de terras" e levaram "instabilidade" aos povos indígenas, informou, em nota, a pasta chefiada por Guajajara.