Os chips não funcionam na área da terra YanomamiMarcello Casal Jr/Agência Brasil
Governo envia chips de celular para ajuda à área Yanomami, em que não há sinal
Na região, a única forma de conexão viável se dá via satélite
Brasília - O Ministério das Comunicações enviou mil chips de celular para serem utilizados em operações humanitárias que acontecem na terra indígena Yanomami, em Roraima, mas não há cobertura de operadora de celular na área, localizada a 230 quilômetros de distância de Boa Vista.
A informação foi confirmada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). "A região fica em local isolado sem atendimento das prestadoras móveis, que têm obrigações de atendimento nas sedes municipais, localidades e aglomerados urbanos", declarou o órgão de fiscalização, por meio de nota. O governo alega que os chips podem ser usados nas bases das equipes.
No dia 9, o ministro Juscelino Filho pegou um helicóptero e, ao lado do governador de Roraima, Antonio Denarium, saiu de Boa Vista e sobrevoou a terra indígena. Foram três horas de voo e de tentativas de descer no local, mas o mau tempo impediu a aproximação. Nas suas redes sociais, divulgou os atos e afirmou que cumpria uma solicitação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que convocou os ministros a ajudar na crise Yanomami.
Na sexta-feira, 10, o ministro fez o anúncio sobre o envio dos chips ao lado do presidente dos Correios, Fabiano Silva, com o objetivo de "facilitar a comunicação entre as equipes que prestam assistência nas terras indígenas Yanomami, localizadas entre os Estados de Roraima e Amazonas". Em comunicado conjunto, declararam que os dispositivos "dão acesso à internet, fornecendo conexão aos grupos que precisam se comunicar em meio aos trabalhos de assistência aos indígenas".
Na prática, o uso dos chips se mostra limitado porque, dentro da terra indígena Yanomami, a única forma de conexão viável se dá via satélite. Não por acaso, o próprio Ministério das Comunicações formalizou, em parceria com a Eletrobras, a instalação de 17 antenas móveis dentro do território dos indígenas. Elas permitirão o acesso à internet sem fio por meio de satélite, usando qualquer tipo de aparelho, como celulares e computadores.
Isso significa, portanto, que os usuários farão uso de aparelhos celulares que já possuem para se conectar à rede aberta, ou seja, sem ter a necessidade de utilizar um novo chip ou mesmo de ter um dispositivo.
Essenciais
No anúncio da parceria com o ministério, o presidente dos Correios, Fabiano Silva, disse que seus chips seriam "essenciais" para as ações dos grupos. "Nesses momentos de crise, todo apoio possível será feito. Com os chips Correios Celular, garantiremos agilidade na comunicação, o que facilitará a coordenação dos trabalhos de assistência", disse.
No evento, o ministro reforçou a ideia. "Estamos empenhando todos os esforços para auxiliar no atendimento a essa crise que assolou os Yanomami e chocou o mundo", disse Filho. "Já enviamos 17 antenas com conexão banda larga via satélite, livre e gratuita, e agora estamos enviando, com os Correios, chips para reforçar a comunicação."
Desde 2017, os Correios atuam como um tipo de "operadora virtual" de telefonia. Na região de Boa Vista, a estatal faz a locação da estrutura que é fornecida pela empresa Surf Telecom, que, por sua vez, aluga a rede de telefonia móvel da operadora TIM. Isso significa que qualquer celular com chip do Correios Celular só vai funcionar se estiver na área em que a TIM tiver cobertura, o que não inclui a terra Yanomami.
Em Boa Vista, é comum a situação de queda dos serviços de telecomunicações, que ficam sobrecarregados e, muitas vezes, passam horas fora do ar, seja para telefonia ou para internet. Essa situação ocorreu, por exemplo, no dia 1.º, quando os serviços ficaram completamente paralisados por cerca de três horas.
Governo nega que item seja desnecessário
O Ministério das Comunicações e os Correios declararam, em nota conjunta, que "os chips foram enviados para facilitar a comunicação entre as equipes humanitárias e de apoio que estão prestando assistência à população". O órgão negou que os itens sejam desnecessários. "Naturalmente, a localização dessas equipes é dinâmica, entretanto, suas bases possuem a cobertura do serviço. Portanto, a informação de que os chips não funcionam não é verdadeira", afirmou.
Questionados a respeito do custo dos itens, a pasta e os Correios declararam que, "nesta ação específica que tem o objetivo de auxiliar na comunicação das equipes que trabalham na ação humanitária coordenada pelo governo federal, os chips não tiveram custo para os Correios" e cada componente recebeu R$ 40 de crédito "para serem utilizados pelas equipes".
A reportagem questionou a operadora TIM sobre a sua capacidade de suportar, em Boa Vista, a eventual demanda de tráfego de dados de 1 mil novos chips oferecidos pela estatal. A TIM limitou-se a declarar que "fornece infraestrutura para áreas onde tem cobertura de rede", sem esclarecer o questionamento.
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