Gladson Cameli é alvo de investigação da Polícia FederalGeraldo Magela / Senado Federal
PF liga alvo da Operação Sanguessuga a governador do AC em esquema de fraudes
Dois integrantes do primeiro escalão do governo estadual são investigados
São Paulo - O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), que teve o passaporte e bens apreendidos na terceira etapa da Operação Ptolomeu III, nesta quinta-feira, 9, não é o único integrante do governo estadual alvo da ofensiva que apura supostos desvios no bojo de obras de infraestrutura de unidades de saúde e escolas.
A relatora da investigação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Nancy Andrighi, também impôs medidas cautelares alternativas ao Secretário de Obras Públicas, Cirleudo Alencar de Lima, e ao chefe da Representação do Governo em Brasília, Ricardo Augusto França da Silva — eles foram afastados, não podem entrar em órgãos públicos do estado em que trabalham ou se comunicar com outros investigados.
Ricardo Augusto França da Silva é aliado de longa data de Cameli. Entre 2015 e 2018 atuou como assessor parlamentar do hoje governador quando este era senador. Em 2019, o advogado assumiu o órgão acreano tido como "braço do governo" em Brasília.
Em 2006, Ricardo França chegou a ser alvo da Operação Sanguessuga, que investigou uma quadrilha formada por ex-parlamentares, assessores, empresários e funcionários do Ministério da Saúde e acusada de vender ambulâncias superfaturadas por meio de licitações fraudadas para prefeituras de oito Estados.
O rombo aos cofres públicos foi de R$ 110 milhões do Orçamento Geral da União, conforme as investigações da Polícia Federal e Ministério Público Federal. Ao todo, 81 pessoas foram acusadas de pertencer ao grupo responsável pelos desvios, respondendo na Justiça às imputações de formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
A Operação Sanguessuga foi aberta em maio de 2006. Seis meses depois estourou o caso dos "aloprados do PT", quando integrantes do partido foram presos pela PF ao tentarem comprar um dossiê contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Quando estourou o escândalo, Lula, que concorria à reeleição, chamou o grupo de "bando de aloprados". A Justiça rejeitou denúncia apresentada pela Procuradoria sobre os 'aloprados'.
Agora, Ricardo França é alvo de uma ofensiva que mira supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a cúpula do Governo do Acre. Entre os elementos que colocaram a PF no rastro do suposto esquema de desvios em contratações na Saúde e Infraestrutura está um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontando vinte comunicações de movimentações financeiras suspeitas envolvendo o governador do Acre. As transações notificadas ultrapassam a marca de R$ 828 milhões.
O ponto de partida das apurações foi uma gravação, obtida a partir de interceptação telefônica, que sugere que o governador teria sido destinatário de R$ 70 mil em propinas. Ao pedir autorização do STJ para fazer buscas contra o governador, a Polícia Federal chegou a levantar suspeitas sobre o uso de agentes das Forças de Segurança para movimentar valores em espécie com origem supostamente irregular.
Já entre as informações que deram fundamento para a segunda fase da operação está uma gravação feita por câmeras de segurança de um hotel em Cruzeiro do Sul, município a 636 quilômetros de Rio Branco. O vídeo mostra o momento em que assessores de Camelli escondem um celular para evitar que ele fosse apreendido durante buscas da primeira fase da Ptolomeu.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação do governo do Acre em busca de posicionamento do chefe da Representação do Governo em Brasília. O espaço está aberto para manifestações.
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