Em audiência marcada por insultos, Dino rebate acusação de processos: 'É o mesmo que falar Terra plana' Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados para ouvir o ministro da Justiça, Flávio Dino, virou um embate entre oposição e o governo. Parlamentares lotaram o plenário 1 na tarde desta terça-feira (28), e trocaram insultos, deboches e provocações. O ministro foi protagonista de um bate-boca com o deputado André Fernandes (PL-SP), após ser acusado pelo parlamentar de ter 277 processos como réu. 
O debate trouxe temas sobre armamento, os ataques golpistas do 8 de janeiro e a visita de Dino ao Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, há pouco mais de duas semanas. A oposição retrucou, cobrando de Dino explicação de como conseguiu visitar uma região no Rio dominada pelo tráfico sem ir com segurança reforçada. 

No caso da visita à Maré, as cobranças vieram dos deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), que questionaram se houve algum acordo com organização criminosa para a ida à favela carioca. Dino reagiu com deboche à maioria das perguntas.

Ao responder Ramagem, Dino disse que não lembrava o nome do parlamentar, e depois afirmou "Agora, a oposição acha que fui encontrar o Comando Vermelho e avisei a polícia antes. É esdrúxulo".

O ministro também foi cobrado por sua conduta no dia 8 de janeiro, data dos atos golpistas em Brasília. Deputados de oposição mostraram mensagens escritas por Dino no dia da invasão dos prédios públicos em que o ministro dizia estar vendo a baderna da janela do prédio do Ministério da Justiça. O ministro argumentou que a segurança de Brasília era de competência da Polícia Militar do DF e não da Polícia Federal que é subordinada à sua Pasta.

O deputado André Fernandes (PL-CE), autor da Comissão Parlamentar Mista (CPMI) dos atos golpistas do 8 de janeiro, protagonizou uma das principais discussões, quando fez ataques ao PT e ao ministro. Fernandes disse que, na plataforma JusBrasil, Dino responderia a mais de 200 processos.
O ministro rebateu com risos e provocações. Ele lembrou que Fernandes é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e associou a fala do JusBrasil à crença na Terra plana. "Eu sou professor de Direito. Vou contar para os meus alunos como anedota, como piada", disse. "Não respondo a nenhum processo, diferente de você."


O entrevero começou quando Dino disse para Fernandes não quebrar o microfone. Os oposicionistas protestaram, interrompendo a resposta do ministro. "Parece que o jardim de infância foi aberto e tomou a conta da CCJ", afirmou Orlando Silva (PCdoB-SP)

Os risos do ministro foram mencionados constantemente pela oposição como um "desrespeito ao Congresso". "Eu respeito o Congresso. Mas respeitem também o governo", afirmou Dino.

Congressistas da oposição manifestam há semanas o descontentamento com o requerimento feito pelo ministro ao STF para incluir sete parlamentares no inquérito das fake news pela associação da visita à Maré ao crime organizado. Ele também acionou os conselhos de ética da Câmara e do Senado.

Dino argumentou que o requerimento foi apresentado ao STF como reação a fake news em que diziam que ele foi a Maré se encontrar com o Comando Vermelho. O ministro foi à comunidade a convite da ONG Redes da Maré, para participar do lançamento da 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré. 
Rosângela Moro (União-SP), esposa do senador Sérgio Moro (União-PR), cobrou explicações sobre a ameaça de morte que sua família sofreu e classificou as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que declarou que queria "foder" Moro - como "desumanas". Dino se defendeu dizendo que todas as operações tiveram a anuência de Lula e que a prova da confiança é que ele não foi demitido.

A audiência terminou sem que o ministro conseguisse responder a todas as perguntas por conta de novo tumulto entre os parlamentares. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) defendeu que a comissão de Segurança Pública poderá fazer um novo chamamento a Dino para cobrar mais explicações sobre sua atuação no governo.
*Com informações do Estadão Conteúdo