Pesquisadora ainda disse esperar que a empresa seja responsabilizada e que isso não volte a acontecerReprodução: TV Globo

A pesquisadora Samantha Vitena, expulsa de um avião da Gol que iria de Salvador a São Paulo, na última sexta-feira, 28, falou pela primeira vez sobre o caso, durante participação no programa 'Encontro' nesta segunda-feira, 1º. A ativista afirmou ter recebido bastante apoio desde o episódio, mas disse que ainda está tentando assimilar e responder algumas questões. "Por que o meu corpo foi considerado uma ameaça, por que meu corpo foi considerado indesejável a ponto de eu ser tirada do avião?", indagou.
"Em nenhum momento houve resistência, houve questionamento. Eu cheguei a perguntar ao delegado 'se eu não podia ter perguntado o porquê'. Ele mesmo me disse que sim, é o meu direito perguntar", conta Samantha.
O apresentador Manoel Soares, que foi uma das pessoas a ajudar na repercussão do caso, ainda revelou que ela teve que assinar um "termo circunstanciado de ocorrência", por supostamente ter resistido à ação policial.

"Não consigo entender o porquê deste TCO. O que eu fiz foi perguntar o motivo de estar sendo retirada do avião. Me falaram que o comandante determinou e que eu iria sair e que se eu não fosse estaria cometendo um crime", continuou Samantha.
A pesquisadora ainda disse esperar que a empresa seja responsabilizada e que isso não volte a acontecer. "Essa história não é sobre mim. É sobre todas as pessoas que passaram e que passam por esse tipo de situação. E que as pessoas sejam responsabilizadas", concluiu.
Em contato com Manoel Soares, a assessoria da Gol afirmou que "reconhece a realidade do racismo estrutural no país e não tolera práticas racistas na companhia". A empresa ainda alegou ter contratado um "órgão independente pra fazer uma investigação interna sobre o caso".
Relembre o caso
A história veio à tona após o jornalista Manoel Soares, denunciar o caso nas redes sociais. O apresentador do "Encontro", da TV Globo, publicou um vídeo em que Samantha Vitena Barbosa, de 31 anos, aparece reclamando de funcionários da Gol e dizendo que seria retirada da aeronave antes da decolagem "sem motivo".
Em sua publicação, o jornalista ainda informou que ela tinha sido detida no aeroporto. Samantha é professora de inglês e aluna de mestrado em Saúde Pública na Fiocruz.
Samantha é professora de inglês e aluna de mestrado em Saúde Pública na Fiocruz - Reprodução: vídeo
Samantha é professora de inglês e aluna de mestrado em Saúde Pública na FiocruzReprodução: vídeo


Nas imagens, Samantha diz: "Se eu despachasse com meu laptop, ficaria aos pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar. Quem me ajudou foi esse senhor e essa senhora, que em 3 minutos conseguimos dar um jeito e colocar minha mochila. Os comissários falaram para mim que se a gente não pousasse em Guarulhos a culpa seria minha porque eu não queria despachar a mochila. A culpa não é porque o voo tá mais de duas horas atrasado, a culpa é minha. Faz mais de duas horas que coloquei minha mochila aqui e o voo ainda não decolou".
"Agora, vem três homens para me tirar do voo sem falar o motivo. Eu perguntei qual é o motivo, ele disse que não vai falar e que se eu não sair desse voo ele vai pedir para todo mundo sair, que eu estava desobedecendo e cometendo um crime", destacou.
Neste momento do vídeo registrado dentro do avião, o primeiro agente se aproximou e disse que ela estava faltando com a verdade. "Eu lhe disse que estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante", afirmou ele. Ao questionar novamente sobre qual o motivo, o agente se aproximou de Samantha.
Ela questionou se ele iria agir com violência contra ela. Neste momento, o terceiro policial federal se aproximou e disse que o comandante ordenou que ela fosse retirada. "É questão de segurança de voo", afirmou o policial federal, que tinha em mãos um documento. Ao fundo do vídeo, é possível ouvir críticas de outros passageiros. Na sequência do vídeo, Samantha deixa o voo.
Em nota enviada ao O DIA, a Gol explica que "havia uma grande quantidade de bagagens para serem acomodadas a bordo e muitos clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente".
"Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo", diz um trecho do comunicado.

"Lamentamos os transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de Segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A Companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a GOL e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso", acrescentou.
Por meio de nota, a Polícia Federal (PF), relatou que foi acionada "para efetuar o desembarque de passageira que não teria acatado as ordens do comandante do voo no 1575, referentes à segurança de acomodação de bagagens".
"Ressalta-se que, de acordo com a lei, o comandante exerce autoridade desde o momento em que se apresenta para o voo até o momento em que entrega a aeronave, tendo autonomia para solicitar apoio da Polícia Federal", justifica.
A PF informou ainda que "a passageira foi ouvida pela Polícia Federal e liberada em seguida" e que "as circunstâncias do fato estão sendo apuradas".

Os Ministérios das Mulheres e da Igualdade Racial e a Secretaria Nacional do Consumidor disseram no domingo, 30, que a Gol precisará "prestar explicações" sobre o caso, e que o episódio será notificado à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As pastas do governo federal apontaram que o episódio envolve "racismo e misoginia" e que a Procuradoria-Geral da República e a Superintendência Regional da Polícia Federal (PF) na Bahia foram acionadas. A PF abriu um inquérito para apurar o caso.