Escravidão contemporânea abrange uma série de fatoresMinistério do Trabalho/Divulgação
A escravidão contemporânea abrange uma série de fatores, como trabalho forçado, a escravidão por dívida, o casamento forçado, práticas de escravidão e análogas à escravidão e tráfico de pessoas. Trata-se de um termo para classificar situações que podem estar presentes em diversos segmentos de atividade econômica, ou seja, pode ir do setor de confecção de roupas ao de agricultura e mineração, por exemplo. Outros contextos em que pode se instalar são as residências e os espaços destinados ao acolhimento de refugiados, destaca a entidade.
De acordo com o relatório, o Brasil ocupa o 9º lugar no ranking do continente americano, em termos de resposta do poder público, no contexto do resgate das vítimas desse tipo de exploração. Embora a Walk Free qualifica as ações brasileiras como "fortes", ressalta que o país, assim como o Estados Unidos, acaba sabotando esse conjunto de medidas, ao forçar pessoas a situações que vão "além das circunstâncias que as convenções internacionais consideram aceitáveis", de abuso, como o trabalho obrigatório imposto a detentos. Ainda no recorte das Américas, o Brasil entra na categoria intermediária, quando a análise diz respeito ao patamar de vulnerabilidade à escravidão.
Para comparar a estrutura de que lançam mãos os governos, diante da problemática da escravidão contemporânea, a organização leva em conta aspectos como mecanismos que o Poder Judiciário mantém para evitar mais casos e o apoio oferecido a vítimas, a fim de que possam sair do ciclo de violação de direitos. Outro elemento que pode afetar a colocação dos países no ranking é o modo como governo e empresariado que atua no país reagem perante os casos, se param de fornecer bens e serviços envolvidos com a cadeia de escravidão, boicotando quem a alimenta. No grupo com as melhores conduções da questão, estão países como Reino Unido, Austrália, Holanda, Portugal e Estados Unidos.
Escravidão contemporânea
No total, são tabulados dados de 160 países. Dez países aglutinam dois terços das vítimas: Índia, China, Coreia do Norte, Paquistão, Rússia, Indonésia, Nigéria, Turquia, Bangladesh e Estados Unidos.
Os países com mais prevalência, tendo em vista a população, são a Coreia do Norte, Eritreia, Mauritânia, Arábia Saudita e Turquia. Já os que registram menos ocorrências são Suíça, Noruega, Alemanha, Holanda e Suécia. No caso da Coreia do Norte, calcula-se que haja 104,6 pessoas a cada 1 mil, em situação de escravidão contemporânea.
O auditor fiscal do trabalho Lucas Reis, que atua em Santa Catarina, comenta que se pode descrever como cenário uma sequência de eventos, ao longo dos últimos anos, que enfraqueceram a salvaguarda de direitos dos trabalhadores. Uma das referências que tem em mente ao fazer a crítica é a reforma trabalhista, articulada e consolidada pelo ex-presidente da República Michel Temer, que, para ele, "rebaixa" condições de trabalho.
"Não teve nenhum dado positivo da reforma trabalhista", sintetiza.
A falta de concursos públicos para o cargo de auditor fiscal é outra particularidade que vai na contramão do enfrentamento às violações de direitos humanos. Conforme noticiou a Agência Brasil, no mês passado, a mais recente lista de trabalho análogo à escravidão incluiu 132 empregadores, entre pessoas físicas e jurídicas.
A reportagem solicitou posicionamento ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério do Trabalho e Emprego sobre o documento da Walk Free e aguarda retorno.
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