Integrantes da Comissão Arns entregaram o relatório ao ministro Flávio DinoAntônio Cruz/Agência Brasil
O relatório é resultado da expedição realizada pela Comissão Arns, entre 16 e 20 abril, aos municípios paraenses de Marabá, Anapu, Rondon do Pará, Portel, Eldorado do Carajás, Itupiranga, Novo Repartimento, além de distritos vizinhos e aldeias indígenas. No período, os membros da comissão ouviram testemunhas, autoridades locais, familiares e vítimas da violência histórica na região.
A comissão solicitou ao ministério a realização uma operação local de desarmamento e fiscalização nas regiões visitadas, organizada pela pasta, em conjunto com o governo do estado do Pará, com apoio intensivo do Departamento de Polícia Federal e coordenada com a Polícia Militar local.
O ministro Flávio Dino adiantou aos participantes do encontro que vai apoiar as ações de combate à impunidade. “O relatório abre espaço para atuação federal, fortalecendo a cooperação com os estados. Sobre as situações do relatório, teremos a atuação de outros ministérios. No caso da questão fundiária, o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Na temática estritamente de proteção e defensa de direitos humanos, do ministério dos Direitos Humanos [e da Cidadania]. A parte do nosso Ministério [da Justiça e Segurança Pública] vai apoiar os estados, sobretudo, para que haja combate à impunidade.”
Integrante da Comissão Arns, o ex-ministro dos Direitos Humanos e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos Paulo Vannuchi participou da expedição ao Pará. Nesta quinta-feira, após o encontro no Ministério da Justiça, Vannuchi avaliou positivamente as primeiras medidas anunciadas por Dino. “O resultado da nossa visita, hoje, é muito importante e retrata esse momento novo do Brasil, voltando com a construção da democracia. Não como foi nos últimos anos, com ataque sistemático à democracia e, portanto, aos direitos humanos.”
Escutas
As páginas trazem relatos sobre ameaças, violência generalizada no campo, atentados, mortes, chacinas, expulsão de moradores de suas terras, atuação de pistoleiros e agentes públicos de segurança pública e outras violações de direitos humanos contra trabalhadores rurais, ribeirinhos, indígenas e populações tradicionais. Os registros apontam que a população das localidades visitadas está amedrontada pelo ciclo de violência.
O presidente da Comissão Arns e ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, José Carlos Dias, comentou que a situação vivida no Pará merece atenção para ser solucionada. “A sociedade civil e nós, porque estamos em São Paulo, Rio e Minas, não podemos esquecer da gravidade do que está ocorrendo no Norte do Brasil. Foi por esse motivo que nós realizamos essa peregrinação ao Pará.”
Solicitações
As demais solicitações dizem respeito à necessidade de uma grande operação de segurança pública, desarmamento e fiscalização nas áreas sob constante ameaça; adoção do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, investigação e combate à atuação do crime organizado.
A Comissão Arns entende que, como a maior parte da criminalidade no estado do Pará ocorre por conflitos fundiários, é preciso haver a atuação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para regularização dos projetos de assentamento e desenvolvimento sustentável; a retomada de terras públicas para serem destinadas à finalidade social prevista em lei; e a revisão do Regimento do Incra para a eliminação de normas que dificultam sua ação.
O relatório recomenda, ainda, o apoio operacional ao Ministério Público do Pará e à Secretaria de Segurança Pública do estado para solucionar o massacre da família do ambientalista Josué Gomes, o Zé do Lago, em São Félix do Xingu, em janeiro de 2022, assim o cumprimento de mandados de prisão em aberto.
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