Iniciativa vai distribuir R$ 1,6 milhão, em 40 prêmios de R$ 40 mil cadaFilipe Araújo/MinC
A iniciativa vai distribuir R$ 1,6 milhão, em 40 prêmios de R$ 40 mil cada, e é voltado a entidades e coletivos culturais que já contribuem com a identificação, registro, pesquisa e promoção do patrimônio material e imaterial desses grupos. As inscrições ficarão abertas de 20 de junho a 7 de agosto.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, ressaltou que é importante reconstruir a história do Brasil, a partir da ótica de quem a vive. A ministra reconheceu o trabalho de quem se dedica a registrar “o fazer” e “o viver” dessas comunidades. “Após quase 10 anos sem editais para os Pontos de Memória, o Ministério da Cultura retoma essa importante iniciativa, com resgate da cultura e da memória. Assim como temos direito à cultura, assegurado na Constituição Federal, o povo brasileiro tem direito também à memória, em suas diferentes linguagens, a partir da ideia da participação social, com respeito à identidade, ao território e às memórias invisibilizadas”.
A presidente do Ibram, Fernanda Castro, valorizou o papel dos “fazedores de memórias”. E os agradeceu “por se fazerem presentes em todas as regiões do Brasil por meio da parceria, colaboração e luta que os pontos de memória representam”.
“Nos duros seis anos de desmonte cultural, vocês foram resistência e alento para todos nós. Agora, de resistência, seremos existência! Queremos que vocês sejam os protagonistas na nossa gestão compartilhada. Sem vocês, não temos como seguir adiante”, disse a presidente do Ibram.
Certificação
Podem requerer a certificação as entidades ou coletivos culturais que desenvolvam programas, projetos e ações relacionadas à cultura, educação, museologia social, com a valorização do patrimônio cultural e das memórias dessas comunidades.
A presidente do Ibram, Fernanda Castro, revela que, somente no último mês, mais 70 pontos de memória foram reconhecidos. “Como os da cultura hip-hop, quilombolas, indígenas, educação museal, reservas extrativistas, de rede de pontos de cultura e memória rurais, enfim, um universo diverso e colorido de iniciativas populares sobre museus, memória e cultura viva”.
Falas
Mãe Baiana do Ilê Axé Oya Bagan, que participa do movimento social de combate ao racismo religioso no Distrito Federal, contou aos presentes sobre a resiliência após o incêndio que destruiu o terreiro de candomblé no Paranoá, em 2015. “Naquela época, tirei várias peças sagradas para um dia pensar em fazer um museu. E esse dia chegou, junto com o ponto de memória e de cultura, que está aberto à visitação”. Mãe Baiana considera o ato como criminoso, apesar da Polícia Civil do Distrito Federal descartar, em 2016, a motivação por intolerância religiosa.
O musicista Rafa Rrafuagi, do Rio Grande do Sul, colocou a plateia para cantar em homenagem ao Cinquentenário Mundial da Cultura Hip Hop e convocou todos a espalhar as chamadas tecnologias sociais. “A tarefa de cada um que está aqui hoje é multiplicar [esse prêmio] e levá-lo para cada quebradinha do extremo do seu estado. Através disso, a gente pode fazer com que os pontos de memória possam se auto reconhecer”, convocou.
Em sua fala, o líder comunitário do Quilombo do Grotão, de Niterói (RJ), José Renato Gomes da Costa, defendeu o legado de resistência e luta do povo negro no Brasil. “Participo do maior movimento que celebra o nosso povo no país que, nós, negros, fizemos na força escrava. Um país em que, até hoje, os negros ainda não conseguiram participar de forma justa e igualitária na sociedade brasileira. O povo negro merece muito mais. A história tem quer ser contada como realmente aconteceu, com a injustiça que fizeram com os negros”.
Já a articuladora Ayanami Gonçalves, de Recife, celebrou a visibilidade de mulheres transexuais negras, travestis e de homens gays negros, dentro da cultura de baile do Ballroom, movimento político e de entretenimento que destaca a diversidade de gênero, sexualidade e raça. “Desde 2016, no Recife, eu e minhas colegas, minhas parceiras de luta, encabeçamos esse movimento, levando a cultura Ballroom a espaços públicos e fazendo acontecer. Estamos aqui, como ponto de memória, para resgatar a memória dos nossos ancestrais”.
Homenagem
A educadora fundou o Ponto de Memória da Terra Firme, em Belém, um dos pioneiros no Brasil que preservam a memória de comunidades que não puderam expor seus valores sociais e culturais.
No local, Helena contribuiu para reunir fotografias, entrevistas, contos, lendas e objetos que contam a história da comunidade do bairro da Terra Firme.
Helena Quadros também foi lembrada pela atuação no setor educativo do Museu Paraense Emílio Goeldi, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
A filha da homenageada, Camila Quadros, emocionada, falou sobre o legado da mãe, que entendia os museus como espaços abertos. “Helena foi uma pessoa extremamente atuante na museologia comunitária e social. A ideia era que ninguém ficasse excluído dos museus, que todo mundo pudesse ter se acesso a um museu. Ela pensou no ingresso comunitário e daí as coisas foram se desenvolvendo, criando vários projetos”.
“Minha mãe, realmente, gostava do que fazia: atuar na academia, com a universidade, mas, também atuava em centros comunitários, dentro do Museu Goeldi. Ela não parava”, relembra a jovem Camila Quadros sobre a mãe que trabalhava com vários públicos.
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