Forças Armadas ainda tentaram convencer Bolsonaro a realizar um golpe de Estado, após a vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2022Carolina Antunes/PR

A mulher do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL-RJ), afirmou que o ex-presidente pediu para que os caminhoneiros participassem de atos golpistas após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial. A fala ocorreu em troca de mensagens por um aplicativo de celular entre Gabriela Cid e Ticiane Villas-Bôas, filha do general Eduardo Villas-Bôas.

A conversa ocorreu no dia 2 de novembro do ano passado, três dias após a eleição. As duas demonstraram revolta com a vitória de Lula e passaram a defender manifestações antidemocráticas para evitar que o petista tomasse posse do cargo em janeiro, mantendo Bolsonaro no poder.

No bate-papo, ambas dizem que os apoiadores do ex-presidente tinham que cobrar o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, além de ocorrer novas eleições com voto impresso.

“Estamos diante de um momento tenso onde temos que pressionar o Congresso. Agora”, escreveu Gabriela. “Ou a queda de Moraes”, respondeu Ticiane. “Também acho. Esse homem tem que cair. Ele que está estragando o país. O resto é tudo remediável”, concordou a mulher de Mauro Cid.

A filha de Villas-Bôas segue defendendo a tese de afastar Alexandre de Moraes da Suprema Corte. “Se a gente tirar ele, o STF dá uma recuada [...] Eles vão prender o presidente [Bolsonaro] baseados no inquérito das fake news”, argumentou.

Na sequência, Ticiane declarou que o Exército brasileiro precisava conversar com os líderes dos caminhoneiros para saber “quais tem que ser as reivindicações deles”. “Estão falando em intervenção federal” contou Gabriela. “Tem que ter impeachment e novas eleições com voto impresso”.

A filha de Villas-Bôas afirmou que era preciso articular com os caminhoneiros. “Sim! Foi o que pediu o presidente [Bolsonaro]. E acho que todos podem tem que vir para Brasília. Invadir Brasília como no dia 7 de setembro e dessa vez o presidente, com toda essa força, agirá”, respondeu a mulher de Mauro Cid.

Por fim, Gabriela perguntou como Ticiane estava montando “o local do cachorro quente”. “Doação de dinheiro ou alimento?”, indagou. “Não sei, Gabi. A Drica está mais por dentro ou as meninas do RCG”, concluiu.

Entenda o caso
Em mensagens encontradas pela PF no celular de Mauro Cid, o ex-ajudante de Bolsonaro foi cobrado por integrantes das Forças Armadas para convencer o ex-presidente a realizar um golpe de Estado, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2022. O tenente-coronel está preso desde o dia 3 de maio e se manteve em absoluto silêncio durante depoimento à Polícia Federal.
A maioria das mensagens teve o coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército, como remetente. Cid respondia as cobranças em poucas palavras. Ele disse "infelizmente" quando Lawand percebeu que não seria possível realizar um golpe.

Além disso, uma espécie de roteiro para a instauração de um golpe de Estado foi encontrado no celular de Mauro Cid. Nele, havia Bolsonaro nomearia um interventor, que estaria no comando da Polícia Federal e poderia suspender atos que ele considerasse inconstitucionais.

Em uma das fases do plano, havia a etapa de afastar os ministros do Tribunal Superior Eleitoral alegando que eles seriam os “responsáveis pela prática de atos com violação de prerrogativa de outros Poderes”, de acordo com o documento.
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