Casos têm colocado as autoridades de saúde de alguns estados do Nordeste brasileiro em alertaEBC
No último sábado (8), o Peru declarou situação de emergência a nível nacional, por 90 dias, devido à alta da incidência da doença. De acordo com o alerta, até aquele momento, foram registrados 182 casos em 2023. Destes, 31 pacientes estavam internados, 147 receberam alta hospitalar e quatro morreram com a doença.
O Peru tem fronteira com grande parte do Acre e com o Amazonas, e o Ministério da Saúde esclarece que "a avaliação de cenário aponta que não há necessidade de restrição de turismo, comércio e/ou circulação de pessoas", segundo nota enviada à Agência Brasil. “Uma nota técnica está sendo enviada às secretarias estaduais de saúde reforçando que a situação até o momento é de baixo risco para o país”, acrescenta.
O que é a síndrome?
Tanto bactérias quanto vírus podem desencadear casos de Guillain Barré, e os sintomas da síndrome podem aparecer durante a fase aguda das infecções ou após a recuperação dos pacientes. Há registros da síndrome associada a bactérias causadoras de diarreia e a infecções virais como dengue, zika, chikungunya, citomegalovírus, Epstein-Barr, sarampo, influenza A, enterovirus D68, hepatite A, B e C, HIV, entre outros.
No Peru, a doença já havia causado um surto em 2019, com 900 casos. Naquele episódio, os adoecimentos foram associados à presença da bactéria Campylobacter jejuni, causadora de quadros de diarreia. Em 2020, foram registrados 448 casos, em 2021 foram 210 casos; e, em 2022, um total de 225 casos. Até o momento, ainda não há informação quanto ao agente infeccioso associado ao surto atual no Peru.
Sintomas
Também são considerados sintomas da doença: sonolência, confusão mental, crise epiléptica, perda da coordenação muscular, visão dupla, fraqueza facial, tremores, redução ou perda do tono muscular e coceira nos membros.
Pacientes com esses quadros devem procurar um médico com urgência para avaliação, e o Sistema Único de Saúde conta com centros de reabilitação e um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para a Síndrome de Guillain Barré.
A medicina considera que o maior risco da síndrome é quando a fraqueza e a paralisia atingem os músculos respiratórios. Nesse caso extremo, são necessárias medidas de suporte respiratório para evitar a morte do paciente, já que coração e pulmões param de funcionar.
Danos neurológicos e sequelas
“Quando diagnosticado logo no início ou com formas leves, os pacientes costumam ter uma boa recuperação e podem não ter sequela. Entretanto, os casos mais graves podem deixar sequela. A pessoa pode ficar paraplégica, por exemplo, como sequela de Guillain Barré, e isso é independentemente do agente infeccioso”, cita ela, ao explicar que a doença também pode ocorrer sem ser provocada por nenhuma infecção, com o próprio corpo causando uma inflamação no tecido nervoso de forma autoimune.
Após o início do tratamento, a maior parte dos pacientes começa a recuperar a força e a sensibilidade dos membros em três ou quatro dias, e a alta hospitalar ocorre antes das três semanas, descreve a médica, que pondera que casos graves podem ter internações bem mais longas.
A infectologista explica que, caso a causa do surto no Peru seja a própria bactéria causadora da onda de casos de 2019, o risco de a doença trazer preocupação ao Brasil é baixo. Ela acrescenta que o país vizinho também apresenta um número alto de casos de dengue, doença que também já foi associada à síndrome e pode estar contribuindo para a emergência sanitária atual.
“A doença a que a gente dá o nome de Guillain Barré não se transmite. Agora, o agente infeccioso pode ser transmitido de pessoa para pessoa, porque cada agente infeccioso tem sua própria forma de transmissão. Hepatite B pode causar Guillain Barré? Pode, e se transmite basicamente por atividade sexual hoje, ou material contaminado com sangue. Covid-19 pode dar Guillain Barré? Pode, e a transmissão de pessoa pra pessoa é respiratória. Mas todo mundo que tem hepatite B ou covid-19 vai apresentar Guillain Barré? Não. É uma minoria que pode apresentar essa complicação”, explica.
“A preocupação fica porque, nesse surto do Peru, a gente ainda não tem estabelecida a causa. Se eventualmente for algum agente que possa cursar com outros sintomas, a gente pode até ter algum grau de preocupação. Se for o mesmo que circula no Peru desde 2019, isso não nos traz grande preocupação de fato”, observou.
Como os casos da Síndrome de Guillain Barré são considerados raros, a infectologista explica que um surto associado a um agente infeccioso pode significar uma alta incidência desse agente na população, o que pode ser difícil de ser percebido quando essas infecções não produzem sintomas importantes o suficiente para levar as pessoas infectadas ao sistema de saúde.
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