Guilherme Mello vê o cenário externo favorável à queda da inflação no BrasilReprodução

O secretário de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, avaliou nesta quarta-feira, 19, que o comportamento das economias de países do bloco europeu, dos Estados Unidos e da China ajuda a construir um cenário "benigno" de preços para o Brasil. Com isso, Mello classificou o cenário brasileiro, do ponto de vista inflacionário, como "positivo".
Para o secretário, os efeitos de fatores como taxa de câmbio menor e patamar mais baixo também do preço do petróleo têm impactado de forma significativa o IPCA, na variação acumulada em 12 meses, tanto no índice cheio quanto dos núcleos, com "clara tendência de queda".

"Isso se reflete nas expectativas do IPCA do fim do ano, com aumento expressivo das chances de o IPCA terminar dentro da banda superior da meta de inflação. Essa perspectiva não estava no horizonte até alguns meses atrás", disse Mello em entrevista coletiva de imprensa sobre o novo Boletim Macrofiscal.

Pela divulgação realizada nesta quarta pela Fazenda, a estimativa do IPCA para este ano passou de 5,58% para 4,85%, muito próximo do teto da meta estipulado para 2023, que é de 4,75%.

"Acredito que nós, do ponto de vista global, quando analisamos a trajetória da inflação, estamos em cenário bastante confortável", observou Mello, citando também as quedas previstas para 2024, 2025 e 2026. "Isso tem impacto na expectativa da Selic e também da curva de juros longo", observou.

Para chegar à conclusão de que o cenário internacional favorece um IPCA mais comportado no Brasil, Mello citou, por exemplo, a China. Segundo ele, as expectativas de crescimento do país asiático estão "mais ou menos" alinhadas com o esperado pela equipe econômica. "Mas a composição é heterogênea, a indústria manufatureira e o setor de construção seguem um pouco abaixo das expectativas", exemplificou.

Nos Estados Unidos, Mello disse que os dados já apontam para um processo de arrefecimento da economia americana - apesar de os núcleos da inflação no país continuarem apresentando "certa resiliência", assim como o próprio nível de atividade. "Consumo das famílias segue crescendo e pressiona os núcleos de inflação", apontou o secretário. Diante desse cenário, se reduziu a probabilidade de o banco central dos EUA iniciar em breve uma flexibilização da política monetária, com a possibilidade de uma ou duas altas na taxa de juros ainda serem registradas nesse ano, disse Mello.

Já na Zona do Euro, o cenário é complexo, indicou o secretário, porque os núcleos de inflação seguem resilientes, com uma queda, contudo, no índice cheio. "Mas você já vê uma desaceleração da atividade mais forte, ao mesmo tempo que tem patamar da inflação mais alto, vai haver continuidade do aperto monetário diante de uma taxa de desemprego que segue em patamar baixo e desses núcleos de inflação que seguem demonstrando resiliência", observou.

Na avaliação de Mello, o comportamento desses países aponta para um cenário internacional de desaceleração, com algum nível de contração da política monetária. "E essa combinação junto do crescimento chinês um pouco menos vigoroso também ajuda a construir cenário para preços benigno", disse Mello.