Crianças e adolescentes ainda não entendem os perigos da internet e podem compartilhar informações que, a princípio, parecem inofensivas, mas que representam risco, aponta especialista em Segurança na WebValter Campanato/Agência Brasil

Rio - Que a internet facilitou o acesso a informação, isso é inegável. Mas o avanço da tecnologia também trouxe novos desafios como, por exemplo, o gerenciamento desse uso por parte de crianças e adolescentes. Segundo dados de uma pesquisa realizada no ano passado pela empresa de cibersegurança NortonLifeLock, que ouviu cerca de mil pais, 42% permitem que seus filhos, menores de 18 anos, naveguem pela web sem nenhum tipo de monitoramento.
Ainda de acordo com o levantamento, 72% relatam que as crianças já foram expostos a situações perigosas enquanto utilizavam a internet sem acompanhamento. Tal porcentagem alerta para o risco que menores correm  na web. Em março deste ano, uma menina de 12 anos foi levada para o Maranhão após marcar um encontro com um homem de 25 anos que conheceu através do TikTok. O caso ganhou repercussão nacional e alarmou os pais. 
Para o perito em crimes digitais e CEO da Enetsec, Wanderson Castilho, entender a relação das crianças com as telas tornou-se um grande desafio, sobretudo porque a pandemia acelerou esse processo que aconteceria um pouco mais tarde. "Esses dois anos reforçaram a necessidade do uso da internet, observamos as escolas e os pais se adaptando ao digital. Mas é fundamental entender que o uso desenfreado e não monitorado pode oferecer riscos sérios para as crianças”, pontua o especialista.
Castilho também alerta que o fato das gerações mais jovens ser formada por nativos digitais não dispensa orientação sobre como utilizar a tecnologia. "Até mesmo a geração Z não possui as aptidões necessárias para usar a internet a seu favor, por exemplo, para obter informações confiáveis. Por isso, é necessária a atenção dos responsáveis”, ressalta.
O psicólogo Ruan Marinho também alerta sobre os perigos aos quais as crianças e adolescentes estão expostos ao usarem a internet sem limites."Há riscos para a saúde mental, emocional, social e até mesmo biológica, considerando que a internet afeta diretamente a autoestima, tem grande influência na modulação da personalidade do indivíduo e o uso de tela pode causar problemas de visão, insônia, dentre outros. Até riscos quanto à exposição a pessoas má intencionadas, perversas e até criminosas", pontua. 
Apesar das ameaças, o profissional de saúde mental frisa que não há idade certa para que crianças passem a utilizar a internet. Entretanto, ele aponta como uma possível saída a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) que diz que o uso de qualquer tipo de eletrônico só se inicie após os dois anos de idade. "A Sociedade Brasileira de Pediatria é bem precisa quanto às recomendações a respeito desses limites. Sendo assim, a recomendação é para que dos 2 aos 5 anos as crianças tenham acesso a no máximo uma hora diária. Dos 6 aos 10, cerca de duas horas diárias. E dos 11 aos 18 esse número subiria para entre três ou quatro horas por dia. Vale ressaltar a importância do uso ser interrompido sempre pelo menos uma hora antes de dormir, tendo em vista que a utilização de tela é um dos grandes responsáveis pela má qualidade do sono", explica. 
Marinho ressalta ainda que é preciso levar em consideração qual é a finalidade da internet na vida deste jovens. "Agora falando especificamente do uso da internet, o cenário muda de figura quando pensamos em qual tipo de uso é esse? Seria para assistir a vídeos, jogar games ou redes sociais? Pois para cada item desse existe uma especificidade diferente. Assistir a vídeos é uma interação passiva dessa criança com a internet, então lhe cabe a recomendação da SBP. Já para o uso de jogos é necessário observar muito bem o tipo de jogo, a idade mínima permitida e de preferência que estes sejam com fins educativos pelo menos até o fim da alfabetização. Por fim, o uso de redes sociais na imensa maioria das plataformas só é permitido após os 13 anos de idade. Sendo assim, essa também seria a recomendação", explica. 
Por fim, a diretora do Marista Escola Social Ir. Lourenço, Andreia Aparecida de Castro, recomenda o diálogo entre pais e filhos como a melhor opção para a prevenção de riscos e resolução de conflitos na web. "Manter uma rotina de acompanhamento dos acessos e de conversas, separar um tempo para ficar online e ver quais conteúdos eles mais gostam pode colaborar nessa percepção. Nesse tempo em conjunto, você pode ir percebendo e anotando quais canais podem não ser tão seguros", conclui.
PARA FICAR DE OLHO
Compartilhamento de informações privadas
As crianças ainda não entendem os perigos da internet e podem compartilhar informações que, a princípio, parecem inofensivas, mas que representam risco, tais como compartilhar endereços, fotos ou vídeos de momentos constrangedores, senhas e até detalhes do que há em casa. Embora a publicação seja para amigos, qualquer uma pessoa mal intencionada pode ter acesso.

Grooming
A prática comum na internet consiste em ações de um adulto que se passa por outra criança com a finalidade de se aproximar, ganhar confiança e criar um vínculo para conseguir se aproveitar sexualmente dela.

Cyberbullying
Como quase tudo da vida real, o bullying ganhou o mundo virtual, com requintes em relação ao que já era conhecido nessa prática condenável, pois expõe a vítima na internet em uma escala inimaginável.

A melhor maneira de proteção contra cyberbullying é conversar. “Converse sobre os riscos, sobre os ameaças que cercam o mundo virtual, os oriente, estabeleça um canal de comunicação aberto e de confiança” pontua o especialista.

Phishing
Uma das principais estratégias colocadas em prática por hackers é o phishing. Por meio do envio de e-mails, postagens em redes sociais ou mensagens SMS, que tentam se passar por comunicações de uma grande empresa, os criminosos induzem a vítima a fornecer dados pessoais, por meio do acesso a páginas falsas; da instalação de códigos maliciosos, projetados para coletar informações sensíveis; e do preenchimento de formulários contidos na mensagem ou em páginas web. Portanto, a orientação dos pais à criança, que também serve para prevenir outros tipos de crime, é que ela nunca deve clicar em links sugeridos por e-mails de desconhecidos.

Exposição aos conteúdos inadequados
A internet é um ambiente no qual circula todo tipo de informação, e as pessoas também publicam o que querem. E em uma situação em que o uso da criança ou do adolescente não seja monitorado, eles podem estar sujeitos à exposição de imagens e vídeos inadequados para sua idade.

Golpes em jogos on-line
Geralmente os golpistas adaptam a fraude para o perfil da vítima. No caso dos jovens, eles podem oferecer acesso gratuito a jogos on-line. Assim como o phishing, os cibercriminosos usam sites populares de games para seduzir as crianças.
FERRAMENTAS PARA MONITORAR O QUE SEU FILHO ACESSA
Google Family Link
O Family Link é um aplicativo do Google para Android e iPhone (iOS) que permite aos adultos monitorarem e controlarem o uso de aplicativos nos celulares de crianças de menos de 13 anos. O programa facilita a criação de uma conta especial que gera relatórios periódicos de uso para os responsáveis pelo jovem.
Netflix modo infantil 
Possibilita o gerenciamento dos tipos de séries, filmes e jogos aos quais crianças e outras pessoas podem assistir na Netflix. Para isso é preciso criar perfis individuais com classificações etárias personalizadas. É possível adicionar perfis em aparelhos fabricados depois de 2013.
Kaspersky Safe Kids
Além de permitir bloquear conteúdo indesejado em sites e no YouTube, gerenciar o uso de dispositivos e de aplicativos e detectar imediatamente comportamentos online suspeitos, o recurso permite localizar seus filhos em um mapa e definir uma área segura para eles permanecerem. Você pode até mesmo monitorar o nível da bateria nos dispositivos usados por crianças e adolescentes.
Qustodio
O app Qustodio permite definir e gerenciar limites diários de tempo de tela; monitorar sites, pesquisas e aplicativos; bloquear site ou categoria (bloqueio de jogos, pornografia, jogos de azar e conteúdo indesejado); além de gerar relatórios avançados e alertas.