Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o órgão de inteligência financeira do Banco Central, identificou movimentações financeiras consideradas atípicas da Combat Armor Defense do Brasil , empresa responsável por fornecer veículos blindados à Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o período de gestão do ex-diretor-geral Silvinei Vasques.
Mesmo com um capital inicial de apenas R$ 1 milhão e faturamento de R$ 58,5 mil em 2019, nos dois anos seguintes os recursos aumentaram de forma surpreendente. O documento revela que cerca de R$ 28 milhões foram recebidos pela Combat Armor em um intervalo de apenas dois anos.
O Coaf identificou que o dinheiro era depositado e depois retirados das contas da Combat Armor em um curto período de tempo e, eram imediatamente transferidos para outras contas ligadas à companhia. Também se verificou saques em dinheiro, o que levantou a suspeita, por ser uma estratégia que visa evitar que as transações sejam identificadas pelas autoridades.
O Coaf também indica que a Combat Armor forneceu informações "de difícil ou onerosa verificação" e não revela que não encontrou veículos ou equipamentos para efetuar as atividades de blindagem nas suas instalações.
Este relatório está atualmente nas mãos dos membros da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. A investigação agora vai apurar a relação da empresa com Silvinei Vasques e outros dirigentes do governo Bolsonaro, incluindo o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
Transferência de R$ 36 mil à contas ligadas a Silvinei Vasques e Antonio Lorenzo
A CPMI identificou um pagamento de R$ 36 mil, em 2023, da Combat Armor à empresa Lopes & Filho. A Lopes & Filho foi fundada no início deste ano e compartilha o mesmo endereço com outras duas empresas ligadas a Silvinei e ao brigadeiro Antonio Lorenzo , ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça.
Vasques declarou que a Combat Armor cumpriu todos os requisitos para a contratação e que o processo licitatório foi conduzido de forma "transparente". Mas, várias licitações da empresa com órgãos públicos brasileiros durante a administração de Jair Bolsonaro (PL), com valores superiores a R$ 100 milhões, há penalizações administrativas por não cumprimento de contratos com entregas devidas a tribunais no Brasil.
A Combat Armor chegou até ser proibida de participar de outras licitações com o governo brasileiro. Wendel Benevides Matos, ex-corregedor da PRF, é um deles. Há alegações de que ele arquivou denúncias contra Silvinei Vasques. Vasques, por sua vez, negou uma relação pessoal com a empresa, mas admitiu ter buscado emprego na mesma após sua aposentadoria da PRF.
Palavra da relatora
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), questionou o ex-ministro da Justiça Anderson Torres sobre os contratos. Torres afirmou desconhecer a empresa e seus proprietários, ressaltando que a Polícia Rodoviária Federal tinha autonomia nas compras e operações internas. Entretanto, na visão de Eliziane, Torres, como ex-ministro da Justiça, também compartilhava a responsabilidade pelas polícias federais.
Investimento federal em 69 veículos blindados "caveirões" e "caveirinhas"
O Ministério Público Federal investiga a venda de veículos da Combat Armor à PRF. Sob a administração Bolsonaro, a empresa recebeu cerca de R$ 36 milhões em contratos firmados com o governo. Segundo os processos licitatórios, foram negociadas 69 unidades, 19 "caveirões" e 51 "caveirinhas" . Antes de 2018, a PRF não contava com veículos blindados em sua frota.
O Ministério Público Federal busca entender a relação de Vasques com a empresa e averiguar se houve fraude no processo licitatório.
A Combat Armor , empresa de origem americana que se estabeleceu no Brasil em 2019, apresentava um faturamento de R$ 58,5 mil na época de sua instalação . No entanto, esse número aumentou significativamente com os contratos milionários assinados durante a administração anterior. Em outubro de 2022, seu patrimônio estava avaliado em R$ 27,4 milhões .
No Brasil, a Combat Armor é representada pelo CEO Maurício Junot de Maria, que já possuía experiência na indústria de blindagem. Mas, o dono da empresa é o empresário Daniel Beck , um apoiador de Donald Trump que estava em Washington durante a invasão ao Capitólio em janeiro de 2021.
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