Projeto Creators Academy em terra indígena no AcreEdgar Azevedo/Agência Brasil

Passar dias convivendo com as tradições e os costumes de uma comunidade indígena no meio da Floresta Amazônica, e estimular diálogos, reflexões e ações em defesa do meio ambiente. Esta é a vivência proposta pelo projeto Creators Academy, iniciativa do Instituto Oyá, uma organização não governamental liderada pela ativista e empreendedora social Kamila Camilo, que atua no debate sobre mudanças climáticas.

No fim de julho, o projeto levou um grupo de 70 comunicadores, a maioria composta de influenciadores digitais com milhares de seguidores nas redes sociais, para uma imersão de cinco dias na Terra Indígena Puyanawa, no extremo oeste do Acre, a cerca de 700 quilômetros (km) da capital, Rio Branco. No ano passado, um outro grupo havia feito uma imersão parecida em uma comunidade ribeirinha do Amazonas.

"A ideia é utilizar a força das pessoas que fazem comunicação e influenciam outras pessoas, para aumentar o volume [de informações]sobre os efeitos das mudanças climáticas", aponta Kamila Camilo. "O maior desafio, para mim, da agenda climática no noticiário e na internet, é não ter o rosto das pessoas amazônidas. Só tem os números, as estatísticas. Quando a gente consegue dar o rosto das pessoas, trazer pessoas de mundos tão diferentes para conviver entre si, isso dá mais potência à mensagem", acrescenta.
Projeto Creators Academy em terra indígena no Acre - Edgar Azevedo/Agência Brasil
Projeto Creators Academy em terra indígena no AcreEdgar Azevedo/Agência Brasil
Durante a imersão, os participantes interagiram com os indígenas na fabricação de farinha de mandioca, um alimento ancestral, nadaram em um igarapé, com direito a banho de ervas medicinais preparado pelo cacique da aldeia, tiveram os corpos pintados pelos indígenas com jenipapo e urucum, participaram de danças ritualísticas, além de, principalmente, desenvolverem laços mútuos de afetividade e conexão real com os anfitriões.
Percepções
Com mais de 146 mil seguidores nas redes sociais, o criador de conteúdo Mister Prav, que é natural do Benin, na costa oeste da África, estava no grupo que foi ao Acre e se emocionou com a experiência.
Criador de conteúdo Mister Prav participa do projeto Creators Academy em terra indígena no Acre - Edgar Azevedo/Agência Brasil
Criador de conteúdo Mister Prav participa do projeto Creators Academy em terra indígena no AcreEdgar Azevedo/Agência Brasil


Além de trabalhos na área de moda e estilo de vida, Prav narra nas redes sua trajetória como imigrante africano no Brasil e ajuda a divulgar a cultura da África por aqui, algo que, apesar da profunda relação histórica entre os dois lados do Atlântico, os brasileiros pouco conhecem.

"Eu vim para viver, entender o povo Puyanawa. Essas mudanças climáticas não estão só afetando o Brasil, mas o mundo inteiro. Eu percebo que tenho lugar de fala. Minha missão agora é levar isso nas comunidades, tanto de africanos que estão aqui, quanto no continente africano."

Diretora executiva da Perifa Connection, uma plataforma que articula redes de comunicação e mobiliza jovens de periferias de todo o país, Thuane Nascimento (Thux) destaca que, mais do viver uma experiência diferente e marcante, a imersão em terra indígena é um chamado à ação em defesa da floresta e dos povos que vivem nela, que são também periferia no sistema capitalista.

"Uma coisa muito importante que o projeto Creators Academy tenta colocar na pauta, não é só de as pessoas sentirem, fazerem a imersão, é de as pessoas saírem com o compromisso com a luta por justiça climática, contra o racismo ambiental, em defesa desses espaços, que são periféricos, pois não estão no centro sociocultural, político e econômico do Brasil", observa.

Também convidada para a experiência, a artista indígena Kaê Guajajara alertou para a necessidade de se abrir para uma escuta verdadeira, que vai além da imersão em si. "A gente não pode apenas chegar num lugar com uma ideia formada, e sim entender aquele lugar e aí, sim, pensar no que podemos fazer juntos", argumenta.

“Eu acredito que a gente possa afinar essa relação do que é realmente o bem-viver da Terra. Enquanto povos indígenas, a gente está pensando comunidades, na agricultura para comunidade, para o coletivo, e não na ideia de mercantilização. Não pensar na natureza como produto, mas como cultura. Não é só a gente chegar num povo, dizer que conheceu, mas ver como aplicar aquilo na vida, o que a gente pode estar fazendo, de fato, para estar mais perto desse bem-viver, de equidade", acrescenta.

O influenciador digital Ivan Baron, que é uma pessoa com deficiência (PCD) e possui quase meio milhão de seguidores na internet, foi outro criador de conteúdo que participou da experiência. Baron foi uma das personalidades que subiram a rampa ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a posse, no dia 1º de janeiro, na companhia de nomes importantes como o cacique Raoni. Para ele, o cruzamento da pauta dos povos indígenas, da justiça ambiental e das pessoas com deficiência é fundamental.
O influenciador digital Ivan Baron participa do projeto Creators Academy em terra indígena no Acre - Edgar Azevedo/Agência Brasil
O influenciador digital Ivan Baron participa do projeto Creators Academy em terra indígena no AcreEdgar Azevedo/Agência Brasil
"Foi minha primeira vez numa aldeia indígena. Como pessoa com deficiência, enfrentei alguns desafios, como falta de acessibilidade. Eu acredito muito que é preciso fazer essa interseccionalidade, todos estamos em processo de evolução. Cresci como pessoa, pude me aproximar da pauta da justiça climática, da pauta dos povos indígenas e pretendo repercutir esses temas no meu trabalho", afirmou.