Lula, atual presidente do BrasilFabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
As declarações de Lula atrapalham o projeto multilateral brasileiro?
Elas têm uma consequência e uma repercussão problemática. A consequência começa no nível discursivo, porque historicamente o próprio presidente trabalha com uma ideia de fortalecimento do multilateralismo. É justamente isso que levou à construção do Brics e à aspiração brasileira pela reforma do Conselho de Segurança da ONU. Essa vontade é central na política externa brasileira.
Como isso afeta a diplomacia brasileira?
Lula continuará sendo o maior diplomata do Brasil. A diplomacia presidencial é característica do seu governo. Muitas vezes, ele dá uma declaração e depois revê o que falou. Já aconteceu em relação à guerra na Ucrânia e continuará acontecendo, porque faz parte de sua personalidade. No longo prazo, isso pode tirar a credibilidade dele em alguns assuntos, principalmente em uma possível mediação da guerra na Ucrânia, porque o Brasil ainda não acertou o discurso sobre o tema.
É possível que Putin venha ao Brasil para o G-20?
Putin já teve duas oportunidades de viajar para países do Brics, que são teoricamente os que não têm um discurso frontal contra a Rússia. Ele não foi à Índia, nem à África do Sul. O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, pediu que ele não comparecesse à reunião do Brics. Não seria bom para o Brasil que ele viesse para a cúpula do G-20. A diplomacia brasileira deve tentar convencer os russos de que é melhor que Putin não venha, para não colocar o Brasil em uma situação complicada.
Quais são os desafios da diplomacia brasileira?
Afinar as críticas e torná-las produtivas. O papel histórico do Brasil é de alavancar uma reforma da governança global. É necessário que os atores inconformados protestem contra o atual sistema. Uma figura como a de Lula tem força política para fazer uma crítica mais contundente. Ele tem visibilidade e capacidade de articulação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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