Gravuras de sítio arqueológico são vistas durante seca em Manaus Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Localizado às margens do Rio Negro, o sítio tem área de aproximadamente 150 mil metros quadrados (m²), que comporta uma praia coberta de lajes de pedra. No bloco é possível observar gravuras que reproduzem rostos humanos, imagens de animais, além de cortes nas rochas que mostram resultados de oficinas líticas, onde os povos indígenas fabricavam as ferramentas que usavam, como machadinhas.
À Agência Brasil, Oliveira disse que além de ser um local onde as populações pré-coloniais fabricavam artefatos líticos, utilizando os amoladores, polidores fixos, em depressões ou cavidades e incisões, os símbolos históricos nas rochas também eram utilizados pelos povos para registrar seus comportamentos sociais.
“Os locais que têm essas gravuras representam e são testemunho do modo de vida de populações pré-coloniais. Nesse sítio em especial, Ponta das Lages, temos dois contextos bem distintos - um onde há locais com oficinas líticas, que são aqueles com marcadores, amoladores, polidores fixos, em que os grupos fabricavam suas ferramentas, especialmente a partir da técnica de polimento, e outro com as gravuras rupestres, que tinham mais a função de ser um meio de comunicação social entre os grupos. As gravuras permitiam a comunicação entre um grupo e também, de forma externa, com outros”, complementou Oliveira.
“Essas gravuras rupestres não são possíveis de serem datadas, no entanto, a gente estabelece uma cronologia e uma datação relativa, a partir da associação com as ocupações em sítios limítrofes como Ponta das Lages. Ao lado desse sítio temos mais três - O Lages, Daisaku Ikeda e o Porto Encontro das Águas”, afirmou o arqueólogo. “Essas gravuras rupestres têm datação relativa de aproximadamente 2 mil a mil anos. Elas pertencem aos grupos, aos povos originários, aos povos nativos que viviam nessa região em um passado bem distante. Já temos um aprofundamento das pesquisas arqueológicas, que conseguem demonstrar que essa região foi densamente ocupada no período pré-colonial. Tínhamos organizações de sociedades bem complexas e podemos verificar isso a partir também do sítio Ponta das Lajes, dada a complexidade de produção dessas gravuras”, informou.
Preservação
O instituto disse ainda que mantém rotina de vistoria e fiscalização em Ponta das Lajes e que já acionou os órgãos de segurança para evitar possíveis danos aos bens arqueológicos, especialmente a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública de Manaus.
De acordo com o Iphan, a vazante do rio se apresenta como oportunidade para identificação, reconhecimento e atualização para fins de pesquisa e fomento do patrimônio arqueológico da região. O instituto lembra que a situação também “demanda total e irrestrita solidariedade às/aos amazonenses atingidas/os pelos efeitos da severa estiagem em curso.”
“Consideramos o momento oportuno para o fortalecimento dos trabalhos de arqueologia no Amazonas e na região, principalmente aliando educação patrimonial à ambiental, em virtude dos impactos que as mudanças climáticas podem ter no patrimônio arqueológico, além de sempre valorizar o significado que esses territórios têm para os povos originários”, disse a superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiro de Abreu Evanovick.
Seca
O Rio Negro, que em 27 de outubro atingiu cota mínima histórica na medição do Porto de Manaus, com 12,70 metros, vem subindo aos poucos. Ontem, o nível estava em 13,47 metros.
O aumento no volume do leito do rio é aguardado por pescadores e ribeirinhos que desejam retomar suas atividades. Eles enfrentam dificuldades de locomoção e relatam sofrer “abandono” por parte do poder público local e estadual. Entre os problemas enfrentados estão a falta de cestas básicas, de acesso à água potável e energia elétrica.
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