Gramado registrou várias áreas interditadas por deslizamentos durante as chuvas de novembroPrefeitura de Gramado/Divulgação
Serviço Geológico do Brasil sugere monitoramento constante na cidade gaúcha de de Gramado
Medidas apresentadas em relatório buscam reduzir impactos de desastres e prevenir novas ocorrências
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) — empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia — publicou, nesta quinta-feira, 7, o Relatório de Avaliação Técnica Pós-Desastres de Gramado, no Rio Grande do Sul. Na avaliação, o SGB sugere uma série de ações para reduzir os impactos dos deslizamentos e rastejos que afetaram o município em novembro, após fortes chuvas na região da Serra Gaúcha. Entre as principais medidas sugeridas no relatório, está o monitoramento permanente de áreas afetadas, obras estruturantes e estudos complementares para orientar o planejamento urbano. Mais de 40 mil pessoas que vivem na cidade, além de turistas e trabalhadores, poderão ser beneficiados com as ações propostas.
“À medida que avançamos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) com o mundo voltando seus olhos para a urgência da ação ambiental, a situação em Gramado nos lembra da necessidade imediata de resiliência e adaptação”, ressalta o diretor-presidente do SGB, Inácio Melo.
O estudo realizado entre 22 e 23 de novembro, em atendimento à solicitação feita pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Gramado, integra uma série de ações que o SGB desenvolve em todo o país para contribuir com ações de planejamento territorial e prevenção a desastres. A análise teve, como foco, áreas afetadas pelos eventos geológicos no dia 18 de novembro, na Rua Ladeira das Azaleias e na Estrada da Pedreira, no Bairro Três Pinheiros; e na Rua Augusto Orlandi, no Bairro Loteamento Orlandi.
Dos dias 11 a 18 de novembro, o volume acumulado de chuvas alcançou cerca de 291 milímetros, montante que corresponde a mais que o dobro da média histórica de chuvas do mês de novembro, que é 144,5. Somente no dia 18, choveu 98 milímetros, volume que representa 67% da quantidade média de chuvas para o mês, indica o relatório do SGB, com base nos dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
As causas
“A partir da avaliação feita em campo pelos pesquisadores que estiveram no local, é possível indicar que dois dos eventos (nas ruas Ladeira das Azaleias e Augusto Orlandi) foram caracterizados por rastejos – movimentos extremamente lentos do terreno –, e o outro (na Estrada Pedreira) foi um movimento mais rápido, do tipo deslizamento. As causas estão relacionadas ao somatório das condições geológicas e geotécnicas da região, alinhadas às fortes chuvas que atingiram a área no mês de novembro”, explica o coordenador-executivo do Departamento de Gestão Territorial do SGB, Julio Cesar Lana.
O rastejo é um movimento de difícil previsibilidade, que pode ocorrer em áreas planas, e é caracterizado pelo movimento lento do solo. Pode ocorrer de forma sazonal ou contínua. Esse movimento se manifesta a partir de trincas e deformações em superfície.
O deslizamento é um fenômeno rápido, caracterizado pelo movimento descendente do solo em encostas íngremes.
Ações preventivas
O SGB sugere medidas que podem ser adotadas pelo poder público local para reduzir o impacto de eventos geológicos, evitar que os casos evoluam e prevenir novas ocorrências. Uma das ações é o monitoramento contínuo da região, principalmente nos períodos de chuvas intensas. “O monitoramento é fundamental para avaliar se novas trincas estão surgindo e se as trincas que já existem continuam em evolução, ou seja, estão se movimentando ou continuam abrindo”, explica Lana.
Segundo ele, a população também precisa ser orientada quanto à possibilidade de ocorrência dos fenômenos e saber como agir para identificar sinais. Alguns indícios de alerta após chuvas são: deformações no solo, nas casas ou cercas; inclinação de postes e árvores; ou trincas no asfalto.
Para garantir a segurança da população, o SGB recomenda que se espere o período de estiagem para o retorno da população às residências localizadas no entorno de áreas críticas. Outra sugestão é a criação de rota segura das ruas do Bairro Três Pinheiros para evitar a Estrada da Pedreira por hora, até que seja feita uma avaliação geotécnica por profissional habilitado dos taludes neste ponto da estrada.
O SGB também recomenda avaliar a viabilidade de execução de obras estruturais, como a contenção de encostas, e obras de drenagem pluvial para reduzir os impactos de eventos hidrológicos. O coordenador-executivo do DEGET explica que grande parte dos movimentos de massa — como deslizamentos, rastejo e fluxo de detritos – são deflagrados pelo excesso de água no solo: “Quando são feitas obras de drenagem na cidade, e especialmente em áreas de risco, é possível evitar que um grande volume de água se infiltre naquele terreno, que é naturalmente instável. Assim, atenua-se a possibilidade de ocorrência de movimentos de massa”.
Estudos complementares
Em um esforço para prevenir novos desastres, o SGB e a Prefeitura de Gramado já iniciaram os diálogos sobre a possibilidade do desenvolvimento de estudos complementares a partir de 2024, conforme sugerido no relatório. O objetivo é realizar investigações mais detalhadas para identificar áreas de risco, subsidiar o planejamento territorial e evitar a expansão urbana para áreas de risco.
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