Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do BrasilGiuseppe Cacace / AFP
"Temos de nos perguntar por que um partido que muitas vezes no discurso pensa que tem toda a verdade do planeta só conseguiu eleger 70 deputados. Por que tão pouco se a gente é tão bom? Se a gente acha que poderia ter muito mais. É preciso que a gente tente encontrar respostas dentro de nós. Será que estamos falando aquilo que o povo quer ouvir de nós?", questionou o presidente.
Em alguns momentos, Lula deu bronca nos correligionários e disse ser preciso falar com setores da população com quem o PT tem dificuldades, como evangélicos e empresários.
"Precisamos aprender a construir um discurso para conversar com essa gente. Como a gente vai convencer pequenos e médios empresários a votar em nós? Quem vota no PT são pessoas de até 2 salários mínimos. Um metalúrgico de São Bernardo que ganha 8 mil reais já não quer mais votar na gente. Pega pesquisa. Quem ganha mais de 5 salários mínimos já tem dificuldade de votar na gente. É porque essa pessoa ficou ruim? Não, é porque, possivelmente, ela elevou um milímetro o padrão de vida, de aprendizado, e nós não aprendemos a conversar com ela", analisou o presidente.
Lula disse aos petistas que as eleições do ano que vem devem repetir a lógica de disputa contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Essa eleição não sei se será municipalizada, estadualizada ou nacionalizada. Acho que vai acontecer um fenômeno. Acho que vai ser mais uma vez Lula e Bolsonaro disputando nos municípios. Não pode aceitar provocação, medo, ficar com vergonha. O cachorro quando late para a gente, a gente late também para ele ficar com medo da gente", afirmou.
Segundo o presidente, o partido "precisa voltar um pouco a ser como era no começo para a gente reconquistar a credibilidade que muitas vezes a facilidade nos tira do jogo".
"Hoje, ninguém quer fazer campanha sem dinheiro. A gente sabe que é muito difícil a campanha eleitoral como está colocada", afirmou.
"As eleições municipais vão servir para a gente aprender a discutir na cidade. A gente tem condições de ter candidato a prefeito? Não precisa ter condições de ganhar. Candidatura não é importante só quando ganha. Pode fazer candidatura, perder e construir base para vitória no ano seguinte, mas é preciso que tenha coragem de escolher o melhor", afirmou, completando, em seguida: "Não pode ser briguinha interna do PT, tem que ser aquele que vai melhor defender o partido".
Depois, Lula adotou um tom mais pragmático. Defendeu que cada correligionário defina, a depender das situações locais, se é melhor fazer uma aliança para serem competitivos.
"Se a gente não tiver condições de ter uma candidatura competitiva, que possa olhar o nosso partido durante a campanha e procurar aliados para fazer acordo. Se não tem candidato, tem que apoiar o cara mais próximo de nós, disposto a construir uma linha programática junto conosco. A gente pode fazer as pessoas assumirem compromissos. A gente tem que fazer acordo com pessoas de esquerda", afirmou.
Segundo Lula, as realidades locais têm de ser analisadas pelos líderes municipais. "Não é o presidente da República que vai saber o que está acontecendo", disse.
O presidente defendeu, ainda, a escolha da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) como presidente do PT. Disse que, no momento em que ela assumiu, em 2017, era preciso "falar para dentro", referindo-se à militância petista.
"Quando ela foi candidata a presidente, muita gente dizia que ela não podia ser candidata, que ela só fala para dentro e não fala para fora. Eu dizia que precisamos de alguém que fala para dentro, alguém que o PT respeite, goste, que trabalhe para o PT. Hoje posso dizer: graças a Deus você é a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores", disse Lula.
"Não tenho pressa, faz um ano que assumimos e não aconteceu tudo As coisas não nascem no dia. 90% das coisas que anunciamos ainda não brotou. E é o ano que vem que vai começar a brotar e vocês vão estar em campanha", afirmou o presidente.
Lula disse que não conseguirá visitar todas as cidades, mas se comprometeu a seguir o que a direção do partido definir para fazer campanha no ano que vem. Também colocou seus ministros à disposição para ajudarem nas campanhas eleitorais.
"É uma campanha que vamos ter que nacionalizar. Ministros não podem fazer campanha no horário de trabalho, mas depois a gente pode dar um pitaco, quando tiver acabado a jornada da gente", afirmou, em tom de brincadeira.
Apesar disso, o presidente tentou incentivar o trabalho de militância ao dizer que não são as ações do governo federal que vão, por si só, garantir as eleições.
"Não tem nenhum governo em nenhum País que em tão pouco tempo fez o que fizemos nos primeiros meses do nosso governo, mas não é isso que vai ganhar as eleições. Pode ajudar. Mas o que vai ganhar as eleições é a gente ter coragem de fazer o embate político ideológico com os nossos adversários, para que a gente possa mostrar a diferença de projetos de cidades", afirmou.
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