Cerca de 7 milhões de alunos não sabem como será o formato nos próximos anosReprodução

A votação do projeto de lei do novo ensino médio ficará para o ano que vem. Após reunião com o ministro da Educação, Camilo Santana, o relator do projeto na Câmara, ex-ministro Mendonça Filho (União-PE), aceitou adiar a discussão. A indefinição sobre a última etapa da educação básica deixa no limbo cerca de 7 milhões de alunos, que não sabem como será o formato do ensino médio nos próximos anos.

Mendonça Filho diz já ter falado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que acatou o pedido, segundo conta. O relator também conversou com secretários estaduais de Educação antes de definir o adiamento. Ao Estadão, ele afirmou pretender exaurir a discussão sobre o tema antes de votá-lo na Casa. Procurada ontem, a assessoria de Lira disse que ele estava reunido com deputados.

"Quero dar uma chance para aprofundar negociações e achei importante que, mesmo tendo divergências presentes, a gente possa exaurir essa negociação. Tenho minhas convicções, tem um apoio muito grande de parcela até majoritária do Consed (conselho de secretários de Educação), mas acho que o apelo dele (Camilo Santana) tem de ser atendido nesse aspecto", disse o relator. "Não fixou data, mas no começo do próximo ano vamos votar isso. Vamos estender ainda mais as conversas."

Articulação

A mudança de cronograma é uma pequena vitória da articulação política do governo, que vinha sendo criticado na condução da votação do PL do Ensino Médio. Mendonça Filho foi criador da reforma do ensino médio quando esteve à frente do Ministério da Educação na gestão Michel Temer (MDB).

A principal divergência entre o texto proposto pelo governo e o relatório apresentado pelo relator é a carga horária básica. Mendonça Filho estabeleceu um teto de 2,1 mil horas para a formação geral básica, enquanto o Ministério da Educação (MEC) defende que sejam 2,4 mil horas, com a possibilidade de que a educação técnica cumpra apenas 2,1 mil horas.

Na última semana, o MEC retirou a urgência do projeto de lei enviado à Câmara para que a proposta não fosse apreciada ainda neste ano. O presidente da Casa, no entanto, manteve a posição e a urgência foi aprovada no dia 14.
A reforma do ensino médio é o principal entrave do governo na Educação. Desde o início do ano, Camilo Santana tem tentado equacionar pressões em torno do tema. De um lado, a esquerda pressiona por uma revogação total do PL. De outro, secretários estaduais de Educação e fundações empresariais defendem a manutenção do modelo com ajustes.

Em setembro, o MEC enviou o PL ao Congresso. O texto foi fechado pelo governo após consulta pública sobre a reforma. Uma das principais críticas ao modelo do novo ensino médio é a falta de critérios a respeito dos chamados itinerários formativos, trilhas específicas escolhidas pelos estudantes para aprofundar a formação. A opinião é de que o modelo intensifica desigualdades no sistema educacional brasileiro.