Padre Júlio Lancelotti avalia que proposta de instalação da CPI pode ter relação com o calendário eleitoralRovena Rosa/Agência Brasil
'Eles devem propor políticas públicas', diz padre Lancellotti após vereadores ensaiarem CPI
Diante da repercussão negativa, proposta de instalação da Comissão se transformou em dor de cabeça para os autores do requerimento
São Paulo - O padre Júlio Lancellotti, de 75 anos, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de São Paulo, começou 2024 lidando com o anúncio de que seria um dos principais investigados em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de São Paulo. A ideia era envolvê-lo em uma apuração sobre o trabalho de organizações não governamentais (ONGs) que atuam na região da Cracolândia em parceria com a Prefeitura e que, diante da repercussão negativa, agora parece estar mais longe de sair do papel.
O padre alega que sequer faz parte hoje das entidades citadas pelo autor do requerimento, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil). Seu trabalho na pastoral, segundo ele, é feito com recursos da Arquidiocese e por meio de doações da comunidade na Paróquia de São Miguel de Arcanjo, no bairro da Mooca. "É uma coisa um tanto desconjuntada, sem nexo", afirma, em entrevista ao Estadão, o padre, que costuma ser chamado de "esquerdista" por opositores.
Em menos de uma semana, o que prometia ser uma CPI para investigar ONGs na Câmara se transformou em dor de cabeça para os parlamentares que ajudaram a protocolar o documento. Ao menos quatro deles voltaram atrás dizendo que o pedido de CPI não tinha o nome do padre e que foram enganados. Rubinho não atendeu a reportagem para comentar o caso. O religioso não descarta ser uma vítima de perseguição política. Confira a entrevistado religioso.
Como foi receber a notícia de que poderia ser alvo de uma CPI?
É uma coisa um tanto desconjuntada. Ser alvo de uma CPI sobre a atuação na Cracolândia é um pouco sem nexo.
O senhor entende que está sendo vítima de perseguição política?
Olha, é difícil definir qual a motivação, mas tudo é possível neste momento que a gente vive.
Por conta do ano eleitoral?
Sim.
Ficou surpreso com a repercussão e do apoio recebido?
Teve muito apoio realmente, e acho que isso é importante porque não é uma coisa pessoal. É para a pastoral, para a Arquidiocese e para a população de rua.
Acha que sai com a imagem e com o trabalho fortalecidos de alguma forma?
Não é que fortaleça, mas dá força para a gente continuar na luta
De que forma os vereadores podem ajudar a solucionar o problema da Cracolândia?
Eles têm que discutir políticas públicas, métodos e elaborar uma política de Estado, e não de governo.
Faz sentido investigar as ONGs?
Eles podem investigar. Acho que isso não é um problema. Eles podem investigar as ONGs para saber qual o programa de cada uma, o que elas estão fazendo com os recursos que têm, se os recursos são suficientes. Hoje, grande parte dos trabalhos da Prefeitura na saúde e na assistência social são feitos com parcerias.
Faltam recursos hoje para atender a população de rua?
Às vezes, falta. Há pessoas que querem ser libertadas e que não conseguem.
O autor do pedido de CPI usa o termo "máfia da miséria" para se referir ao trabalho das ONGs...
Precisa clarear o que isso quer dizer. São figuras de linguagem, dentro da liberdade de expressão de cada um, e não sei a que ele está se referindo.
Seria uma crítica à política de redução de danos que não retiraria as pessoas da dependência química.
A política de redução de danos é uma política da Organização Mundial da Saúde (OMS), exercida em vários países. Agora, ela tem limitações. Nenhuma técnica é infalível. Algumas pessoas respondem, outras não. Depende da situação de cada um.
Como o senhor pretende se posicionar daqui para frente?
Vou continuar fazendo o meu trabalho pastoral. Eu não sou de nenhum partido político. E não sou cabo eleitoral de ninguém.
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