Claiton Homrich foi encontrado por grupo de amigosArquivo pessoal/Eder Sari

Os temporais que atingem o Rio Grande do Sul desde a última segunda-feira, 29, já deixaram 37 mortos, 74 feridos e ao menos 74 pessoas desaparecidas. Segundo a Defesa Civil, mais de 17 mil pessoas estão desabrigadas, 235 cidades foram afetadas e mais de 351 mil pessoas sofrem com as inundações. Nesta quinta-feira, 2, vítimas do "maior desastre" climático já enfrentado pelos gaúchos relataram o desespero vivido pelas consequências das inundações.
As cidades gaúchas enfrentam os efeitos do forte temporal. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou estado de calamidade pública. A medida foi publicada na noite de quarta-feira de feriado, 1º, em edição extraordinária do Diário Oficial. As localidades mais atingidas são as regiões Central, dos Vales, Serra e Metropolitana de Porto Alegre.
Cachoeira do Sul e Rio Pardo, na Região Central do estado, estão entre as cidades que deverão ser as mais atingidas por cheias de rios nos próximos dias, de acordo com a informação divulgada pelo governador Eduardo Leite.
Há a recomendação para que pessoas que moram próximas a rios deixem suas casas imediatamente. Entre as cidades, um engenheiro ficou preso sobre o carro durante 15h e foi encontrado por um grupo de amigos.
Claiton Homrich, de 53 anos, afirma que estava voltando do trabalho para casa, de São Leopoldo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, para Cachoeira do Sul. Por volta das 18h30 de terça-feira (30), uma lâmina de água se transformou em uma grande onda, que arrastou o carro para fora da rodovia. O veículo tombou de lado e ficou preso em uma árvore.
"É muito tenso, muito tenso. O que acontece: tu fica impotente ali, tu não sabe o que vai acontecer. Pra tu ter uma ideia, não dá para dormir, né, porque o carro balançava, e tu sempre se segurava no galho de uma árvore, e vai que o carro escorrega da árvore e vai que ele caia", relata Claiton.
"Quando tu está sozinho, começa a fazer reflexões. Tu começa a pensar, pensar. Querendo ou não, foi um renascimento. Qualquer vacilo ali era fatal", avalia.
Em Candelária, no Vale do Taquari, mais de 100 pessoas aguardam ser resgatadas. Em algumas localidades, o socorro é feito de helicóptero. Uma moradora foi resgatada na quinta-feira depois de esperar três dias pelo socorro que foi feito pela aeronave. Durante o atendimento ela contou como está a situação no seu bairro.
"Eu estou bem, estou bem. A gente é acostumado com a enchente só que desse jeito a gente nunca viu. O meu guri e a minha mãe já estão no hospital", disse a moradora que ainda não foi identificada, a TV RBS afiliada a TV Globo.
Em Santa Cruz do Sul, na Região Central do estado, moradores desabrigados precisaram se alojar no Parque da Oktoberfest. Tanto no município quanto em outras localidades próximas, 183 mil imóveis, de 15 municípios, estão com o fornecimento de água interrompidos.
"Eu tinha pena dos outros que eu via no abrigo, mas eu pensei: 'eu nunca vou precisar'. Eu tinha pena de ver aquelas pessoas todas de fora, na água se mudando, casa caindo. Agora chegou na minha casa isso aí. Eu estou desesperada. Nunca pensei que ia passar por isso", lamenta a aposentada Belmira Ramos.
Já em Venâncio Aires, na Região dos Vales, ao menos 170 pessoas estão desabrigadas. No município, as aulas estão suspensas. Foram 118,6 milímetros de chuva registrados nas últimas 24h.
A dona de casa Andreia Terezinha Conceição conta que não é a primeira vez que ela passa por essa situação: "É a terceira vez, né? É um sentimento de perda, impotência, porque a gente não sabe. É bem triste, mas vai fazer o quê? Deus dá força para a gente".
No município de Encantado, no Vale do Taquari, a orientação da Defesa Civil é que as pessoas que moram em área de risco deixem a residência imediatamente. A atenção foi redobrada já que a barragem 14 de julho, em Cotiporã, em que passa o Rio Taquari, está em processo de colapso.
"O sentimento é de tristeza, porque a gente não sabe como vai estar a casa da gente, as coisas da gente, que tanto trabalho a gente passa no dia a dia para construir, para conseguir comprar. E agora chegar do nada e a gente ter perdido tudo. É triste", lamenta uma moradora que precisou se abrigar com a filha no ginásio municipal da cidade.
Doações
Diante da situação de calamidade pública enfrentada no Estado, o governo gaúcho reativou o canal de doações para a conta "SOS Rio Grande do Sul" para receber doações via Pix que serão revertidas a donativos para as vítimas.
O Governo do Rio Grande do Sul e a Defesa Civil divulgaram duas maneiras de receber as doações:
- Centro Logístico da Defesa Civil Estadual
- Endereço: avenida Joaquim Porto Villanova, 101, bairro Jardim Carvalho, em Porto Alegre
- Telefone: (51) 3210 4255.
Pix para a conta SOS Rio Grande do Sul
- Chave - CNPJ: 92.958.800/0001-38
- Banco do Estado do Rio Grande do Sul
Atenção: quando realizar a operação, é necessário confirmar que o nome da conta que aparece é "SOS Rio Grande do Sul" e que o banco é o Banrisul.
A gestão e fiscalização dos recursos ficarão a cargo de um Comitê Gestor, presidido pela Secretaria da Casa Civil e composto por representantes de órgãos do governo e entidades sociais. Os recursos serão integralmente revertidos para o apoio humanitário às vítimas das enchentes e para a reconstrução da infraestrutura das cidades.