Godofredo de Oliveira Neto, membro da ABL, lamentou a decisão, que classificou como "retrocesso".
"A obra do Ziraldo, agora criticada, e solicitada que seja retirada do acervo da escola, não faz sentido. É um livro com quase 40 anos. O que está acontecendo com o Brasil, que agora é essa reversão, esse retrocesso? É não só injusto como injustificável. As pessoas não entendem o que é a literatura, a arte, o cinema, a escultura, a música. É o Brasil andando para trás", lamentou.
Já o escritor, acadêmico e Secretário-Geral da ABL, Antonio Carlos Secchin, considerou a medida arbitrária.
"Eu creio que toda censura é arbitrária. A opção para saber o que é bom e o que não é deve partir do próprio leitor. No caso em questão parece que a própria ameaça que foi o motivo da censura não se concretiza porque o pacto, até propositalmente, renega a violência e se transforma em um acordo de paz. Será que estamos proibindo livros que em vez de querer o sangue propõem a paz?", disse.
Livro narra amizade entre amigos
Publicado em 1986, O Menino Marrom narra o convívio de dois amigos, um negro e um branco, para entender qual a diferença das cores entre eles. No entanto, alguns responsáveis criticaram a escolha da obra para integrar o material de leitura.
"O livro fala em fazer pacto de sangue. Tem um trecho de uma velhinha atravessando a rua e duas crianças olhando e desejando a sua morte", reclamou um pai, que chamou o livro de "satânico".
Nas redes, houve quem criticasse a decisão.
"Um absurdo! Inacreditável censurarmos um livro, principalmente uma obra de um mineiro tão consagrado", escreveu uma moradora.
"Suspendem Ziraldo e liberam o uso de celular nas escolas. Alunos com celular nas mãos não prestam um segundo de atenção, quem dirá a uma obra dessas... Estamos perdidos!", se queixou outro morador.
Ziraldo morreu em abril, aos 91 anos de idade.
Nota da prefeitura
A prefeitura de Conselheiro Lafaiete afirmou que O Menino Marrom aborda de "forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade" e que é um "recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade".
Apesar disso, diz que lamenta "interpretações dúbias" e que, em "respeito aos pais e a comunidade escolar", iria suspender temporariamente o uso do livro em sala de aula para uma "melhor reflexão".
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