A defesa do general Mauro Lourena Cid não comentou o caso Divulgação/Alesp
O general, pai do ex-ajudante de ordens no governo de Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid, teria usado o escritório da Agência nos Estados Unidos para negociar joias e presentes desviados da União, atuando "como suporte do filho e do ex-presidente". A defesa do general foi procurada pelo Estadão, que aguarda retorno.
A investigação interna apurou que ele usou o celular corporativo para compartilhar fotos dos itens e estava nas dependências da Agência no momento das trocas de mensagens. Os dados foram obtidos nas capturas de tela que constam no inquérito da PF, tirado de sigilo na última segunda-feira, 8, pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, e cruzados com depoimentos de funcionários da Agência.
O general foi indiciado no caso no último dia 4, por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Segundo a delação do ex-ajudante de ordens, seu filho, o dinheiro da comercialização ilegal das joias no exterior foi depositado na conta do militar. A polícia também considerou que o general auxiliou o grupo na negociação das peças da Presidência da República. Uma das provas contra o militar foi uma foto de uma escultura, que ia ser vendida ilegalmente, onde o reflexo dele aparece.
Em nota enviada à imprensa nesta sexta-feira, 12, a Apex informou que as conclusões serão encaminhadas à Polícia Federal (PF), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
O relatório também aponta que o general continuou usando as dependências do escritório, mesmo após exonerado, e "relutou" em devolver os aparelhos de trabalho, como o notebook funcional, e que jamais devolveu o passaporte oficial com visto de trabalho vinculado à ApexBrasil.
Além do caso das joias sauditas, a investigação interna também apurou que Lourena Cid apresentava "resistência explícita ao resultado eleitoral", repetindo diversas vezes, segundo depoimento de funcionários, que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tomaria posse e que ele, Cid, continuaria à frente da Agência.
"Na avaliação da Comissão, tal expectativa pode ser lida a partir da ruptura institucional que, na ocasião, articulava-se em setores militares e que culminou na tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023", aponta trecho do relatório, que menciona a visita de Cid ao acampamento golpista em Brasília, em 3 de dezembro de 2022, acompanhado de dois funcionários do escritório de Miami, apontados como o servidores mais próximos do general — um deles foi demitido.
As apurações também indicam que Ricardo Camarinha, médico de Bolsonaro, era funcionário fantasma do escritório em Miami, contratado pela sede em Brasília e expatriado de forma não usual, em abril de 2022.
Para além dos possíveis crimes, um trecho do relatório fala também da má gestão de Cid, que apontou "comportamento desviante" e que o general não cumpria grande parte das tarefas relacionadas ao cargo.
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