Degradação deste santuário da biodiversidade ocorreu entre 2021 e 2023Gustavo Figueroa/SOS Pantanal
A Mighty Earth citou em um relatório uma operação policial realizada em abril no estado do Mato Grosso contra o "desmatamento químico" de mais de 81.200 hectares em onze propriedades situadas na maior área úmida do mundo.
A degradação deste santuário da biodiversidade ocorreu entre 2021 e 2023 com pulverizações aéreas de 25 tipos de "agrotóxicos", incluindo o 2,4-D, componente do Agente Laranja, utilizado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso.
A Fazenda Soberana, uma das onze propriedades envolvidas no crime ambiental, está no "centro de uma cadeia de abastecimento de carne bovina que conecta os três maiores frigoríficos com quatro grandes redes de supermercados no Brasil: Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí", indicou a Mighty Earth em um comunicado.
Multa recorde
O órgão afirmou na época que a pulverização "irregular" também poderia ter contaminado a água na área alagada, colocando em risco a fauna, especialmente os peixes, e até mesmo os seres humanos.
Usando imagens de satélite, a investigação da Mighty Earth, realizada em parceria com as organizações Repórter Brasil e AidEnvironment, descobriu que 3.447 hectares foram desmatados na Fazenda Soberana após a operação policial.
"Já tinha sido identificado o uso desse agente laranja e de outros componentes químicos para a destruição da floresta, mas do tamanho que a gente viu nesse foi a primeira vez", disse à AFP João Gonçalves, diretor da Mighty Earth no Brasil.
No total, incluindo o desmatamento atribuído à Fazenda Soberana, o estudo descobriu a destruição de 4.651 hectares em cinco propriedades pecuárias da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal, supostamente vinculadas direta ou indiretamente com JBS, Marfrig e Minerva.
'Não toleram desmatamento ilegal'
Uma das propriedades, localizada no estado do Pará, não está registrada como fornecedora, e as compras de outras três, que a JBS não menciona, "foram feitas antes de serem identificadas possíveis irregularidades socioambientais", assegurou.
As políticas de compra da empresa "não toleram desmatamento ilegal", disse em uma nota enviada à AFP na segunda-feira.
A Marfrig, por sua vez, afirmou à AFP que a Fazenda Soberana lhe "forneceu animais para abate" entre setembro de 2018 e janeiro de 2019. "Na época do abate, a propriedade cumpria todos os critérios socioambientais", afirmou.
Em comunicado enviado à AFP, a Minerva indicou que, em relação à Fazenda Soberana, no município de Barão do Melgaço, "não há nenhuma comercialização".
Já o Carrefour defendeu em sua resposta à ONG que, "após um estudo cuidadoso", pode confirmar "que nenhuma das cinco propriedades mencionadas fornece ao grupo".
A Mighty Earth denunciou ainda que 27 matadouros da JBS que abastecem com produtos os supermercados Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí estão "vinculados" à destruição de quase 470.000 hectares na Amazônia e no Cerrado entre 2009 e 2023.
Se incluídos nove frigoríficos "associados" à Marfrig e à Minerva, a área é de mais de 550.000 hectares, segundo seus cálculos, que são atualizados periodicamente. O estudo foi publicado no momento em que incêndios devastam o Pantanal.
Embora o fogo esteja associado a uma seca extrema agravada pelas mudanças climáticas, as autoridades afirmam que a maioria dos casos tem origem criminosa.
Para assegurar o cumprimento do protocolo, a Marfrig desenvolveu um sistema de geomonitoramento que avalia a conformidade das fazendas fornecedoras de acordo com tais critérios, checados antes de cada nova compra, de modo a identificar potenciais descumprimentos. Sempre que uma irregularidade é identificada, a propriedade é bloqueada até que a situação seja totalmente esclarecida. Como resultado desse monitoramento contínuo, a propriedade Fazenda Soberana encontra-se bloqueada, uma vez que o sistema da Marfrig detectou uma área embargada pela SEMA-MT (Secretaria de Estado de Meio Ambiente – Mato Grosso).
Do ponto de vista da rastreabilidade, a Marfrig antecipou, de 2030 para 2025, sua meta de monitorar 100% dos fornecedores indiretos em todos os biomas brasileiros. Neste momento, a Marfrig rastreia 100% de seus fornecedores diretos eaté junho de 2024, o Programa já atingiu 87% de rastreabilidade de indiretos no bioma Amazônia e 73% no bioma Cerrado, regiões estratégicas e de maior volume de animais fornecidos à empresa. São as maiores taxas do setor em controle de indiretos no Brasil. Além disso, todos os fornecedores indiretos localizados nas áreas de maior risco já estão 100% monitorados. Para nortear seu trabalho, a empresa desenvolveu um Mapa de Mitigação de Riscos Socioambientais, e um sistema de geomonitoramento, via satélite e em tempo real, que rastreia sua cadeia de fornecimento 24 horas por dia, assegurando a conformidade das fazendas fornecedoras de acordo com os critérios socioambientais da empresa.
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