’Kids pretos’ é o apelido dado aos militares do Exército de Forças EspeciaisDivulgação/Exército

Alvos da Polícia Federal (PF) em uma operação realizada na manhã desta terça-feira (19), "kids pretos" é o apelido dado aos militares do Exército formados nos cursos de Forças Especiais — considerada a tropa de elite da Força. Eles são especializados em guerras irregulares, ações táticas para se infiltrar em território inimigo, treinados para atuar em missões sigilosas e em ambientes hostis e politicamente sensíveis, e integram a chamada "elite" do Exército.

Eles recebem o apelido por utilizarem gorros pretos em operações. São caracterizados como especialistas em guerra não convencional, reconhecimento especial, operações contra forças irregulares e contraterrorismo.
Os militares podem passar pelos treinamentos intensivos em três lugares diferentes: Comando de Operações Especiais, em Goiânia, Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói, no Rio, ou podem completar a formação em Manaus, na 3ª Companhia de Forças Especiais.

De acordo com o Centro de Instrução de Operações Especiais, o programa existe desde 1957 e foi inspirado no curso "Ranger", com destaque para o Batalhão de "Special Forces", a principal unidade de infantaria leve e força de operações especiais dentro do Comando de Operações Especiais do Exército dos Estados Unidos.
O curso tem a duração máxima de 23 semanas (em média 5 meses) e ensina táticas específicas das operações especiais, como, por exemplo, na guerra irregular e em operações contra forças irregulares, "visando a consecução de objetivos políticos, econômicos, psicossociais ou militares relevantes, preponderantemente, por meio de alternativas militares não convencionais", explicam as informações publicadas pelo Centro de Instrução de Operações Especiais (CiOpEsp).

Essas missões podem acontecer tanto em momentos de crise ou conflito quanto em momentos de paz e regularidade institucional. Segundo o Exército, até o ano passado, os "kids pretos" tinham um efetivo aproximado em torno de 2, 5 mil militares.
Operação
A PF investiga se integrantes das Forças Especiais do Exército, os "kids pretos", usaram técnicas militares para incitar a tentativa de golpe de Estado no país e criar um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta manhã, pelo menos quatro militares foram presos, três deles integrantes dos "kids pretos", e um policial federal também foi detido.
Alvos
- Hélio Ferreira Lima: militar com formação em Forças Especiais, os 'kids pretos';

- Rafael Martins de Oliveira: militar com formação em Forças Especiais, os 'kids pretos';

- Rodrigo Bezerra de Azevedo: militar com formação em Forças Especiais, os 'kids pretos';
- Mário Fernandes: general reformado que foi secretário executivo da Presidência da República no governo Bolsonaro e hoje é assessor do ex-ministro e deputado federal Eduardo Pazuello;

- Wladimir Matos Soares: policial federal.
Segundo as informações da PF, as investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Os investigados são, em sua maioria, militares com formação em Forças Especiais (FE).

Entre essas ações, foi identificada a existência de um detalhado planejamento operacional, denominado "Punhal Verde e Amarelo", que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022, voltado para matar os já eleitos presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

De acordo com corporação, ainda estavam nos planos a prisão e execução de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que vinha sendo monitorado continuamente, caso o Golpe de Estado fosse consumado.

A PF destacou que o planejamento elaborado pelos investigados detalhava os recursos humanos e bélicos necessários para o desencadeamento das ações, com uso de técnicas operacionais militares avançadas, além de posterior instituição de um "Gabinete Institucional de Gestão de Crise", a ser integrado pelos próprios investigados para o gerenciamento de conflitos institucionais originados em decorrência das ações.

A ação também inclui a proibição de manter contato com os demais investigados, a proibição de se ausentar do país, com entrega de passaportes no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, e a suspensão do exercício de funções públicas.

Conforme a PF, o Exército Brasileiro acompanhou o cumprimento dos mandados, que estão sendo efetivados no Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e Distrito Federal.

Os fatos investigados nesta fase da investigação configuram, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa.