Deputado federal e ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), e ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)Reprodução/Internet

A Polícia Federal (PF) afirma no relatório final da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado que o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem (PL-RJ), sugeriu ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) retirar autonomia de delegados da corporação que atuavam em investigações que tramitavam no Supremo Tribunal Federal (STF).
A proposta de Ramagem, que é delegado federal de carreira, era que esses inquéritos passassem a ser comandados pelo diretor-geral da PF, cargo de indicação do presidente da República. A sugestão consta de um documento encontrado com Ramagem. O arquivo foi criado em março de 2020 e editado pela última vez em março de 2023.
O período coincide com os inquéritos das fake news e das milícias digitais, que miram Bolsonaro e diversos aliados. "O encaminhamento repassado por RAMAGEM é de que todas as investigações fiquem sob o controle do diretor-geral do órgão, de forma que se tenha maior influência e poder sobre as apurações", diz a PF no relatório.
Procurado, Ramagem não havia respondido até a publicação deste texto.
Ele foi indiciado pela PF, assim como Bolsonaro e outras 35 pessoas, pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do estado democrático de direito e formação de associação criminosa.
'Perseguição política'
A PF afirma que Ramagem assessorou Bolsonaro com estratégias de ataques às instituições democráticas, ao sistema eleitoral brasileiro e ao Judiciário. Após o indiciamento vir a público, o deputado federal escreveu nas redes sociais que se tratava de "narrativa para condenação" e reclamou de vazamentos do inquérito à imprensa em um momento que o relatório ainda era sigiloso.
"A persecução penal de hoje se tornou perseguição política. Invenção de crime para destruir um seguimento político. E ainda clamam ser em nome da democracia", disse Ramagem na rede social X no dia 22 de outubro. "Narrativas e invenção de crimes. Criminalizam quem age dentro da lei", acrescentou ele anteontem, quando o sigilo do documento já havia sido levantado.
O argumento de Ramagem era de que a regra na Polícia Federal deveria ser similar ao que ocorre Ministério Público Federal, onde cabe ao procurador-geral da República, chefe do órgão, atuar nos processos perante ao STF e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou designar subprocuradores-gerais para cumprir essa função.
No documento, Ramagem também se queixa de que ministros do STF escolhem quais delegados são responsáveis por determinado inquérito e reclama que a direção e a Corregedoria da PF, além do Ministério da Justiça, não estavam contestando decisões da Corte.
Bolsonaro chegou a nomear Ramagem como diretor-geral da PF em abril de 2020 sob o argumento de que queria ter um nome de sua confiança no comando da corporação. A nomeação resultou no pedido de demissão do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, que não aceitou a interferência. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, suspendeu a nomeação.