PF: lobista teria dado relógio de luxo e R$ 250 mil em propinaReprodução
PF: lobista teria dado relógio de luxo e R$ 250 mil em propina
Investigação recuperou mensagens com indícios de 'solicitações e recebimentos de vantagens financeiras indevidas'
A Polícia Federal (PF) suspeita que o advogado Roberto Zampieri, apontado como lobista dos tribunais, deu um relógio Patek Phillipe e R$ 250 mil em dinheiro ao desembargador João Ferreira Filho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), como "uma contrapartida ou uma vantagem a ser recebida em virtude de seu cargo público". Ferreira Filho está afastado do cargo desde agosto sob suspeita de ligação com esquema de venda de sentenças na Corte estadual.
O Estadão pediu manifestações do desembargador, via TJ-MT e a Associação de Magistrados do Estado, mas não havia obtido resposta até a publicação deste texto.
O advogado Flaviano Taques, investigado no caso, indicou que não vai se manifestar, pois não teve acesso ao inquérito. Valdoir Slapak, outro investigado, disse que aguarda o desfecho das investigações para se manifestar e disse que "sempre atuou com a mais absoluta lisura e transparência".
Mensagens
Segundo a PF, Zampieri, assassinado a tiros em dezembro passado em frente ao seu escritório, em Cuiabá, mantinha contatos e diálogos "bastante intensos e rotineiros" com o desembargador. A investigação recuperou mensagens com indícios de "solicitações e recebimentos de vantagens financeiras indevidas".
Os detalhes sobre o trânsito livre de Zampieri na Corte estadual e de suas relações com gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) constam da decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na última terça-feira, Zanin colocou a PF nas ruas para prender outro suposto lobista de sentenças, Andreson Gonçalves.
Andreson era amigo de Zampieri, que o chamava de "rapaz de Brasília" - na prática, ele atuava como uma espécie de correspondente de Zampieri junto a tribunais superiores.
A parceria dos lobistas agora é alvo da Operação Sisamnes, deflagrada pela PF. Por ordem do ministro Zanin, agentes federais vasculharam na terça-feira endereços de três assessores de gabinetes de ministros do STJ. Eles foram afastados de suas funções.
O desembargador João Ferreira Filho também foi alvo de busca na operação, assim como seu colega de Corte o desembargador Sebastião de Moraes Filho. Ambos são investigados, tanto no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como na PF, pela "amizade íntima" com Zampieri que teria resultado na venda de sentenças.
Moraes Filho e Ferreira já estão afastados dos cargos desde agosto, por ordem do CNJ, em decisão de natureza administrativa. Agora, por decisão de Zanin, vão usar tornozeleiras eletrônicas
Imagens
A suspeita da PF sobre o relógio de luxo que Zampieri pretendia dar para o desembargador surgiu de uma troca de mensagens e imagens entre o advogado e o magistrado, em 8 de novembro de 2023, um mês antes do assassinato do "lobista dos tribunais". Segundo os investigadores, "demonstrando veemente relação de proximidade" com o desembargador, Zampieri disse que levaria o Patek Philippe para que o magistrado pudesse apreciar. "Eu vou levar esse para o senhor ver, amanhã ou sexta."
As mensagens no "celular bomba" de Zampieri - encontrado junto do corpo do advogado após seu assassinato - indicam que a pretensão de presentear o desembargador com um relógio de alto valor havia surgido meses antes.
Em diálogo mantido com um outro investigado, Valdoir Slapak, o advogado mandou imagens de outro Patek Philippe. Zampieri escreveu que iria "presentar o nosso amigo com esse relógio". Isso ocorreu em 25 de agosto. Em nota, Valdoir Slapak disse que, "diante da natureza sigilosa do processo, ainda não teve acesso aos autos e, portanto, não possui informações detalhadas sobre o caso".
'Plausibilidade'
Um mês depois, em 22 de setembro do ano passado, Zampieri voltou a citar o "item de luxo" para Valdoir. Segundo Zanin, a "plausibilidade" da tese da PF, de que "ele" e "nosso amigo" corresponderiam, nos diálogos interceptados, ao desembargador João Ferreira Filho "é bastante indiciária nos autos e não pode ser desprezada".
Esse foi um dos fatores que levaram o ministro a determinar o monitoramento eletrônico e as buscas na casa e no gabinete do desembargador.
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