Antônio Donizete do Amaral, pai do homem jogado de ponte por policiais Reprodução/TV Globo

Antônio Donizete do Amaral, pai do homem jogado por policiais de São Paulo de uma ponte na Zona Sul, cobrou explicações sobre o caso, que chamou de "inadmissível". Segundo ele, o filho se chama Marcelo, tem 25 anos, trabalha como entregador. 
"Está bem, mas não consegui falar com ele... É inadmissível, não existe isso aí. Eu acho que a polícia está aí para fazer a defesa da população e não fazer o que fez", disse o mecânico em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo.
O caso aconteceu na madrugada de segunda-feira (2), mas só ganhou repercussão após o compartilhamento de um vídeo nas redes sociais nesta terça-feira (3).
Nas imagens, é possível observar os agentes realizando uma abordagem. Primeiro, dois policiais se aproximam, enquanto um outro levanta uma motocicleta caída no chão. Logo depois, um quarto agente aparece segurando o homem pela camiseta azul, que seria o motociclista abordado. Poucos segundos depois, o PM joga o homem no rio.
De acordo com a família, o jovem caiu de cabeça e machucou o rosto. Marcelo foi socorrido por moradores de rua que estavam embaixo da ponte e levado para o hospital, mas já está em casa. Sobre o comportamento do filho, o pai afirma que Marcelo não tem envolvimento com crimes.

"Trabalhador. Menino que sempre correu atrás do que é dele. Não tem envolvimento, não tem passagem, não tem nada. Eu gostaria de uma explicação desse policial aí e o porquê ele fez isso", questiona o pai da vítima.
Uma testemunha, que não quis se identificar, afirma que viu quando os agentes do policiamento com motocicletas abordaram o jovem.

"Tinham dois policiais da Rocam parados ali com cacetete na mão esperando para abordar. Aí esse menino veio da avenida, virou e aí foi a hora que ele viu os policiais e caiu no chão com a moto. Na hora que ele caiu no chão com a moto, como os policiais vieram em cima dele, eu e minha amiga saímos correndo", diz.
A testemunha ainda ressalta que a polícia estava no local para dispersar um baile funk que acontecia na rua. Um córrego corta a comunidade da Vila Clara, na Zona Sul de São Paulo. São cerca de três metros de altura que separam a ponte da Água Rasa. 
Punições
O caso gerou indignação e levou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a afastar das ruas 13 PMs. "A instituição reitera seu compromisso com a legalidade, sem tolerar qualquer desvio de conduta", disse o comunicado.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) classificou como absurda a atitude do PM. "A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. Policial está na rua pra enfrentar o crime e pra fazer com que as pessoas se sintam seguras."

Segundo ele, "aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda. Esses casos serão investigados e rigorosamente punidos. Além disso, outras providências serão tomadas em breve", disse o governador em publicação no X (antigo Twitter).
No Instagram, Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública, prometeu "severa punição" aos envolvidos. As identidades da vítima e dos agentes não foram reveladas. Os PMs são integrantes do 24.º? Batalhão (Diadema).

O Procurador-geral de Justiça do Estado, Paulo Sergio de Oliveira e Costa considerou as imagens "estarrecedoras e inadmissíveis" e solicitou aos promotores do Ministério Público de São Paulo que se "envide todos os esforços no sentido de punir exemplarmente, ao fim da persecução penal, os responsáveis por uma intervenção policial que está muito longe de tranquilizar a população".

Ele ainda destacou a sequência de casos e os registros de letalidade. "Os episódios recorrentes de descumprimento dos comandos legais por parte de alguns agentes públicos nos deixam mais longe da tão almejada paz social, em favor da qual o Ministério Público, dentro de sua atribuição de exercer o controle externo da atividade policial, continuará atuando de maneira inequívoca, cobrando das autoridades a observância dos preceitos da Constituição Federal."
A investigação caberá ao Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp), que deve apoiar o promotor designado para o caso. 
Questionada, a Polícia Militar disse, em nota, repudiar "veementemente a conduta ilegal adotada pelos agentes públicos no vídeo mostrado."
No texto, a PM ainda afirma que instaurou um inquérito policial militar (IPM) para apurar os fatos. "Anos de legado da PM não podem ser manchados por condutas antiprofissionais. Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida (em referência a um caso ocorrido próximo deste, no Jardim Prudência, no mês passado) e não arremessa ninguém pelo muro. Pelos bons policiais que não devem carregar fardo de irresponsabilidade de alguns, haverá severa punição", disse a corporação.

Comandante-geral da PM paulista, o coronel Cassio Araújo de Freitas, disse em entrevista à "GloboNews "que em mais de três décadas de serviço nunca tinha visto uma cena tão chocante. "Tenho 34 anos de serviço e não tinha visto algo parecido com isso", disse.

Ele afirmou que a ação foi filmada pelas câmeras nas fardas e as imagens estão sendo analisadas pela Corregedoria. "Nessa operação nós tínhamos 13 policiais, eles estavam com as câmeras e essas imagens estão sendo analisadas."

O chefe da corporação, no entanto, considera o erro como "individual" e nega que a letalidade policial seja um problema sistêmico no Estado, apesar de haver falhas. "Uma instituição com 90 mil homens, que trabalha 24 horas por dia, atendendo 30 milhões de ocorrências, nós vamos ter, sim, uma taxa de falha. Nós somos seres humanos", disse

"Embora você tenha essa percepção de que é sistêmico, é pontual", afirmou o coronel Freitas. "Se for colocar na ponta do lápis o número de ocorrências que atendemos, o número de confrontos que enfrentamos, o número de pessoas que salvamos, você vai ver que isso aí é uma taxa pequena. É claro, é uma taxa ruim, que tem uma visibilidade porque chama muita a atenção. É chocante ver uma cena como essa", afirmou.