Avanços legais ainda contrastam com exploração do trabalho doméstico Pixabay
Souza participou, na última quarta-feira (23), do lançamento da Campanha Nacional pelo Trabalho Doméstico Decente, no Recife. A iniciativa do governo federal, liderada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foi realizada às vésperas do dia dessas profissionais, celebrado no próximo domingo, 27 de abril.
Apesar da data, a campanha é permanente. Ao longo de todo o ano, auditores-fiscais, por exemplo, distribuem, durante suas fiscalizações, cartazes informativos sobre direitos trabalhistas para condomínios residenciais exibirem nas áreas comuns e elevadores, bem como cartilhas para trabalhadoras e empregadores domésticos.
A auditora Carla Galvão de Souza explicou que a campanha busca mobilizar e sensibilizar a sociedade, promover diálogo com entidades de empregadores e da categoria, e também ampliar a fiscalização para averiguar se há cumprimento das obrigações trabalhistas que estão na Lei Complementar 150 e na Constituição Federal.
Carla Galvão de Souza ressalta que há avanços a celebrar, principalmente em relação à valorização cada vez maior dos direitos para essa categoria. Ela também destaca que a divulgação desses direitos tem sido expressiva na repercussão de casos de resgates de pessoas em situação análoga à escravidão.
A auditora recordou que, em 1º de maio de 2024, houve a publicação da Lei 12.009, em prol do trabalho doméstico decente. “Foi um grande ganho dos últimos anos. O nosso desafio agora é realmente colocá-la em prática. Ainda hoje nós temos direitos que não são iguais para as trabalhadoras domésticas”, afirmou.
Caminho de direitos
“A última Pnad aponta que, em algumas regiões do país, se ganha menos do que um salário mínimo. Isso é uma problemática grande que a gente tem que enfrentar”.
Em 2022, por exemplo, o rendimento médio mensal de todas as trabalhadoras domésticas foi de R$1.018, abaixo do salário-mínimo que era de R$ 1.212. Além disso, as trabalhadoras brancas receberam em média R$ 1.145, enquanto as trabalhadoras negras receberam R$ 955.
Jornadas
“Isso inviabiliza que trabalhadoras tenham o seu direito de horas extras, de adicional noturno, de folga nos feriados”.
A auditora fiscal do trabalho lembra que a garantia de direitos da categoria teve um baque durante a pandemia, com diminuição no número de trabalhadoras registradas, e que o cenário não se reverteu.
"Nós continuamos ainda com um número muito alto de pessoas tidas como diaristas”, lamenta.
A auditora explica que há 5,8 milhões de trabalhadores domésticos no país, e que as mulheres são 90%. “A maioria são mulheres pretas ou pardas. E estão na faixa etária entre 40 e 60 anos”.
Sem registros
“A categoria do trabalhador doméstico é uma categoria que ainda tem altos índices de informalidade, cerca de 60%", descreve. “Muitos empregadores acabam pagando por fora o valor de um dia trabalhado, ou um feriado trabalhado extra. Por isso, não há o pagamento na folha de pagamento no e-social de forma correta. Outros desrespeitos são aos direitos ao 13º salário e às férias remuneradas”
Ela critica ainda que há uma visão dos empregadores sobre quem presta serviço doméstico de que há servidão, sem que sejam reconhecidos o conhecimento prévio e a profissionalização.
“Essa falta de reconhecimento, de valorização do trabalho e do nível de profissionalização que é exigido, é o que mais me impressiona. É como se as pessoas trabalhadoras fossem vistas como substituíveis a qualquer tempo e como se esse saber fosse descartável”
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