São Paulo - A Avenida Paulista, no centro de São Paulo, se transformou neste domingo (22) em palco da 29ª Parada do Orgulho LGBT+. De acordo com a organização, 4 milhões de pessoas participaram do evento, que reuniu 17 trios elétricos que desfilaram desde as 13h, rumo ao centro da cidade.
Este ano, o evento traz como tema "Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro", com foco nos desafios enfrentados por essas pessoas na terceira idade. A proposta é dar visibilidade às dificuldades dessa parcela da população, que além do etarismo, encara a solidão, barreiras no acesso à saúde e falta de políticas públicas.
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Ao som de música eletrônica e da batida dos leques, a parada reuniu amigos e casais de todas as idades, assim como famílias, em um ambiente de comemoração e consciência. Um dos primeiros blocos foi o das famílias de crianças transgênero, o Bloco Crianças e Adolescentes Trans Existem, que desfila há quatro anos no evento. Presidente da organização não governamental Minha Criança Trans, Thamirys Nunes, de 35 anos é, mãe de uma criança trans de 10 anos de idade e ativista pelos direitos infantojuvenis.
“A gente vem numa busca de trazer visibilidade, de mostrar que as crianças e adolescentes trans existem, que precisamos de direitos, que as nossas famílias são famílias como qualquer outra família, que as nossas crianças são como qualquer outra criança. A gente sabe que existe um movimento aí que insiste em negar a existência dos nossas filhas e filhos e insiste em dizer que não precisa de políticas públicas, em dizer que somos famílias disfuncionais. Estamos aqui no chão para dizer que somos famílias, como quaisquer outras famílias. E que vamos estar aqui lutando sempre pelas nossas crianças e adolescentes trans, porque, se precisam de futuro, o futuro começa com reconhecimento”, disse.
Com uma trajetória mais longa na parada, Mey Ling acompanha a mobilização desde 1996, vindo desde 2001 montada. Hoje com 45 anos de idade, considera importante continuar resistindo e se fazer ver neste contexto. “Tem protesto, tem mobilização, e é sempre festa. E montada a gente tem mais visibilidade, chama mais atenção, tem mais foto, todo mundo quer falar, todo mundo quer... Aí é isso, quando a pessoa vem, a gente consegue abrir o leque maior, consegue representar, consegue protestar, consegue colocar pra fora.”
Debutando na festa, o argentino German Rocha, também montado, desfilou alegre. Na terceira idade, acha importante conhecer São Paulo e acompanhar a luta pelos direitos além de sua Buenos Aires, de onde veio com o marido e um amigo para desfilar.
“Viemos para participar da festa, para demostrar que tanto na Argentina como no Brasil, em muitos lugares, temos a mesma ideologia, de sustentar nossos direitos e conquistas, de buscar mais revolução e mais luta. A América Latina não será vencida”, declarou. Perguntado sobre o ativismo pela diversidade em seu país, disse: "A Argentina tem muitos direitos, mas estamos passando mal com o presidente, que é terrível e nos envergonha, mas seguimos lutando para preservar o que temos construído”,
Parlamentares também acompanharam o ato, entre eles os deputados estaduais Carlos Giannazi (PSOL), Ediane Maria (PSOL), Carol Iara (PSOL) e Beth Sahao (PT), além da vereadora Luana Alves (PSOL) e da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL). Beth Sahao, Carol Iara e Luana Alves subiram ao trio para discursar e reforçar a importância da luta por direitos e dignidade.
De acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o evento deve movimentar aproximadamente R$ 548,5 milhões na economia da cidade — um crescimento de 16% em relação ao ano passado.
Envelhecimento ainda é tabu
O presidente da APOLGBT-SP, Nelson Matias Pereira, destacou a importância do tema deste ano, lembrando as dificuldades do envelhecimento no Brasil e explicando que, quando se trata da comunidade LGBT+, a carga é ainda maior, já que o envelhecimento dessas pessoas ainda é um tabu na sociedade e vem carregado de estereótipos e rótulos ofensivos, tornando essa população invisível, abandonada e mais vulnerável à violência de todos os tipos.
“Vivemos numa sociedade que cultua os corpos, e os corpos que envelhecem, e, muitas vezes, principalmente os corpos LGBTs, são ridicularizados com termos pejorativos. Eu, aos 59 anos, já ouço termos como maricona e coisas do gênero. E não, eu sou só um corpo que envelheceu e todos vão envelhecer e devem ter respeito, devem ser respeitados. É justamente contra esse apagamento que vamos às ruas”, disse Nelson.
De acordo com estimativas do IBGE, em 2025, o Brasil terá mais de 31 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos 2020 a “década do envelhecimento saudável nas Américas”, mas, na prática, a população LGBT+ idosa ainda enfrenta exclusão, abandono e invisibilidade.
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