A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, compareceu nesta quarta-feira (2), na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados para falar sobre o aumento das queimadas e desmatamento na Amazônia. Durante a sessão, a ministra foi alvo de novos ataques por parte dos parlamentares presentes.
O deputado Evair Vieira Melo (PP-ES) chegou a dizer que as falas de Marina na sessão são feitas apenas para a "militância dela", que ela tinha dificuldade com o agronegócio e criticou a gestão de Marina.
"A senhora tem dificuldades com o agronegócio, porque a senhora nunca trabalhou, a senhora nunca produziu, não sabe o que é prosperidade construída pelo trabalho", criticou o deputado. " Todo mundo sabe, o mundo sabe que a senhora tem um discurso alinhado com essas ONGs internacionais. A senhora é a dona da verdade e todo mundo que pensa diferente é do mal", continuou.
O parlamentar também voltou a dizer que ela é "adestrada" e que usa a a mesma estratégica de retórica das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e dos grupos terroristas palestino Hamas e libanês Hezbollah.
"Usei a expressão adestramento numa sessão passada, e não foi uma ofensa pessoal, porque repetições que busca resultado é adestramento", disse Evair. "Esse modus operandi da ministra não é algo isolado. A estratégia dela é a mesma que as Farcs colombianas usam, que o Hamas, Hezbollah usam.
Marina, então, respondeu: "Hoje de manhã eu fiz uma longa oração. E eu pedi a Deus que me desse muita calma, muita tranquilidade, porque eu sabia que depois do que aconteceu na , aqueles que gostam de abrir a porteira para o negacionismo, para a destruição do meio ambiente, para o machismo, para o racismo.[...] As pessoas iam achar muito normal fazer o que está acontecendo aqui no nível piorado, mas acho que Deus me ouviu e eu estou em paz".
"Eu estou em paz, porque tem uma palavra que eu repito sempre que eu aprendi com o apóstolo Paulo que diz o seguinte: 'É preferível sofrer injustiça do que praticar uma injustiça'. E eu prefiro sofrer injustiças do que praticá-las porque quando você pratica uma injustiça pode ter certeza que um dia a reparação virá. Quando você é injustiçado, a justiça virá", acrescentou.
"Eu tenho trabalhado muito, mas a história só é enxergada por aqueles que querem enxergar", acrescentou a ministra. "Fui terrivelmente agredida."
Em outro momento, Vieira chamou Marina de "mal educada", e afirmou que o ministério dela está em "péssimas mãos".
Marina rebateu dizendo que não iria responder, porque ele estava apenas realizando "várias acusações" contra ela.
Na audiência desta quarta, a ministra veio sob condição de convocação (o que a obriga a comparecer) para prestar esclarecimentos sobre o apoio ao acampamento Terra Livre, sobre o aumento das queimadas e do desmatamento na Amazônia; e sobre o impacto ambiental da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém.
Durante a audiência a Marina defendeu a participação no Acampamento Terra Livre, em abril, e que saiu no meio da marcha dos indígenas, e disse que a construção de uma rodovia em função da COP-30 é de responsabilidade do Estado do Pará e não do governo federal.
Evair Vieira de Melo ainda criticou a condução da política ambiental por parte de Marina Silva, dizendo, entre outras coisas, que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) age como uma indústria da multa e criticou os números de desmatamento.
A ministra voltou a dizer estar "em paz": "Estou muito tranquila com a minha consciência. Em termo de defesa do meio ambiente, que Deus julgue entre eu e vossa excelência e dê seu veredito".
Em outubro de 2024, como presidente da Comissão da Agricultura, o mesmo Evair afirmou que Marina foi "adestrada" para comparecer à reunião do colegiado. "Quem é que é adestrado? Tenha santa paciência. O senhor não vai me dizer que sou uma pessoa adestrada", respondeu a ministra na época.
Durante a sessão desta quarta, o parlamentar falou, em diferentes momentos, para Marina consultar seus assessores sobre dados de impactos da política do governo.
"Vocês dizem: 'Ah, ministra, peça para seus assessores ver os dados e ajudar a interpretar'. Eu entendo tudo que está codificado nessas falas. Tem muito preconceito, tem racismo, tem machismo, tem tudo", respondeu.
Marina voltou a afirmar que os deputados de oposição estavam sendo machistas. Quando defendia servidores do Ibama, o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) gritou "calma, ministra".
Ela respondeu: "Olha, isso não é uma forma de se dirigir a uma mulher. Quando vocês (homens) levantam a voz, dizem que estão sendo incisivos, contundentes. Quando uma mulher fala com firmeza", dizia a ministra, até ser novamente interrompida e não conseguir concluir o raciocínio. Para Marina, a postura dela não é "show, é defesa da dignidade".
Já o presidente da comissão de Agricultura, Rodolfo Nogueira (PL-MS), afirmou que Marina se apresenta como um símbolo de defesa ambiental, mas é protagonista de um dos capítulos mais desastrosos da política ambiental.
"A senhora, que fez a sua carreira, se apresentando como símbolo da defesa ambiental, protagoniza hoje um dos capítulos mais contraditórios e desastrosos da política ambiental brasileira. Sobre sua gestão, o desmatamento na Amazônia aumentou 482%", disse.
"Ao contrário da narrativa da senhora, de que hoje a culpa do desmatamento não é mais do Bolsonaro e a culpa dos incêndios das queimadas, do aumento das queimadas, não são mais culpa do presidente Bolsonaro, a culpa hoje é de São Pedro", finalizou.
A ministra então respondeu: "(...) Vossa excelência ficou durante um tempo, e todos nós aqui, muito perplexos diante de ação nenhuma, que era o governo anterior.Não criava unidade de conservação, tentava intimidar o Ibama e o ICMBio para não fiscalizar e não comprir com o seu papal. O Ibama aumentou a sua capacidade de fiscalização em 96%. O ICMBio aumentou a sua capacidade de fiscalização em mais de 200%. Nós aumentamos os nossos orçamentos, fizemos concursos, temos inúmeras de operações quando envolve Terra Indígena, desmatamento e exploração de madeira".
"E foi graças a esses esforços, sob orientação do presidente Lula, que tem compromisso de desmatamento zero até 2030, que nós alcançamos o resultado de redução de desmatamento de 46% na Amazônia nos dois primeiros anos, e de 32% no país inteiro nos dois primeiros anos de governo do presidente Lula", acrescentou.
"Isso que eu estou dizendo de redução de desmatamento, pode ser aferido por qualquer pessoa. Eu sei que os senhores são muito ocupados, mas os assessores não dão suporte", apontou.
A ministra ainda continuou: "A gente não briga com os dados, com a ciência. (...) Tem um provérbio bíblico que diz 'verdade, e a verdade os libertará'". "De quê que ela liberta?", indaga. "Da mentira", continou.
Ataques no Senado
Em maio, a Marina Silva deixou uma audiência pública no Senado após uma série de discussões com parlamentares da oposição. Na época, Marina disse que se sentiu desrespeitada durante a sessão convocada para debater a criação de unidades de conservação na Margem Equatorial.
Na audiência pública, a ministra foi cobrada pela demora na liberação de licenças ambientais. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) disse que "a mulher merece respeito, a ministra não". Marina exigiu um pedido de desculpas para continuar, mas não foi atendida.
Em outro momento do debate, o presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), reclamou da postura da ministra e cortou o microfone dela. Segundo o senador, Marina estava "provocando". No momento mais tenso da discussão, o senador do PL disse para a ministra "se por no seu lugar". Marina reagiu: "Gostaria que eu fosse mulher submissa, não sou".
Marina Silva, que participava na condição de convidada, informou que, diante do cenário, iria se retirar. O presidente do colegiado disse que, na próxima sessão, vai pautar a convocação de Marina para retomar o debate.
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