Lula disse que pediu a Trump para ouvir o ex-presidente dos EUA George W. BushRicardo Stuckert / PR
O governo dos EUA aumentou as tarifas sobre muitos produtos brasileiros em mais de 50%, mas Lula e Trump conversaram sobre a possibilidade de chegar a um acordo durante uma reunião na Malásia em outubro.
"Eu tenho o número dele, ele tem o meu. Não tenho problema em ligar para ele", disse Lula a repórteres antes da cúpula climática das Nações Unidas, conhecida como COP. Sua 30ª edição começa esta semana em Belém, uma cidade brasileira no coração da Amazônia.
"Quando a COP30 terminar, se uma reunião entre meus negociadores e os dele ainda não estiver agendada, ligarei para Trump novamente", disse o líder brasileiro, que acrescentou que seus principais negociadores, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda Fernando Haddad, estão ansiosos para discutir.
Lula também pediu à América Latina que ajude a evitar um conflito na Venezuela, enquanto o governo Trump ordena ação militar contra embarcações supostamente ligadas a cartéis de drogas.
O veterano líder disse que está considerando participar de uma reunião na Colômbia na próxima semana da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, um órgão de 33 membros, na qual a ação militar dos EUA na região será discutida.
As operações militares de Trump no Caribe mataram dezenas de pessoas que ele acusa de serem membros de um cartel de drogas liderado pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Maduro nega as acusações, que ele afirma serem uma desculpa para a ação militar americana na região.
"Eu disse a Trump que a América Latina é uma região de paz", acrescentou Lula. "Não quero que cheguemos ao ponto de uma invasão terrestre dos EUA na Venezuela."
O líder brasileiro disse que também pediu ao seu homólogo americano que ouvisse o ex-presidente dos EUA George W. Bush, que participou de discussões para pacificar a Venezuela após uma tentativa de golpe contra o então presidente venezuelano Hugo Chávez em 2002.
O chefe de Estado brasileiro está na capital paraense para presidir a cúpula de líderes da COP30, na próxima quinta (6) e sexta-feira (7), e concedeu entrevista coletiva a jornalistas da imprensa estrangeira, que estão no Pará para a conferência.
A bacia sedimentar está localizada na Margem Equatorial, que se estende do Rio Grande do Norte até o Amapá e é apontada como "o novo pré-sal", devido ao seu potencial petrolífero. A proximidade dos ecossistemas costeiros da Amazônia, entretanto, preocupa ambientalistas e comunidades locais.
No mês passado, a Petrobras obteve a licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para iniciar operação de pesquisa exploratória na região, que tem duração estimada de cinco meses. Nesse período, a empresa busca obter mais informações geológicas e avaliar se há petróleo e gás na área em escala econômica.
"Se eu fosse um líder falso e mentiroso, eu esperaria passar a COP para anunciar", disse Lula, em entrevista aos correspondentes internacionais.
O presidente reforçou que, se for encontrado petróleo e gás em condições economicamente viáveis na região da Bacia da Foz do Amazonas (bloco FZA-M-059), um novo processo de licenciamento será iniciado. A Petrobras tem outros poços na nova fronteira exploratória, mas, até então, só tinha autorização do Ibama para perfurar os dois da costa do Rio Grande do Norte.
"Temos autorização para fazer o teste. Se a gente encontrar o petróleo que se pensa que tem, vai ter que começar tudo outra vez para dar licença", afirmou Lula.
A exploração é criticada por ambientalistas, preocupados com possíveis impactos ao meio ambiente. Há também a percepção, por parte deles, de que se trata de uma contradição à transição energética, que significa a substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia renováveis, que emitam menos gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.
Em declarações recentes, o presidente Lula argumenta que não é possível abrir mão de combustível fóssil "do dia para a noite” e que os recursos obtidos com petróleo serão usados para financiar a transição energética.
As negociações entre os delegados de países signatários do tratado sobre o clima das Nações Unidas ocorrerão após a cúpula de líderes, de 10 a 21 de novembro. Na agenda, estão temas como financiamento climático, transição energética, adaptação e preservação da biodiversidade.

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