Presidente Lula discursa na cúpula de líderes na COP30AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na manhã desta quinta-feira (6) durante a abertura da Cúpula de Líderes da COP30, evento que reúne chefes de Estado e líderes das delegações que participarão das negociações oficiais da Conferência da ONU, realizada em Belém, no Pará. No evento, o chefe do Executivo alertou que 'rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global'.
"Forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e degradação ambiental. Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global", disse Lula. "Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente", acrescentou.
O presidente ressaltou que "interesses egoístas e imediatos preponderam sobre o bem comum" quando se trata de combate às mudanças climáticas.
"Para avançar, será preciso superar dois descompassos. O primeiro é a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real. As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição [...]", afirmou.
"Podem não assimilar o significado de um aumento de um grau e meio na temperatura global, mas sofrem com secas, enchentes e furacões. O combate à mudança do clima deve estar no centro das decisões de cada governo, de cada empresa, de cada pessoa", destacou o chefe do Executivo.
A fala remete ao constante discurso da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre "negacionismo climático". O relatório de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que o planeta está sendo direcionado para o patamar de 2,5º mais quente, até 2100. Neste cenário de alerta, mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano, de acordo com o chamado "Mapa do Caminho Baku-Belém". O PIB global pode encolher até 30%. 
Lula lembrou que este é o "momento de levar a sério os alertas da ciência", citando projeções que mostram milhares de mortes e prejuízos financeiros com o avanço do aquecimento global.

Ele também cobrou menos recursos para fins de guerra, e mais para a proteção ambiental. "Justiça climática é aliada do combate à fome e à pobreza".
Para o presidente, o que for discutido na cúpula de líderes deve servir de bússola para as negociações técnicas. O grande evento com líderes mundiais antecede a COP30. É o momento preliminar, considerado essencial para a negociação.

O cerne da discussão é o financiamento. No ano passado, na COP do Azerbaijão, foi estabelecido que os países desenvolvidos devem "assumir a liderança" no fornecimento de, pelo menos, US$ 300 bilhões anuais até 2035, muito aquém do que é considerado necessário. O Brasil se comprometeu a apresentar, junto ao Azerbaijão, um roteiro de como alcançar a meta de US$ 1,3 trilhão.

Esse documento divulgado menciona, majoritariamente, instrumentos já existentes. Os exemplos incluem o perdão da dívida em troca dos esforços dos países para implementar medidas de combate às mudanças climáticas, bem como a liberação de crédito em condições e taxas favoráveis. O problema - e, na verdade, a solução - é o ganho de escala global desses mesmos instrumentos.
Lula também também afirmou que é necessário que os países se afastem de combustíveis fósseis para reverter o desmatamento.

"A humanidade está ciente do impacto da mudança do clima há mais de 35 anos, desde a primeira publicação do relatório [da ONU], mas foram necessárias 28 conferências para reconhecer a necessidade de se afastar dos combustíveis fósseis e de parar de reverter o desmatamento", prosseguiu.
"Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapa do caminho para de forma planejada e justa reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos", disse.
O petista também afirmou que a COP30 será o momento da verdade. "Não podemos abandonar o objetivo do acordo de Paris de aquecimento de 1,5 grau Celsius", disse. "Nosso objetivo com essa cúpula de líderes em Belém é enfrentar as divergências", afirmou.

O chefe do Executivo ressaltou que a cúpula é o "ponto culminante" de um caminho pavimentado nos encontros do G20 e do Brics no Brasil.

"Essa cúpula de líderes é uma inovação que trazemos para o universo das COPs. E nós podemos e devemos discutir tudo para além dos muros da convenção. Nossas palavras, vão servir de bússola para os próximos dias", afirmou Lula.
Durante o pronunciamento, o chefe do Executivo voltou a defender a realização de um evento da magnitude de uma conferência da ONU fora de uma grande metrópole, em uma cidade no coração da Floresta Amazônica.

"Pela primeira vez, uma COP do clima terá lugar no coração da Amazônia. No imaginário global, não há símbolo maior do que a Floresta Amazônica. Aqui correm os milhares de rios e igarapés que conformam a maior bacia hidrográfica do planeta. Aqui habitam as milhares de espécies de plantas e animais que compõem o bioma mais diverso da Terra. Aqui residem milhões de pessoas e centenas de povos indígenas, cujas vidas são atravessadas pelo falso dilema entre a prosperidade e a preservação. São elas que, diariamente, conjugam em seus modos de vida a busca legítima por uma existência digna com a missão vital de proteger um dos maiores patrimônios naturais da humanidade", afirmou.
"Por isso, é justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso de sua casa. O ano de 2025 é um marco para o multilateralismo, apontou Lula.
O presidente terminou pedindo uma salva de palmas para todos os trabalhadores que ajudaram a construir, em pouco tempo, a estrutura para a realização do evento em Belém.
*Com informações do Estadão Conteúdo