O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu pautar nesta terça-feira (9) a proposta que pode reduzir a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros condenados pelos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023.
A versão apresentada pelo relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), diminui os anos de prisão, mas não extingue penas nem anula condenações. O PL da Dosimetria concede tratamento mais benéfico aos participantes que não tiveram poder de mando nem participaram do financiamento dos atos antidemocráticos.
O projeto original concedia anistia a todos os envolvidos direta ou indiretamente em manifestações ocorridas desde o segundo turno das eleições de 2022. Segundo Motta, a anistia é uma "pauta superada".
"Esse projeto não tratará de anistia, mas sim de uma possibilidade de redução de penas para essas pessoas que foram condenadas pelo ato de 8 de janeiro", explicou.
"Eu penso que o Plenário da Casa é soberano para decidir sobre essas questões. Quero aqui também deixar de público que a nossa decisão foi tomada única e exclusivamente por vontade do presidente, que tem poder de pauta. Ela não foi tomada para atender ao pedido de ninguém. Nós entendemos que é o momento em que a matéria está madura", disse Motta.
Os deputados devem analisar o caso da deputada Carla Zambelli (PL-SP), que pode ter o mandato cassado, mas ainda depende de parecer da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e Glauber Braga (PSOL-RJ). Os parlamentares também devem ver a situação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ) na próxima semana.
De acordo com Motta, o filho do ex-chefe do Executivo já atingiu o número de faltas "suficientes" para ter o mandato cassado. O deputado deixou o Brasil em fevereiro após avanço de investigações contra ele, o seu pai e aliados no Supremo Tribunal Federal (STF).
No caso do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem, não há o rito da CCJ. A Mesa Diretora publicará nesta terça o prazo de cinco sessões para que ele se defenda, e o caso vai direto ao plenário na próxima semana, dia 17 de dezembro.
Já o deputado Glauber o processo já foi concluído no Conselho de Ética e será levado ainda nesta semana para o plenário.
"Amanhã, teremos uma nova reunião de líderes para definir as prioridades antes do término do ano. Vamos fazer um esforço concentrado para votar pautas importantes para o Brasil", escreveu Motta no X (antigo Twitter).
Nas redes sociais, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ) afirmou que "cedeu à chantagem de Flávio Bolsonaro" (PL-RJ) e acena com uma mudança penal sob medida justamente no momento em que o Brasil, pela primeira vez, responsabiliza generais, golpistas e um ex-presidente que atentou contra a democracia.
"A proposta é inconstitucional porque a lei penal não pode ser produzida para beneficiar um indivíduo ou um grupo determinado, sob pena de violar seu caráter geral e abstrato. Além disso, representa grave afronta à separação dos poderes, por interferir de forma indevida em julgamentos ainda em curso no STF. Trata-se do Poder Legislativo se abraçando aos golpistas, num gesto vergonhoso para desconstituir a responsabilização criminal daqueles que atacaram o Estado Democrático de Direito", escreveu.
(...) Ainda querem votar amanhã a cassação do companheiro Glauber junto com a de Carla Zambelli: uma foragida, criminosa, condenada duas vezes com trânsito em julgado, que já deveria ter tido o mandato declarado perdido pela Mesa, assim como Ramagem e Eduardo Bolsonaro. É hora de uma grande mobilização da sociedade contra essa postura criminosa: reduzir pena de golpista contra a democracia não passará!", acrescentou.
ESCÂNDALO!
O presidente da Câmara, Hugo Motta, acaba de anunciar no Colégio de Líderes a votação hoje de um projeto feito sob encomenda para reduzir a pena de Bolsonaro e dos generais golpistas. Motta cede à chantagem de Flávio Bolsonaro e acena com uma mudança penal sob medida…
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) comemorou e afirmou que vai "lutar pela liberdade dos presos injustamente.
"Não vamos desistir do Bolsonaro - faremos de tudo para que ele seja alcançado. Que Deus nos ajude!", escreveu.
Ao que tudo indica, hoje irá para pautar a dosimetria do Paulinho. Vamos lutar pela liberdade dos presos injustamente e não vamos desistir do Bolsonaro - faremos de tudo para que ele seja alcançado. Que Deus nos ajude!
Bolsonaro foi preso preventivamente no dia 22 de novembro após decisão de Moraes, que apontou "risco de fuga" e violação da tornozeleira eletrônica. Dias depois, o ministro ordenou o trânsito em julgado da ação penal da trama golpista e definiu que o ex-presidente deveria começar a cumprir a pena no prédio da PF.
O ex-mandatário cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes.
Bolsonaro é o quarto ex-presidente preso desde a redemocratização, mas o primeiro condenado por golpe. Segundo Moraes, ele liderou uma organização criminosa armada para a prática de crimes contra a democracia e o Estado de Direito.
Entre os militares condenados pelo STF estão o general Paulo Sérgio Nogueira, que comandou o Exército e foi ministro da Defesa; e Augusto Heleno, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Ambos atuaram na gestão de Bolsonaro e vão cumprir pena em uma unidade militar.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-chefe do Executivo implementou um plano progressivo e sistemático de ataque às instituições democráticas, com o objetivo de prejudicar a alternância legítima de poder nas eleições de 2022.
Além da elaboração do plano "Punhal Verde e Amarelo", com planejamento voltado ao sequestro e assassinato de Moraes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Também constou na denúncia da PGR a produção da chamada "minuta do golpe", documento que seria de conhecimento de Bolsonaro e serviria para a decretação de medidas de estado de defesa e de sítio no país para tentar reverter o resultado das eleições e impedir a posse de Lula. A denúncia também citou o envolvimento dos acusados com os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
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