Fabiano Ribeiro Duarte JardimLudmila Lopes (RC24h)
Família acusa prefeitura de Cabo Frio de negligência após paciente morrer aguardando transferência
Fabiano Ribeiro Duarte Jardim, de 38 anos, deixa três filhas e uma esposa. Ele morreu nesta quinta-feira (17)
Fabiano Ribeiro Duarte Jardim, de 38 anos, morreu na noite desta quinta-feira (17) no Hospital Otime Cardoso dos Santos, em Cabo Frio, enquanto aguardava transferência para um CTI no Rio de Janeiro. Mesmo com uma liminar da justiça que impunha multa de R$ 1 mil por hora à prefeitura e ao estado em caso de descumprimento, “Biano”, como era carinhosamente chamado, permaneceu na unidade até seu último minuto de vida.
A situação gerou revolta em amigos e familiares, que acusam a Prefeitura de omissão, tendo em vista que a luta de Fabiano, que apresentava suspeita de leucemia, por tratamento se iniciou no último dia 27 de julho, quando deu entrada na UPA da cidade. No dia 1º, ele foi transferido para o Hospital Otime Cardoso dos Santos. Desde então, de acordo com denúncias, foram idas e vindas.
“Negligência de todos os lados. Só queríamos ele aqui. Ele tinha uma esposa e três filhas. Era o provedor de alimentos”, disse uma amiga da família.
Nas redes sociais, familiares afirmam que o secretario de Saúde de Cabo Frio, Bruno Alpacino, só teria comparecido para prestar assistência após a morte de Fabiano.
“Fora Bruno Alpacino. Depois que nós perdemos o nosso amigo Biano, esse verme apareceu. Mas enquanto existia vida, ninguém nos deu assistência. Covarde”, declarou a familiar.
O QUE DIZ O SECRETÁRIO
A assessoria de comunicação do secretário informou que, assim como a nota divulgada pela prefeitura, “se solidariza com os familiares e se mantém à disposição da família“.
Além disso, aproveitou para esclarecer alguns boatos que estão circulando pela internet. Enfatizou que, ao contrário do compartilhado pelos portais locais, Bruno não necessitou ser escoltado pela Polícia Militar para entrar ou sair do hospital.
A viatura teria sido acionada porque o clima no local estaria hostil desde o início e algumas pessoas estariam quebrando os vidros da unidade, o que caracteriza depredação ao patrimônio público.
Em relação ao boato do gestor da pasta ter oferecido um caixão à família, também foi informado que o fato não se passa de “uma falácia”. Conforme a assessoria de Alpacino, um comentário sobre custear velório e sepultamento de Fabiano teria surgido por parte da assistente social do hospital, após a mesma ser informada que a família estaria sem condições para bancar esse gasto.
ENTENDA O QUE ACONTECEU HORAS ANTES DA MORTE
Conforme informações da família, Fabiano foi entubado horas antes do óbito, em razão do agravamento de seu quadro clínico.
A Prefeitura de Cabo Frio emitiu uma nota afirmando que, ao ser admitido no Hospital Otime Cardoso dos Santos, Fabiano foi cadastrado no Sistema Estadual de Regulação (SER). A transferência, entretanto, estava sujeita à disponibilidade de vaga fornecida pelo estado.
Entretanto, uma nota da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro contradiz essa versão. Segundo eles, Fabiano só foi inserido no SER na quarta-feira (16), para um leito de enfermaria clínica, não CTI.
A solicitação, ainda de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, apenas mudou para CTI nesta quinta-feira, dia do óbito de Fabiano, devido à piora de saúde. Confira:
“A Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) informa que o paciente foi inserido no Sistema Estadual de Regulação (SER) ontem (16) com pedido para leito de enfermaria clínica. No entanto, a unidade solicitante mudou o perfil da vaga hoje (17) para leito de CTI devido à piora no quadro de saúde.
O Complexo Estadual de Regulação segue em busca ativa para realizar a transferência do paciente atendendo às suas necessidades clínicas no menor tempo possível”.
Questionada sobre o desencontro de informações, a Secretaria de Saúde de Cabo Frio se posicionou novamente.
De acordo com a pasta, Fabiano estava no sistema desde o dia 1º de agosto e vinha solicitando as vagas para o Estado.
“A princípio, a vaga solicitada era de UTI. Depois, ele teve uma melhora e foi para uma avaliação no Rio, retornando ao hospital para continuar a busca pela vaga de internação. Durante esse período, ele teve uma melhora, mas logo depois seu quadro de saúde piorou novamente.
O paciente já apresentava um quadro grave, mas em momento nenhum deixou de ser assistido. Ele recebeu toda a assistência médica, exames e medicamentos necessários. Seu quadro era gravíssimo e necessitava de acompanhamento de especialista, que é responsabilidade do Estado. A solicitação para o estado estava no sistema desde o dia 1º, algo que pode ser comprovado no próprio sistema”.
Diante da situação, o RC24h entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e solicitou um novo posicionamento. Até o fechamento da matéria, não obteve retorno.
HISTÓRICO MÉDICO DIVULGADO PELA PREFEITURA
Conforme a prefeitura de Cabo Frio, Fabiano deu entrada na UPA do Parque Burle dia 27 de julho, em situação de emergência, quando foi avaliado por hematologista.
No dia seguinte ele foi transferido para o Hospital Otime Cardoso dos Santos, para receber suporte de terapia intensiva, enquanto aguardava a liberação do Estado para transferência à unidade especializada, por meio do Sistema Estadual de Regulação (SER).
O histórico e prontuário médico do paciente demonstravam, conforme o município de Cabo Frio, que o mesmo havia sido transferido e avaliado anteriormente em Hospital especializado em hematologia de Nova Iguaçu.
Nessa nova avaliação se apresentava com quadro de anemia sintomática e sinais de descompensação, de acordo com o prontuário disponibilizado pela prefeitura.
Ao internar na UPG, conforme a prefeitura, Fabiano recebeu investigação laboratorial e de imagem e durante todo o período de internação, foram realizados exames específicos e ampliados para pesquisa das causas da doença.
No dia 2 de agosto, o paciente estava com quadro de saúde estabilizado, sendo transferido para enfermaria.
Nesse interim na enfermaria, ainda conforme o município, ele foi avaliado por outro hematologista do município e teria recebido orientações.
Depois 13 dias na enfermaria aguardando transferência para serviço estadual especializado, de acordo com o prontuário, infelizmente descompensou com falta de ar e piora dos níveis pressóricos e precisou voltar para a UPG e receber cuidados intensivos.
“Apresentando piora progressiva no quadro de clínico, foram oferecidos todo suporte e medidas para garantir conforto, analgesia, humanização e plena recuperação. Lamentamos, mas, apesar de todos esforços e cuidados da equipe nesta quinta-feira (17), o paciente apresentou duas paradas cardíacas, prontamente atendidas, porém deixou de emitir sinais vitais e veio a óbito.
Durante toda a internação, a equipe da Secretaria de Saúde permaneceu de prontidão para realizar a transferência tão logo a vaga na Rede Estadual de Saúde fosse disponibilizada. O que não ocorreu.
A Secretaria de Saúde destaca ainda que o município prioriza a agilidade na regulação do paciente e também no cumprimento das ordens judiciais, buscando o melhor caminho para o bem estar e recuperação do paciente.
A Prefeitura lamenta profundamente a morte do paciente e se solidariza com os familiares. A equipe da Secretaria de Saúde se mantém à disposição da família”, finalizou a prefeitura em nota.
SENTIMENTO DE IMPOTÊNCIA
Nas redes sociais, o sentimento é de impotência. “Tudo poderia ter sido tão diferente. O que eu mais temia aconteceu e eu não consegui fazer o que você me pediu, não consegui te tirar daquele lugar”, declarou uma parente.
O velório de “Biano” aconteceu às 14h desta sexta-feira (18). Mesmo com a partida precoce de Fabiano, a família continuará com o processo e em busca de justiça.
Até o momento, o diretor do Hospital Otime Cardoso dos Santos, Dr. Samuel, o secretário de Saúde , Bruno Alpacino, e o município de Cabo Frio já foram intimados.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.