Aristóteles DrummondAristóteles Drummond
O mais recente livro de Pedro Rogério Moreira, “A vida misteriosa dos gatos”, consolida o mineiro-brasiliense como uma referência no mundo memorialista contemporâneo. Um passeio diário na orla do lago na Península dos Ministros nada mais é do que testemunho correto de personalidades e fatos de nossa história recente.
Pedro Rogério, jornalista que ganhou dimensão nacional nos anos em que foi a cara do jornalismo da Globo na capital federal e nas esferas do poder, tem as letras em seu DNA. O pai, Vivaldi Moreira, foi o consolidador da Academia Mineira, dono de invejável texto e gostosa conversa, e os tios Pedro Paulo e Edison, editores e livreiros. Guardo as melhores recordações de Edison, amizade que herdei de meu avô Augusto de Lima Júnior. Chegando a BH, eu deixava a mala no Del Rey e corria para a Itatiaia, na rua da Bahia, onde ficava horas sentado com Edison, ouvindo histórias e conversas dele com os intelectuais que ali batiam ponto todos os dias.
Com texto coloquial, a beleza da simplicidade e da naturalidade, o testemunho da história exerce a mineiridade do berço sem as afetações comuns aos coadjuvantes de fatos e contemplados com a estima de notáveis de seu tempo.
Enfatiza as qualidades de dois presidentes nem sempre bem compreendidos, mas realmente merecedores do respeito e da admiração pelos serviços prestados ao Brasil.
José Sarney, sua devoção maior, foi efetivamente a mais rica figura humana no cargo depois de JK. Governou com sabedoria, tolerância e paciência. E deu ao país bons resultados na gestão, apesar do assédio de políticos endeusados na época, hoje no merecido esquecimento, que tentavam inaugurar o toma lá, dá cá de nossos dias. Devemos a Sarney a montagem da abertura como influente líder partidário no mandato de João Figueiredo e sua consolidação em seu governo. Ouviu dele ou testemunhou ao seu lado fatos revelados no livro de importância histórica.
João Figueiredo foi outro retratado com correção e respeito. Reuniu uma boa equipe a que não faltaram seis mineiros ilustres. Figueiredo tem sido esquecido, mas por ter pedido. Não gostava de política e dos políticos, apesar de os ter devolvido ao comando do país. Não foi feliz ao não passar a faixa presidencial.
José Aparecido de Oliveira, Roberto Marinho, Murilo Badaró, Afrânio Nabuco, Gilberto Amaral e Itamar Franco também estão entre os citados no livro com preciosas lembranças.
As caminhadas devem ter continuado e, portanto, nada mais natural que tenhamos outras obras nesta linha. Gabriel Kwake José Mário Pereira, um na orelha e outro na contracapa do livro, podem exigir um outro para breve. E o que todos devemos aspirar após a leitura destas deliciosas histórias. Paulo Pinheiro Chagas, Joaquim de Salles, Pedro Nava já tem um sucessor.
* Aristóteles Drummond é jornalista
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