Cesário Melantonio NetoDivulgação

O crime de genocídio praticado pelo ex-governo contra os Yanomamis, com o apoio do garimpo ilegal, choca o mundo exibindo horror do descaso e conivência de autoridades do desgoverno. Esse holocausto indígena afronta os mínimos padrões de civilização no momento da visita do primeiro-ministro alemão.
Foi uma carnificina deliberada. Típica dos mais abomináveis genocídios. Aldeias inteiras submetidas ao crime organizado. Por ação e omissão, o governo anterior colocou em ameaça sistemática o povo yanomami. Estive nessa região e sofro com essa tragédia sem precedentes, vendo esse povo morrer pela fome e por doenças em um contexto de ataques ilegais de garimpeiros que foram avançando floresta adentro, sem controle, destruindo tudo que viam pela frente – os indígenas, inclusive.
Na prática, os agentes invasores das terras demarcadas buscaram o extermínio sistemático como os nazistas contra os judeus. Os relatos que chegam da região são horrendos. O desespero de crianças esquálidas sem ter o que comer percorre o mundo e mostra um Brasil arruinado pela barbárie.
A falta de remédios, destruição de postos médicos, o aliciamento covarde por drogas e até estupros e assassinatos por afogamento chocam o Brasil e a comunidade internacional. A Corte Internacional de Justiça, em Haia, deve se ocupar desse genocídio, no plano internacional com a participação de um juiz brasileiro.
No anterior desgoverno, cerca de 20 mil garimpeiros, com apoio federal, dominaram a população de 28 mil yanomamis registrados. Caos e desespero viraram uma constante. Os indícios fortíssimos de genocídio não podem ficar sem punição. A violação aberta e escancarada dos direitos humanos mais elementares desses brasileiros constitui uma vergonha nacional e internacional.
Em Roraima, muitos dos habitantes indígenas idosos, adultos, crianças e bebês estão pele e osso a lembrar de maneira horrível os presos de outrora em campos de concentração nazistas. Aliás, este mês, o Parlamento Alemão promoveu cerimônia tocante e chocante sobre o campo de concentração nazista.
Em três anos, a área explorada pelo garimpo ilegal na área Yanomami cresceu 173%. A comoção causada por imagens de indígenas desnutridas chocou o Brasil e o mundo. Investigação sobre possível crime de genocídio deve ser feita pela Polícia Federal.
É de esperar-se, como já disse, escrutínio de órgãos como a Corte Internacional de Justiça que recebeu denúncias de entidades civis apontando crimes contra a humanidade e genocídio. A Corte somente vai atuar se as instituições brasileiras falharem na missão de investigar e punir os responsáveis.
Invasores e seus mandantes, com beneplácito e descaso das autoridades constituídas, contaminaram reservas com seus mercúrios, afogaram crianças com suas dragas e perseguiram abertamente os yanomamis como animais de caça. As ocupações ilegais, como já foi dito, mais que triplicaram, segundo os recentes registros. De uma forma deplorável, o governo Bolsonaro concedeu aval inédito para a garimpagem.
A desgraça foi anunciada porque a situação calamitosa da saúde dos índios foi abortada há mais de um ano e nada foi feito para evitar a crise humanitária. Já em novembro de 2019, no Tribunal Penal de Haia, entidades acusaram Bolsonaro de ameaça aos povos indígenas. Documento cita 20 medidas erradas, oito discursos de incitação à violência e cinco casos de omissão. Em julho 2020, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos exigiu ações para proteger o povo Yanomami e cita invasão de garimpeiros, contaminação dos rios por mercúrio e falhas no sistema de saúde.
A expansão da atividade garimpeira com Bolsonaro está intimamente ligada à emergência de Saúde pública na área e à subnutrição que atinge os indígenas. Propositalmente, o trabalho da Funai foi se enfraquecendo nos últimos quatro anos com o fechamento de postos de fiscalização e falta de investimento.
Nos últimos quatro anos, 570 crianças indígenas morreram por descaso e falta de ajuda. Há denúncias de que os recursos destinados à saúde indígena foram repassados para organizações evangélicas simpáticas ao anterior governo. Uma delas teria chegado a receber mais de R$ 870 milhões dessa verba carimbada.
A sociedade global, que passou a cobrar respostas urgentes ao tomar ciência dessa situação, mostra-se mais uma vez chocada com essas notícias que chegam do Brasil após a recente intentona extremista. Desta vez, governos estrangeiros e organizações multilaterais classificam como assassinatos os episódios revelados.
É notório salientar a falta de atenção básica à saúde dos povos originários, especialmente nos últimos quatro anos em que a política negacionista, aliada a negligente atuação dos órgãos do anterior governo, proporcionou o cenário perfeito para o genocídio que estamos assistindo no Brasil dos povos indígenas.
Cesário Melantonio Neto