Bruna Saraíva, presidente da ONG Ajuda Patas, e Valente: o cãozinho que não resistiu à depressãoDivulgação

A depressão é frequentemente associada apenas aos seres humanos, mas estudos e observações práticas demonstram que ela também afeta os animais. Cães e gatos, conhecidos por sua capacidade de criar vínculos emocionais profundos, estão entre os mais suscetíveis a desenvolver esse transtorno quando enfrentam situações de perda ou abandono. Embora muitas vezes silenciosa, a depressão animal é uma realidade que pode impactar drasticamente a saúde e o comportamento dos pets.
Reconhecer que a depressão não é exclusiva dos humanos é um passo importante para oferecer o suporte necessário aos animais que passam por essas situações. A compreensão e o acolhimento por parte de quem adota ou cuida de um pet são fundamentais para ajudá-los a superar os traumas e construir uma vida saudável e equilibrada. Nesse contexto, profissionais como médicos veterinários desempenham um papel essencial no diagnóstico e no tratamento dessa condição emocional.
Segundo a médica veterinária Dra. Brunna Anchieta, o abandono é uma das principais causas de transtornos emocionais em animais. “Eles frequentemente apresentam sinais de apatia, perda de apetite, letargia e falta de interesse por interações sociais. Esses comportamentos são indicativos de depressão, que afeta tanto o bem-estar quanto a recuperação de doenças e traumas físicos”, explica.

Dra. Brunna acompanha de perto os impactos do abandono na saúde física e emocional dos animais e alerta para a gravidade da situação. “A depressão em cães e gatos abandonados é desencadeada por mudanças bruscas na rotina, como a perda de um tutor, a falta de um ambiente seguro e a privação de estímulos físicos e mentais. Assim como nós, eles são seres sociais que dependem de vínculos afetivos para se sentirem seguros e amados”, destaca.

Além das necessidades básicas de alimentação e abrigo, a veterinária ressalta a importância da atenção emocional para os pets. “É essencial que a sociedade entenda que esses animais precisam de cuidado e afeto. Campanhas de adoção responsável e o trabalho de reabilitação comportamental em abrigos são grandes aliados no combate aos efeitos do abandono”, afirma.

Para tratar casos de depressão em animais, o acompanhamento veterinário é fundamental. Segundo Dra. Brunna, as terapias comportamentais, o enriquecimento ambiental e, em casos mais graves, o uso de medicamentos específicos podem ajudar os pets a superar o trauma.

Ela também reforça que adotar um animal é uma atitude que transforma vidas. “Ao adotar um pet, você não apenas salva uma vida, mas também devolve amor e confiança a um ser que já conheceu a dor do abandono. Juntos, podemos criar um futuro mais digno para os animais”, conclui.
A história de Valente: o cão que não resistiu à dor da depressão
Valente foi muito mais do que apenas um cão abandonado. Ele se tornou o símbolo do sofrimento causado pela rejeição e da profunda dor emocional que muitos animais enfrentam após serem deixados para trás. Resgatado pela ONG Ajuda Patas, Valente estava lutando contra uma depressão intensa, consequência da traição de seu antigo tutor. Apesar de todos os esforços de resgate e cuidados veterinários, Valente faleceu apenas três dias após ser resgatado, incapaz de superar o peso da tristeza que carregava em seu coração.

“O resgate do Valente foi extremamente difícil. Eu fiquei tentando capturá-lo por mais de quatro horas em uma rua enorme a Pavuna, com uma escada que subia para outra rua. Eu corri atrás dele por horas, enquanto outras ONGs me pediam ajuda, porque nem os resgatistas conseguiam se aproximar dele. Foi quando eu tive a ideia de deitar no chão e esperar ele vir até mim. E assim aconteceu”, conta Bruna Saraiva, presidente da ONG Ajuda Patas. A estratégia de deitar no chão foi crucial, pois revelou o quanto Valente estava fragilizado e necessitava de ajuda, mas também indicava o quanto ele estava emocionalmente quebrado.

Após o resgate, Valente foi levado para uma clínica veterinária, onde recebeu todos os cuidados necessários. No entanto, apesar de todo o esforço da equipe de profissionais, o cãozinho parecia ter desistido de lutar pela vida. “Quando internamos o Valente na clínica, notamos que ele não aceitava nenhum tipo de alimentação e não estava reagindo às medicações ou ao tratamento. Infelizmente, após 72 horas, ele faleceu. A tristeza do abandono foi tão profunda que a depressão não lhe permitiu ter forças para lutar por uma nova chance”, explica Bruna, emocionada com a perda.

“Até hoje me emociono com a história dele e me pergunto: quem seria tão cruel ao ponto de envenenar com tanta tristeza uma alma inocente como a dele? Ele se foi esperando que o dono voltasse para buscá-lo.
“Adotar um irmãozinho foi a solução para a depressão do meu gato”, diz Narjara Turetta

A atriz Narjara Turetta viveu de perto a experiência de ter um animal de estimação com sinais de depressão e encontrou no amor e na adoção a solução para transformar a vida de seu gato Simon Le Bon Turetta. Resgatado após ser encontrado abandonado no campus da PUC, Saimon foi o único companheiro felino de Narjara por quase três anos. Durante esse período, ela começou a notar mudanças no comportamento do gato, que se tornou apático e distante.

“Ele só dormia, quase não ficava perto de mim quando eu estava em casa, não interagia. Ficou muito apático. Um gato que era brincalhão simplesmente parou de brincar. Foi quando percebi que ele poderia estar com depressão”, relembra Narjara. A situação preocupou a atriz, que decidiu que a melhor solução seria trazer um novo companheiro para Saimon.

Mesmo relutante a princípio, Narjara atendeu à sugestão de um amigo e adotou Nick Rhodes Turetta, um filhote resgatado por uma protetora que ela encontrou no Instagram. “No início, o Saimon ignorou o Nick, mas no segundo dia já estavam se lambendo. Foi a coisa mais linda, porque vi que ele realmente precisava de um irmãozinho para sair da depressão”, conta.

O impacto positivo foi imediato. Segundo a atriz, Saimon voltou a ser o gato brincalhão de antes, interagindo mais, chamando Nick para brincar e demonstrando mais alegria. Narjara acrescenta, "Hoje somos uma família felina muito feliz”. 
Janeiro branco
A questão da saúde mental nos animais é tão importante que o mês de janeiro é dedicado à conscientização sobre o tema por meio da campanha “Janeiro Branco”. A iniciativa busca promover o cuidado com o bem-estar emocional dos pets, trazendo atenção para problemas como a depressão em cães e gatos, especialmente em situações de abandono, perda de tutores ou mudanças bruscas em suas rotinas.

O “Janeiro Branco” é um convite para refletir sobre as necessidades emocionais dos animais, destacando que eles também são seres sensíveis e podem sofrer com transtornos emocionais. A campanha reforça a importância de oferecer um ambiente acolhedor, vínculos afetivos consistentes e cuidados que promovam tanto a saúde física quanto o equilíbrio mental dos pets.

Essa conscientização é essencial para que mais pessoas compreendam o impacto que mudanças, perdas e traumas têm sobre os animais. Durante o mês de janeiro, o foco está em disseminar informações, incentivar práticas responsáveis e mostrar que, com atenção e carinho, é possível ajudar os pets a superar momentos difíceis e viver com mais qualidade de vida.