Gastão Reis, colunista de O DIA divulgação

Menotti del Picchia, ácido crítico literário, nos idos da década de 1960, esteve na concha acústica do Museu Imperial, onde pronunciou memorável conferência. Retenho na memória o caso com que nos brindou sobre um estudante de medicina, no Rio de Janeiro, numa prova oral comum naqueles tempos. Da matéria daquela cadeira, pouco sabia, mas, esperto, tirou pleno proveito da paixão do catedrático por Eça de Queiroz.
Entrou na sala de exame ostentando a capa do último romance do escritor, sabendo que o professor ainda não o havia lido. Descreveu com esmero para o mestre a trama do livro. O professor, extasiado, bebia suas palavras. E, ao final, deu-lhe nota 10 sem arguí-lo sobre a matéria. O palestrante arrematou o caso com o seguinte comentário: “E saiu por aí a povoar cemitérios”.
Esta história me veio à mente quando pensei nos nossos ciclos do pau-brasil, do açúcar, do ouro, do petróleo e de outros que seriam a redenção econômica e social do País. Eles passaram e nós ficamos para trás, em especial a população mais pobre. No fundo, refletem uma mentalidade de que a riqueza é algo externo a nós, e não, aquilo que colocamos dentro de nossas cabeças, como educação popular de qualidade.
Evidentemente, a educação nacional não é levada a sério por nossos governantes. O último Chefe de Estado no Brasil que acompanhava o dia a dia dos estudantes, assistindo aulas e sabatinando os alunos, foi D. Pedro II, no século retrasado. Nenhum presidente da república jamais fez algo semelhante.
Nos EUA, são comuns fotos e vídeos de presidentes lendo para alunos do ensino fundamental, como Obama e Bush. Este estava lendo para eles quando foi surpreendido pela notícia da destruição das Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro de 2001. Democratas e republicanos estão de pleno acordo quanto à importância dada à educação.
As doações milionárias de grandes empresários americanos a instituições de ensino e filantrópicas são uma tradição que vem desde o século XIX. Era comum doarem de 80 a 90% de suas fortunas, deixando apenas de 10 a 20% para os herdeiros. Bill Gates já confirmou a tradição. Contrariamente ao que muitos pensam, as razões não estão ligadas ao imposto de renda.
Diferentemente de nós, eles acreditam que investir em educação, em especial em conhecimento prático. Os land-grant colleges nos EUA, instituições de ensino de práticas agrícolas e de mecânica, se difundiram desde meados do século XIX, contribuindo para o brutal salto de produtividade da agricultura americana.
O Brasil, mais de um século depois, criou a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola com resultados espantosos. Nossa produtividade passou a rivalizar com a americana. No início da década de 1970, nossa produtividade por hectare era de um quarto a um quinto da americana. Hoje se equipara e até a supera. 
Por que esse brutal sucesso do conhecimento aplicado na agricultura brasileira não se disseminou por todos os setores da economia brasileira? Basicamente pela carga tributária a que estão submetidos, salvo a agricultura.
*Gastão Reis é economista e escritor
Nota: Digite Google “Dois Minutos com Gastão Reis: Humildade para Aprender”. Ou
pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=s_oAVkiL6nU&t=2s

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Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira
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