Pedro DuarteDivulgação para o on-line

Já está claro que a ausência de uma política de integração metropolitana impõe desafios quase intransponíveis ao usuário de transportes públicos do Rio e dos municípios no entorno. Recentemente, a falta de compatibilidade entre os sistemas de bilhetagem do Riocard e Jaé, sob responsabilidade do estado e da cidade do Rio respectivamente, evidenciou o quão é ineficiente essa gestão fragmentada. Mas, infelizmente, esse não é o único exemplo negativo por aqui. Basta lembrar que nenhuma estação do Metrô é inaugurada no Rio desde 2016.
A verdade é que o sistema, do jeito que está, não funciona bem. É cada um por si, e Deus por todos. Cada município da Região Metropolitana vem fazendo gestão da sua própria estrutura, ignorando necessidades de cidades vizinhas. Sem pensar no serviço de transporte como um todo, municípios e estado perdem a chance de reduzir custos e oferecer modelo mais eficiente. Atualmente, um morador de Duque de Caxias que tem emprego no Rio, por exemplo, precisa de uma solução em transportes dada pela cidade onde mora, pela localidade onde trabalha e, muitas vezes, pelo estado. Não seria melhor que a solução fosse conjunta?
Algumas experiências internacionais demonstram que a criação de uma autoridade metropolitana pode ser, sim, uma ferramenta poderosa para transformar essa situação. Em Medellín, na Colômbia, integração logística e tarifária resultou em alternativas inovadoras, como o Metrocable, um sistema de teleféricos que conecta comunidades marginalizadas ao centro urbano. Já em Lima, no Peru, a estruturação metropolitana ajudou a unificar planejamento e enfrentar desafios comuns, resultando em maior eficiência operacional.
E no Brasil? Por aqui, existem bons exemplos em curso. Em Goiânia, o Consórcio Metropolitano de Transporte viabilizou a integração tarifária entre 18 municípios, permitindo que o cidadão usasse diferentes modais com uma única passagem. Essa simples cooperação facilitou deslocamentos, reduziu custos e melhorou a experiência dos usuários.
Se o Rio adotasse abordagens semelhantes, com uma governança metropolitana, daria para implementar mudanças essenciais, tais como a expansão do Metrô e BRT e também a requalificação de todo o sistema ferroviário. Nesse contexto, também é essencial enfrentar o problema das tarifas, já que, apesar do serviço de qualidade duvidosa, elas consomem uma média de 17% do salário mínimo.

Cito ainda um exemplo simples de falta de articulação. Estou me referindo aos transtornos causados pelo encerramento do ‘Metrô de superfície’ na cidade do Rio. Embora imperfeito, esse modelo desempenhava um papel essencial para milhares de trabalhadores. Sem acordo adequado entre concessionária e município, a descontinuidade do serviço representa mais um golpe para aqueles que já enfrentam longos deslocamentos.
Não é fácil. Sabemos que a transformação do modelo exige coragem e determinação para superar rivalidades políticas e unir esforços entre municípios, governo do estado e concessionárias. Mas experiências já postas em prática em outros locais nos mostram que governança metropolitana não é um conceito abstrato. É uma necessidade urgente para resolver problemas concretos que afetam milhões de cariocas. Já é hora de avançarmos nisso!