Tainá Louriçal esteve na Decradi na manhã desta quinta-feira (24)Reprodução / Redes Sociais

Rio - Tainá Louriçal, que alegou ter sofrido racismo religioso durante sua internação no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, na Tijuca, na Zona Norte, registrou o caso, na manhã desta quinta-feira (24), na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
O crime aconteceu na última sexta-feira (18), na unidade de saúde vinculada à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Ao DIA, após o registro na Decradi por intolerância religiosa, a mulher pediu justiça.
"Espero que isso não aconteça nem comigo nem com ninguém. É uma dor que sinto muito grande com isso tudo. Já tenho a dor do corpo e agora essa tristeza. A minha expectativa é que a justiça seja feita e que eu continue com meu tratamento, cirurgia e tudo que for preciso pra vencer essa doença", comentou.
Tainá relatou que teve o fio de contas jogado fora no momento em que foi tomar banho. O item é usado como forma de proteção espiritual em religiões de matriz africana. Depois de voltar do banheiro, o fio, que ela deixou em cima da cama e ao lado do celular, não estava mais no local.
"Se fosse uma troca de lençol, o celular também não estaria. Chamei a enfermeira, que que me botou na cadeira. Perguntei pelo meu fio e ela levantou os braços como quem diz 'não sei', e saiu. Eu fiquei desesperada. A médica tentou me acalmar. A enfermeira, depois, falou que só Jesus salva, só Jesus liberta", detalhou.
A mulher, que é paciente oncológica e precisou ser internada na unidade após um mal-estar, destacou que uma outra paciente, no mesmo quarto, não passou por tal situação. "Ela também foi tomar banho, mas ninguém jogou a Bíblia dela fora. Só meus fios. Estou extremamente chateada e o hospital não me deu um retorno sobre nada. Fizeram uma crueldade comigo", relembra.
Nesta quarta-feira (23), Tainá ganhou um novo fio de contas feito por sua Ialorixá, Regina de Jagun. Nas redes sociais, ela agradeceu o apoio.
"Em meio a um dos momentos mais difíceis da minha vida, onde enfrento uma batalha contra o câncer e as dores invisíveis da intolerância religiosa, encontrei um porto seguro no meu Ilê, na minha Iyalorixá e nos meus irmãos e irmãs de santo. Quero agradecer, do fundo do meu coração, por cada palavra de apoio, cada reza feita por mim, cada axé enviado, cada gesto de cuidado. Vocês têm sido meu alicerce quando minhas forças balançam, têm me lembrado da força dos Orixás que me guiam, e do amor que a ancestralidade nos ensina a cultivar", escreveu.
De acordo com a Polícia Civil, os agentes da Decradi realizam diligências para apurar a autoria e esclarecer os fatos.
O que diz o hospital?
Questionada pela reportagem, a direção do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle informou que apura a denúncia "com a seriedade e o rigor" que o caso exige e prometeu que tomará as medidas cabíveis "conforme o resultado da apuração".
Confira a nota completa:
"O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), informa que os fatos descritos estão sendo apurados com a seriedade e o rigor que o caso exige. A paciente retornará sexta para consulta e será solicitado que abra ouvidoria com o detalhamento do ocorrido para sequência da apuração. As medidas cabíveis serão adotadas conforme o resultado da apuração.

A gestão do HUGG repudia veementemente qualquer forma de desrespeito à liberdade religiosa e reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente acolhedor, inclusivo e respeitoso para todos os pacientes, acompanhantes e profissionais.

A instituição reconhece que as manifestações de fé fazem parte do cuidado integral em saúde, sendo fundamentais para o bem-estar físico e emocional dos pacientes".