Filho do popularíssimo Benito di Paula, Rodrigo Vellozo deixa intrigados alguns fãs do pianista, já que seu trabalho está bem mais próximo da MPB formal do que do samba. "Eu tenho até haters", diz, rindo, o também cantor e pianista, que lança o novo CD, 'Cada Lugar na Sua Coisa', unindo músicas próprias a regravações de Luiz Melodia, Sérgio Sampaio, Mauricio Pereira e Rômulo Fróes.
"Existe um estranhamento, embora eu e meu pai façamos shows juntos. Recebi muita crítica negativa. Depois, compreendi que as pessoas esperam que eu me pareça com meu pai, e eu sou, de certa forma, um herdeiro da obra dele", conta Rodrigo, que quando criança, ficava com ciúme de Benito quando apareciam fãs querendo tirar fotos. "Ele me explicava que isso fazia parte do trabalho dele. Ele tem um prazer enorme em falar com as pessoas. Hoje, com essa coisa do celular, as pessoas se aproximam e eu fico querendo proteger meu pai: 'Gente, vai devagar, ele tá mais velho'", brinca Rodrigo, que em 2013 homenageou o pai com o disco 'Como é Bonito, Benito', com repertório paterno.
Família e carreira
Rodrigo não tem apenas Benito (cujo nome verdadeiro é Uday Vellozo) como músico na família. Tios e primos também seguem a carreira. Não teve como escapar. "Na primeira infância, eu já andava com uma vitrola debaixo do braço e tocava piano. Era natural, nem achava que viraria trabalho", recorda o músico, nascido em São Paulo e criado no Rio de Janeiro (e hoje de volta a SP, onde vive com o pai). "Mas eu resisti, cheguei a estudar Engenharia na UFRJ! Tinha uma questão com a minha voz, que é aguda demais".
E antes da música, veio o teatro, já que os primeiros trabalhos profissionais que ele fez no palco foram como ator. "Trabalhei com o Oswaldo Montenegro. Muita gente conhecida fez peça comigo: Mariana Rios, Emilio Dantas, Thais Alvarenga", conta. Rodrigo demorou para escutar o chamado da música, profissionalmente falando. Mas quando caiu dentro, foi estudar de verdade: cursou piano erudito no Conservatório Brasileiro de Música (Rio) e composição popular na Berklee School of Music (Boston).
"De vez em quando, nessa época, alguém me chamava para uma peça e eu: 'Cara, eu não sou ator!'", brinca Rodrigo. Hoje, se desdobra para conciliar as duas carreiras. "Fica uma maluquice de horário. Já fiz peça dia de semana e show no fim de semana, peça de tarde e show de noite em outra cidade... Tem que pagar os boletos!", brinca.
Tio compositor
Em 'Cada Lugar na Sua Coisa', Rodrigo resgatou uma música de seu tio, Jota Vellozo, autor de canções gravadas por Benito, como 'Ah, Como Eu Amei'. 'Arrego', parceria com Andó, foi gravada por Elizeth Cardoso mas não chegou a fazer sucesso. "Quando eu ia visitá-lo, ele sempre mostrava coisas antigas que ele tinha gravado e me pedia para cantar. Quando ele faleceu, vi que ele gravava muita coisa em fita K7. Achei até uma fita em que aparecia escrito 'o melhor cantor do mundo', e era eu cantando no quarto dele!", recorda. "Quando eu e Marcus Preto (diretor artístico do álbum) montamos o repertório, incluímos essa música, que estava esquecida".
Música para o pai
'You', última música do disco, é uma parceria de Rodrigo com seu pai, em inglês. A música foi feita na época em que Benito e sua mulher se separaram, quando Rodrigo ainda era criança. "Eu estudava no Rio e vinha passar férias em São Paulo com ele. A gente ficava na sala de casa tocando, cantando. Numa dessas, ele fez a música e me pediu para fazer uma letra. Era um blues e fiz a letra em inglês, então ele nem entendia o que eu estava cantando", brinca. "E o 'You' era ele, fiz a música para ele, sobre o relacionamento que eu tinha com meu pai".
Xande
'Alívio', outra música do disco novo, é parceria com um grande fã de Benito, Xande de Pilares. "Ele é uma pessoa muito próxima da gente há muito tempo. Ele é dessa tradição do meu pai, da linhagem do Arlindo Cruz, do Almir Guineto. A capacidade dele de versar é enorme, ele faz isso com um requinte... E tem um conhecimento enciclopédico não só de samba, mas de música em geral", alegra-se.
