Mussum ganhou documentário, 'Mussum - Um Filme do Cacildis' - FOTOS Divulgação
Mussum ganhou documentário, 'Mussum - Um Filme do Cacildis'FOTOS Divulgação
Por RICARDO SCHOTT

Com estreia agendada para o dia 4 de abril, o documentário 'Mussum - Um filme do Cacildis!', da diretora Susanna Lira, mostra o lado polivalente do trapalhão. Antonio Carlos Bernardes Gomes (1941-1994), seu nome verdadeiro, era o que se costuma chamar de artista "completo", do tipo que dança, canta, representa e ainda fazia rir. Essa diversidade, aliada ao vocabulário próprio do personagem ("cacildis!", "forévis!"), garantiu a eternidade ao humorista - hoje, uma estrela do YouTube, graças aos antigos vídeos dos Trapalhões.

"Muita gente mal sabia que Mussum tinha tocado num grupo de samba (Os Originais do Samba), que foi um grupo que estabeleceu a música brasileira. Fizeram shows fora do Brasil, foram importantes até na carreira da Elis Regina. Era importante trazer coisas que o público não sabia. Mussum é presente em nossa cultura por causa dos memes, das frases dele, e tem uma geração que reproduz tudo que ele falava, mas nunca o viu no ar", conta a cineasta.

Nota boa

A vida íntima de Mussum também é fonte de novidades para os fãs. O humorista teve infância pobre, serviu na Aeronáutica, envolveu-se com samba após uma ida à Mangueira levado por um amigo (o que o levou a tocar reco-reco e a ingressar nos Originais). O cidadão Antonio Carlos levava uma vida bem diferente do personagem Mussum. Bebia moderadamente (enquanto Mussum adorava um "mé", expressão pela qual chamava qualquer tipo de bebida alcoólica), era exigente ao extremo com as notas dos filhos na escola e prezava pelo profissionalismo em todos os momentos.

"Ele tinha muito talento, muita disciplina. Quando a pessoa faz só um personagem, ela passa a se confundir com ele. Quis trazer esse lado sério, do pai de família, para o filme", relata a diretora. Suzanna crê que outra coisa que ajudou Mussum a ganhar um legado no YouTube foi a fácil identificação com o personagem. "Ele representa a gente, o povo brasileiro, o cara que mora no morro da Mangueira, que se ferra em subempregos. Ele se diverte e encara as dificuldades da vida".

Racismo

'Mussum - Um Filme do Cacildis' mergulha em imagens de arquivo dos Trapalhões. Algumas delas com piadas racistas que Renato Aragão (Didi), Dedé Santana e Mauro Gonçalves (Zacarias) faziam envolvendo Mussum. Se no programa, o personagem respondia todas as piadas, no dia a dia, o ator era ainda mais incisivo. Augusto, um dos quatro filhos do trapalhão, lembra no filme que, certa vez, viu o pai sair no tapa com um desconhecido que o ofendera na rua.

"Na vida pessoal ele não admitia esse tipo de piada de forma alguma. O cineasta Joel Zito Araújo até fala no filme que na TV sempre tem espaço para um negro como Mussum, mas para o Antonio Carlos é diferente", afirma a cineasta. "Esse tipo de piada, hoje em dia, jamais poderia ser feita. Diferentemente de muitas pessoas, acho que o humor tem limites e não deve ofender ninguém. Hoje, as pessoas se sentem mais à vontade para serem racistas, o que me preocupa bastante".

Por sinal, 'Um Filme do Cacildis' é narrado por Lázaro Ramos. O ator negro fez mais do que apenas narrar o filme: deu consultoria de roteiro e analisava todos os textos. "Eu não o queria apenas como narrador: o queria como um homem negro que ocupa espaços como artista. E Mussum foi referência para Lázaro. Olhando o filme do ponto de vista do racismo, o Lázaro foi muito generoso com a gente dando o aval do texto final", afirma a cineasta, que também teve Pretinho da Serrinha compondo os temas da trilha sonora. "É a primeira vez que ele faz trilha para filme", alegra-se.

Lançamento

'Mussum - Um Filme do Cacildis' chega ao público brasileiro por intermédio do programa 'Projeta às 7', uma iniciativa da Cinemark que oferece sessões de segunda a sexta, às 19h, em vinte salas da cadeia de cinema, espalhadas em 19 cidades. O ingresso sai a R$ 12. O projeto trabalha com cinemas de shopping. "Fizemos questão de que fosse assim, para pegarmos um público que não costuma assistir a documentários. Conseguimos fazer um filme com humor mas que toca em assuntos contundentes com bastante leveza", explica Susanna Lira

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