Elenco da peça 'Menines': discussão sobre atribuições de gênero masculino e feminino - Renato Mangolin
Elenco da peça 'Menines': discussão sobre atribuições de gênero masculino e femininoRenato Mangolin
Por BRUNNA CONDINI

Propondo o debate e a reflexão, com uma boa dose de humor, da divisão instituída no mundo entre feminino e masculino, o novo espetáculo de Márcia Zanelatto, 'Menines', fica em cartaz até 14 de abril, no Teatro Firjan Sesi, no Centro do Rio. "Menines são as pessoas que não se sentem nem masculinas, nem femininas. Ou que se sentem tão masculinas quanto femininas. São pessoas que têm como característica a fluidez de gênero. E isso não é complicado de entender, se você realmente quiser entender e não ficar preso a preconceitos", explica a dramaturga.

Ela observa ainda que, durante muito tempo, existia também um costume de 'atribuições de gênero'. "Durante alguns séculos, as mulheres tiveram a tarefa de cuidar dos filhos e os homens, de ganhar o pão. Mas o mundo não funciona mais desse jeito. Um homem pode perfeitamente cuidar da casa e dos filhos, assim como uma mulher, ganhar o pão. O temperamento, a formação, as habilidades dos sujeitos definem mais suas atribuições do que o gênero. O resto é discurso", analisa. "As pessoas 'menines' só querem estar em paz com suas escolhas de atribuições e performances, sem ter que dar satisfações a um mundo que, no final das contas, já não consegue mais funcionar na divisão binária entre masculinos e femininos. Fazê-las sofrer por isso é maldade e hipocrisia, convenhamos".

HUMOR E AMOR

Em cena, através de pequenas histórias, um jovem elenco, acompanhado da veterana Simone Mazzer, explora os afetos e tabus humanos, num mundo balizado pelo binarismo: entre duas pessoas apaixonadas, como em 'Romiet e Julieu'; entre amigos como em 'Casal Grávido'; entre pais e filhos como em 'No armário' e 'Em família', diante de autoridades como em 'Explique-se'. E finalmente com 'DRAG', faz uma homenagem a Shakespeare que, segundo alguns estudiosos, teria inventado esta palavra ao usá-la como sigla para a rubrica 'Dressed as a girl' (vestido como uma garota).

"É uma peça engraçada sem deixar de ser lírica. A luz dessa peça é sua poesia, é sua esperança nas relações humanas. É um convite à alegria, a aceitar as pessoas como elas são, a abrir mão de fazê-las sofrerem. Elas só querem ser quem são", diz Márcia, que também divide a direção com Cesar Augusto, da Cia dos Atores. "O espetáculo também é uma forma de estar com os jovens e ouvi-los com ouvidos limpos, sem ofensas, sem hipocrisia e com muita alegria. Nós merecemos ser felizes juntos com nossos filhos, sobrinhos, alunos e netos. Podemos dar-lhes mais amor do que temos dado", completa.

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