Elymar Santos retorna ao Teatro João Caetano, trinta anos depois de show repleto de histórias - o cantor se apresenta na Praça Tiradentes, após sair do teatro, em 1989 - Acervo Elymar Santos
Elymar Santos retorna ao Teatro João Caetano, trinta anos depois de show repleto de histórias - o cantor se apresenta na Praça Tiradentes, após sair do teatro, em 1989Acervo Elymar Santos
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Elymar Santos sempre foi popular. Mas em fevereiro de 1989, a popularidade virou via de mão única para o cantor: contratado pela EMI (hoje Universal), gravadora por onde lançaria seus principais sucessos, iniciava uma temporada no Teatro João Caetano que marcou época, com ingressos disputados a tapa pelos fãs. O cantor e compositor recorda essa era - e comemora os 30 anos do sucesso da temporada - com shows hoje e amanhã, às 18h45, no mesmo João Caetano.

Elymar Santos retorna ao Teatro João Caetano, trinta anos depois de show repleto de histórias - Divulgação/Mariza Leão

"O engraçado é que meu empresário da época havia vendido meu show para o Projeto Seis e Meia (criado pelo produtor Albino Pinheiro para o João Caetano) e eles achavam que não ia dar certo. Toparam, fiz uma semana, fez sucesso e acabei fazendo sete semanas!", diverte-se o cantor. Numa das noites, a produção resolveu colocar um telão na Praça Tiradentes, para agradar a dez mil fãs que não haviam conseguido comprar o ingresso e estavam nas cercanias. Elymar não teve dúvidas: logo que acabou o show, foi cantar na rua, ao ar livre, para os admiradores que ficaram ao relento. "Fizeram uma foto, que foi parar na contracapa da revista 'Amiga'. Tinha fãs nas árvores!", espanta-se.

"Fiz muitas temporadas no Seis e Meia, mas essa marcou. Foi meu primeiro contrato com uma multinacional, e eu vinha de uma época em que nenhuma gravadora me queria. Uma semana antes desse show, recebi uns quatro telefonemas de gravadoras querendo conversar. Não entendi nada", conta Elymar. "Depois fiquei sabendo que as gravadoras fizeram uma pesquisa nas lojas de discos, e meu nome era um dos mais procurados nas lojas".

Na época em que aconteceu o tal show do telão, foi criada uma verdadeira operação de guerra para o show de Elymar, que incluía a interdição do trânsito nas imediações da Praça Tiradentes e a mudança do horário do Seis e Meia, excepcionalmente, de 18h30 para 17h, para que houvesse show extra. "Os fãs iam para a fila às seis da manhã para comprar ingressos!", recorda.

Elizeth

Numa tarde, pouco antes de ir para o João Caetano, Elymar deu uma passadinha rápida na TVE (hoje TV Brasil) para participar do talk show 'Sem Censura'. Acabado o programa, correu para o teatro. Estava se arrumando no camarim quando foi procurado por um segurança. "Ele me disse: 'Tem uma pessoa querendo falar com você, que acho que você vai gostar de receber'. Eu estava pelado, abri a porta de toalha. Era a Elizeth Cardoso!'", recorda.

"Elizeth me disse: 'Desculpa incomodar, mas estava em casa assistindo ao 'Sem Censura'. Tentei ligar para o programa mas não consegui. Precisava te falar uma coisa: não mude nunca. É de artistas como você que nós, o público, precisamos!'", conta Elymar que, impactado, conseguiu reunir forças para convidar Elizeth para o show. "Ela disse que estava muito doente, que ia para casa, mas a convenci a ficar. Cantei a música de abertura do show, depois contei a história do camarim para o público, pedi aplausos para Elizeth e disse que a partir daquele momento, queria que ela fosse minha madrinha", recorda.

Elymar emendou a homenagem com dois hits do repertório de Elizeth, 'Naquela Mesa' e 'Barracão de Zinco'. Percebeu um burburinho na plateia, mas só foi perceber o que acontecia pouco depois, quando viu a própria madrinha juntando-se a ele no palco para cantar.

"Ela entrou por trás do palco, eu nem tinha visto. Depois Elizeth pôs a mão na minha testa e disse: 'Eu te batizo em nome da música popular brasileira'. Não tenho uma foto sequer disso, foi só para quem estava lá!", alegra-se. "E foi a última vez que Elizeth subiu no palco. Soube depois que ela tinha pedido a um amigo para levá-la para fazer duas coisas: tomar um chope num bar da Rua da Carioca e ver seu maior ídolo, o Elymar Santos". A cantora morreu aos 69 anos, em 1990.

Além de Elizeth. quem se aproximou de Elymar por causa da temporada foi Chico Anysio, que depois dirigiria shows seus. "Ele deu um toque no pessoal do 'Pasquim' para fazer uma matéria comigo. O repórter foi lá e a ideia dele era fazer um quarto de página. Acabou que deu seis páginas e a capa!", recorda Elymar.

E o show?

No repertório do novo show do João Caetano, a temporada de 1989 será lembrada com menções a amigos como Chico Anysio, Elizeth e outro padrinho seu, Cauby Peixoto. "Não tô mal de padrinho, não, hein?", brinca o cantor. "Vou cantar músicas minhas, músicas de um DVD meu que não foi lançado ainda (comemorativo dos 30 anos de seu show no Canecão, em que alugou a casa de shows) e muitas músicas de colegas. Também vou fazer uma homenagem aos 60 anos da Imperatriz Leopoldinense (escola de samba de Elymar). Vamos receber componentes da escola no fim do show".

Elymar Santos retorna ao Teatro João Caetano, trinta anos depois de show repleto de histórias - Divulgação/Mariza Leão

Saúde

Além da carreira musical, Elymar acaba de comprar um imóvel no bairro em que foi criado, Ramos, e pretende iniciar um projeto social lá. O tal DVD comemorativo do show no Canecão - que foi registrado no Vivo Rio, com convidados como Fafá de Belém e Alexandre Pires, ele pretende lançar assim que possível, e deverá sair em dois DVDs e dois CDs. Elymar teve problemas pessoais e precisou cuidar bastante da saúde nos últimos anos, o que fez com que adiasse alguns projetos. "Tive problemas na garganta, na perna, cheguei a dar shows sentado. Tive sintomas de depressão e cheguei a pensar em parar de cantar. Foi uma fase complicada e ainda é. Mas agora retomei tudo!", avisa.

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