Carol Duarte - Julia Rodrigues/Divulgação
Carol DuarteJulia Rodrigues/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - De homem trans ('A Força do Querer', de 2017) para uma prostituta gaga — que há algum tempo não é mais prostituta e muito menos gaga — em 'O Sétimo Guardião', ambas novelas da Globo. Carol Duarte, de 25 anos, adora personagens complexos. Mas não é só isso. Para ela, qualquer papel, por mais simples que seja, tem muitas profundezas e suas contradições. "É uma armadilha para um ator olhar para um personagem que inicialmente parece raso. Se é superficial, é assim por algum motivo e isso já me interessa", defende a intérprete da Stefânia.

GAGUEIRA

Na novela de Aguinaldo Silva, a ex-menina de Ondina (Ana Beatriz Nogueira) teve a gagueira curada e abandou o ofício no bordel. "No começo, eu gaguejava muito. Estava demais (risos). O ritmo da cena perdia porque até eu falar já foi o comercial, já está no ar o filme depois da novela", exagera, aos risos. "Tanto que, depois, eu pedia direto pro diretor pra voltar com a gagueira, mas a história tinha que seguir um outro rumo", diz a intérprete, referindo-se ao romance da personagem com o funcionário público João Inácio (Paulo Vilhena).

Além de buscar contradições de seus personagens, Carol também procura as "dores" delas. E com a ex-gaga não poderia ser diferente. "A Stefânia não mostra (as dores). Não fica tão exposto. Ela de uma maneira geral está sorrindo. Quando ela diz que não quer falar sobre a família dela, ela fala sorrindo. É uma personagem que tem um 'poço', que se a gente desce muito, encontramos muita coisa do passado e muitas dores", arrisca.

FILHA PERDIDA?

Acha que ela pode ser a tal filha perdida de Ondina? "Acho que não. Até porque elas já têm uma relação quase de mãe e filha. Mas, pensando bem, até pode ser. Nunca tinha pensado nisso. Agora você ventilando essa ideia, é possível, afinal, novela é uma obra aberta", comenta.

Stefânia (Carol Duarte) e João Inácio (Paulo Vilhena) - Reprodução

RETA FINAL

O fato é que, com a aproximação da reta final do folhetim, Carol não imagina um desfecho melhor do que o que Stefânia já vive: casada com o amor da vida dela. Mas como tudo pode melhorar. "Pode ter um embate legal entre ela e Mirtes (Elizabeth Savala). Uma personagem conservadora e preconceituosa e a Stefânia pode vir a se vingar", diverte-se ela, que ganhou destaque na TV como o Ivan/Ivana de 'A Força do Querer'.

"Foram muitos testes e até fui eliminada no meio, e depois voltei. Meu maior receio era não conseguir que a personagem fosse adiante do jeito que precisava. Isso me deu receio, chegava em casa e pensava sobre isso. Mas foram tantos fatores para dar certo que aceitei", lembra.

ÍNTIMO E PESSOAL

Carol conta que tudo na novela foi trabalhoso e prazeroso, em igual proporção. E que valeu a pena. Apesar de que suas cenas nunca eram simples. "Teve gravidez, espancamento, antes da transição, transição, conflito com a mãe. E viver isso por muitos meses é exaustivo. Mas sempre pensei que era uma personagem que tinha que ser muito bem feita em cena, e muito bem respondida fora dela. Ainda mais no Brasil, que é o país que mais mata LGBT, e depois dessa reviravolta política que a gente teve", afirma ela, que é homossexual assumida e vive um relacionamento com a fotógrafa Aline Klein.

"Estava falando sobre uma questão LGBT na novela para além de mim. Não dava e não queria que fosse escondido. Eu sou essa atriz, que tem isso tudo, que é paulistana, que é branca, magra, que é sapatão. Tudo isso me constitui como atriz", frisa.

Carol Duarte com a parceira, a fotógrafa Aline Klein - Reprodução

FUTURO

Quando o assunto é o futuro, Carol está cheia de planos. Este ano, estreia o filme 'A Vida Invisível', de Karim Aïnouz, baseado no livro 'A Vida Invisível de Eurídice Gusmão', de Martha Batalha. A história trata da relação entre as irmãs Guida (Julia Stockler) e Eurídice (Carol) no Rio de Janeiro de 1950. Tem também o espetáculo 'As Siamesas — Talvez Eu Desmaie no Front', que volta em cartaz em São Paulo, de 19 a 28 de julho, de sexta a domingo, no Teatro Contêiner Mungunzá, no bairro Santa Ifigênia. E não para por aí. "Possivelmente, vou fazer uma série na Globo, ainda não sei se posso falar, mas vai rolar. Vamos produzir coisas. Não dá pra parar", destaca, animada.

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