Ferrugem - Divulgação
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Por iG
São Paulo - Sucesso em todo o Brasil, o pagode sempre foi um dos grandes queridinhos do público e ganhou força nos anos 90 e 2000 com a popularização de nomes como Belo, Os Travessos, Molejo, Exaltasamba e outros, sempre caracterizados por artistas jovens e público na mesma faixa etária.
Atualmente, o pagode continua tendo representatividade, mas segundo o cantor Netinho de Paula não há tanta força entre os jovens, pois o espaço foi ocupado pelo funk. "Os temas de hoje já são coisas maduras, então não estamos cantando para os jovens", explica o ex-Negritude Júnior.

A falta de jovens cantores fica nítida com dados da Deezer levantados a pedido da reportagem. De acordo com o streaming em 2019, os pagodeiros mais ouvidos são Ferrugem, Dilsinho, Turma do Pagode, Thiaguinho, Sorriso Maroto, Rodriguinho, Péricles, Atitude 67, Mumuzinho e Raça Negra . Com exceção dos dois primeiros nomes destacados, os demais ultrapassam 31 anos de idade.

O cantor Ferrugem, por sua vez, não vê isto como um problema e garante: "A idade no documento não importa. O que vale é a energia nos palcos e como nos conectamos com nossos fãs através das nossas músicas".

O produtor musical Pezinho, responsável por parte do sucesso de artistas como Reinaldo, Sensação e Exaltasamba, destaca que há sim grupos com faixa etária menor, como antes, porém estão ausentes dos holofotes das grandes mídias, pois se tornou algo caro divulgar um artista no Brasil.

"As vezes, esses jovens artistas estão desanimados, retraídos, porque eles têm medo desse mercado que muitas vezes é injusto. As pessoas colocam muito dinheiro na frente e acaba ficando caro para quem tem esses grupos. Quando fala que tem uma grana para investir, que quer fazer alguma coisa, quem tem o caminho para passar para essa molecada, fala de dinheiro, não fala de carreira, então é complicado, por isso que diminuiu muita gente", enfatiza o produtor.

Público alvo envelheceu como os cantores
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Em relação a essa mudança etária dos cantores atuais, o Carioca Club, em São Paulo, tem adotado estratégia para continuar agradando diferentes públicos. "Sempre que possível tentamos mesclar pra agradar todas as faixas etárias. Grande prova é que no próximo dia 19 de julho teremos o show do Dilsinho e colocamos pra abertura o grupo 100% que fez sucesso nos anos 90, assim conseguimos atingir todas as faixas", explica Antônio Carlos, também conhecido como Geleia, diretor artístico da casa de show.

Levando em considerando a nossa maior playlist deste estilo de música na Deezer, "Pagodelícia", neste ano, a plataforma aponta que quase 50% dos usuários ouvintes deste gênero têm entre 26 e 35 anos.

Em busca de se consagrar entre as mais variadas faixas de idade, Ferrugem declara que busca trazer em suas canções letras que possam "servir tanto para uma pessoa de 20 e poucos anos, quanto para uma de 30 ou 40". "Meus shows estão sempre lotados e vejo pessoas de várias faixas etárias. Como faço shows em várias cidades pelo Brasil, cada lugar que vou é diferente", defende o cantor.

Popularidade e ameaça do funk
Com a alta das redes sociais e plataformas de streaming, a autonomia de quais músicas escutar predomina e apesar da quantidade de títulos disponíveis e da variação de estilos musicais, o pagode tem bons resultados de interesse, mas não encontra-se em seu melhor momento.

"Comparando 2018 com o primeiro semestre de 2019, houve uma pequena queda. Em 2018 o Samba e Pagode representou 27,86% dos gêneros mais consumidos na Deezer, enquanto em 2019, até o momento, representa 20,5%. Isso se deve principalmente pelo fato de grandes lançamentos terem acontecido no ano passado", informa Bruno Vieira, diretor-geral da Deezer no Brasil.

Geleia destaca que a maior popularidade atual jovem fica por conta do funk: "Os jovens migraram para o funk, repare que o funk teve uma juventude muito bem representada, então aquele rapaz que antes pensava em ter um grupo de pagode passou a investir no funk devido a grande exposição que tivemos". 
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O grupo Raça Negra descarta o funk como ameaça e diz acreditar ter espaço para todos os estilos e gostos musicais. Já o cantor Ferrugem faz questão de destacar seu ponto de vista: "Eu curto funk também, por exemplo. O mais legal é que hoje nós conseguimos transitar mais entre vários meios. A música se complementa".

Para Pezinho, a mescla de hits nem sempre é a melhor opção: "Os pagodeiros seguem tendência e tentam puxar para outras vertentes que as vezes dão certo e outras vezes dão errado. A renovação é inevitável, ela tem que haver. Passando o tempo as pessoas querem aperfeiçoar, mas o samba tem uma fórmula que não pode mexer na estrutura, mas infelizmente algumas pessoas querem mudar radicalmente".

O futuro do pagode
O produtor musical deixa claro que estar inserido no streaming não é questão de sucesso e a inovação em busca de autenticidade é de grande importância. "Hoje estar em todas as plataformas não garante que vai ser conhecido, mas hoje está muito mais fácil do que antes, porque é acessível a todo mundo. Quem precisa mudar é o grupo, é o produto que quer ser vendido, tem que ter um atrativo e, infelizmente, tem gente que não consegue", ressalta Pezinho.

Em meio a todo este cenário, Ferrugem destaca Matheusinho como o futuro do hit. "Ele está vindo com tudo e tenho certeza que vai conquistar o Brasil todo. Ele canta muito bem", garante o cantor.

Pezinho é otimista com relação ao que está por vir no cenário do pagode e acredita em um futuro promissor e de ascensão. "Vejo um futuro brilhante. Existe muita gente boa, talentosa e diferenciada, escondida. O que falta são reais oportunidades. Acredito muito que estamos ingressando para uma nova era", conclui o produtor.



*Reportagem de Ingrid Oliveira, do IG