Renato & Seus Blue Caps - Divulgação/Thiago Tavares
Renato & Seus Blue CapsDivulgação/Thiago Tavares
Por RICARDO SCHOTT
Rio - Pode acreditar: nos anos 1950 havia concurso de mímica no rádio. Jair de Taumaturgo, diretor da Rádio Mayrink Veiga, cuidava do programa 'Hoje É Dia De Rock', que depois passou a ser apresentado por Isaac Zaltman. E um dos momentos mais esperados era quando a atração, assistida ao vivo por plateia, recebia jovens músicos que faziam mímica de grandes astros do rock. Quem ouvia no rádio, tinha só a animaçãodos espectadores como guia para entender o que estava acontecendo. Foi num desses concursos que surgiu Renato & Seus Blue Caps, veteraníssima banda de rock que comemora 60 anos amanhã, com um show no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea.
"Na época, todo jovem queria ser um cantor de rock!", exclama Renato Barros, guitarrista e vocalista do grupo. Em 1959, quando tudo aconteceu, a banda se chamava Os Bacaninhas do Rock da Piedade, e trazia o bairro de origem no nome. A primeira vez no concurso de mímica não deu muito certo.
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"A gente achava que era só ficar lá mexendo com a boca ao som da música. E não era, a gente tinha que fazer coreografia no palco, uma coisa parecida com os Temptations. Fomos vaiados. Só que depois a gente resolveu voltar lá e tocar ao vivo, que era o que a gente já fazia. Tocamos 'Be Bop a Lula', do Gene Vincent, mas com vocais parecidos com os dos Everly Brothers. Todo mundo gostou. O Jair é que ficou desconfiado: 'Pô, mas depois daquela vaia toda, vocês querem tocar ao vivo?'"
As seis décadas de carreira transformam Renato & Seus Blue Caps (cujo nome, por sinal, foi tirado da banda que acompanhava o autor de 'Be Bop a Lula') naquela que talvez seja a banda de rock mais antiga do mundo a funcionar de modo ininterrupto. Os Rolling Stones, que nunca encerraram atividade, surgiram em 1962. Renato e seu grupo, de 1959 para cá, lançaram vários hits, fizeram turnês extensas e gravaram vários álbuns. Após 1964, convidados por um amigo que despontava no mercado pop - ninguém menos que Roberto Carlos - foram contratados pela CBS, hoje Sony. Lá, viveram sua fase de maior sucesso.
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"De bandas muito antigas, tem o Demônios da Garoa, que existe há 70 anos, mas é grupo de samba. Ficou só a gente", brinca Renato. "Já devíamos estar até no Guinness Book há muito tempo. Um fã de Porto Alegre levantou essa história, mas acabamos não levando adiante. Teríamos que pegar depoimento de várias pessoas. Algumas delas já morreram há mais de 30 anos. Acabamos deixando pra lá".
Versões
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Renato & Seus Blue Caps marcaram época por causa das versões que gravaram de sucessos dos Beatles, como 'Menina Linda' (de 'I Should Have Known Better') e 'Feche Os Olhos' (de 'All My Loving'). Numa época em que discos estrangeiros não saíam com tanta regularidade no Brasil, Renato tinha um amigo que morava nos arredores de Londres e abastecia sua discoteca e seu repertório.
"O disco saía lá e já recebíamos aqui. A burocracia era tão grande que algumas versões nossas saíram no Brasil antes dos originais dos Beatles", conta Renato, garantindo que 'Menina Linda' vendeu mais discos no país do que 'I Should...', o original criado por John Lennon & Paul McCartney.
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"Muita gente achava até que a música era nossa. Nem todo o mundo sabia inglês, daí tinha quem preferisse ouvir a versão em português. Podíamos ter gravado em inglês, mas aí a gente ia fazer o quê? Concorrer com os Beatles? Não dava, né?", completa o músico, que após várias mudanças de formação, hoje divide a banda com Cid Chaves (sax), Darci Velasco (teclados), Bruno Sanson (baixo) e Gelsinho Morais Jr (bateria). E garante que a idade (75 anos) não lhe tirou o entusiasmo com a estrada. "O tempo vai passando, o organismo não é mais o mesmo, mas minha saúde está muito boa, o que ajuda bastante", conta.